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EXCLUSIVO: MP diz que Queiroz preparava plano de fuga para toda a família, com ajuda do miliciano Adriano da Nóbrega

18.06.20 20:27

No pedido de prisão de Fabrício de Queiroz, os promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro afirmam que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro tinha “um plano de fuga organizado para toda a família” e “contaria com a atuação do então foragido Adriano Magalhães da Costa Nóbrega”.

O ex-capitão da Polícia Militar Adriano da Nóbrega é o miliciano que estava foragido e foi morto pela polícia durante um cerco na Bahia, em fevereiro. A ex-mulher e a mãe dele trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro, o filho 02 do presidente da República, e também são investigadas no esquema de rachid que deu origem à Operação Anjo, deflagrada nesta quinta-feira, 18.
Crusoé revelou nesta manhã que o ex-advogado de Adriano da Nóbrega assumiu a defesa de Fabrício Queiroz na última semana.

Na peça enviada à Justiça, à qual tivemos acesso com exclusividade, os promotores mencionam um possível envolvimento de Queiroz com milicianos do Itanhangá, na região da Barra da Tijuca, no Rio, para formatar um plano de fuga para toda a sua família. Esse plano, afirmam, contaria com a participação de Capitão Adriano, o miliciano morto há quatro meses.

Diz o Ministério Público no pedido que levou à ordem de prisão de Fabrício Queiroz: “Conforme será demonstrado ao longo da presente peça, a análise do material apreendido demonstrou que os ora requeridos embaraçaram o regular andamento da investigação, com dinâmica estruturada, que envolveu atos de adulteração de provas, informações falsas nos autos, sonegação de endereços e paradeiros de investigados, além de possível envolvimento de FABRÍCIO QUEIROZ com milicianos do Itanhangá e um plano de fuga organizado para toda a família do operador financeiro que contaria com a atuação do então foragido ADRIANO MAGALHÃES DA COSTA NÓBREGA”.

Segundo o MP do Rio, as tratativas para o plano de fuga contaram com a participação de Luís Gustavo Botto Maia, advogado de Flávio Bolsonaro que, pouco antes, teria conversado com Frederick Wassef, também defensor do filho do presidente e dono da casa onde Queiroz foi encontrado nesta quinta-feira pelos investigadores.

Os promotores esmiúçam os indícios que os levaram a suspeitar do plano. Eles se baseiam em mensagens descobertas em aparelhos de telefone celular apreendidos durante a investigação. “Amiga o que vc acha de vir aqui amanhã? Pessoalmente terça feira a gente resolve tudo. Vc não achas?”, escreveu Raimunda Magalhães, mãe de Adriano da Nóbrega, à mulher de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, no dia 30 de novembro de 2019.

Márcia encaminhou as mensagens a Queiroz, informando que iria ao encontro da mãe e da mulher de Adriano na cidade de Astolfo Dutra, em Minas Gerais. A ideia era que, em seguida, a mulher de Adriano levasse pessoalmente a ele uma misteriosa “proposta”, ou um “recado”. “A esposa do amigo vai estar com a mãe dele terça feira, aí ela vai falar com o amigo sobre o recado. Depois que ela falar com o amigo ela vai entrar em contato comigo”, escreveu Márcia a Queiroz naquele mesmo 30 de novembro.

Já no dia seguinte à mensagem, 1º de dezembro, a mulher de Queiroz chega à cidade mineira, localizada a pouco mais de 100 quilômetros de Juiz de Fora, em uma região não muito distante da divisa com o Rio, para encontrar a mãe e a mulher de Adriano. De lá, ela manda uma foto para Queiroz, que demonstra preocupação em não deixar rastros do encontro. Ele pede: “Apaga sua localização”.

Em 2 de dezembro, um novo diálogo entre Queiroz e a mulher traz para a trama Luís Gustavo Botto Maia, o advogado de Flávio Bolsonaro. Nessa parte da narrativa, os promotores levantam a suspeita de que estava em curso uma grande concertação – com participação de “Anjo”, o apelido que seria de Wassef, o advogado da família presidencial – para que o tal plano se concretizasse.
Botto Maia tinha acabado de se reunir com o próprio Queiroz e com o “Anjo” em Atibaia e seguido, logo depois, para o encontro em Astolfo Dutra. “Anjo já foi?”, pergunta a mulher de Queiroz, na madrugada de 2 de dezembro. “Já”, responde o ex-assessor.

Embora estivesse marcada para o dia 3, a reunião na pequena cidade de Minas só ocorreu na quarta-feira, 4, porque a mulher de Adriano da Nóbrega teve um “imprevisto”. Feita a reunião, a mulher de Queiroz voltou para o Rio e, dias depois, em 13 de dezembro, voltou a encontrar a mãe do miliciano.

Nessa nova conversa, segundo o MP, Raimunda já estaria portando a resposta sobre a posição do miliciano em relação à tal proposta – provavelmente o plano de fuga, de acordo com o relato dos investigadores. Era um complexo leva-e-traz, com a participação das mulheres ligadas tanto a Queiroz quanto a Adriano, a dupla que se esgueirava para não cair no radar da polícia.

Nesse vai-e-vem, a mulher de Queiroz viajaria em seguida para São Paulo para comunicá-lo pessoalmente da “resposta”. A viagem estava marcada para o dia 18 de dezembro. Só que houve um empecilho: naquela mesma data, ela foi alvo de um mandado de busca e apreensão na mesma investigação na qual era, ao menos até esta quinta-feira, considerada foragida.

O MP não explica por que o tal plano de fuga não teria sido levado adiante. Também não ficam claros os detalhes dos recados que transitaram entre Queiroz e Adriano. Os cuidados de ambos para não se expor, ao que tudo indica, funcionaram. Foi graças àquela ação de busca e apreensão realizada em meados de dezembro que os investigadores conseguiram ter acesso às trocas de mensagens.
“Restou evidenciado nos autos o risco real de fuga da família do operador financeiro da organização criminosa”, dizem eles na peça enviada ao juiz Flávio Itabaiana, que ordenou a prisão do casal Queiroz.

Os promotores afirmam, textualmente, que “Anjo”, o apelido que depois se descobriu ser o de Wassef, foi o responsável por articular o plano para manter a família de Fabrício Queiroz escondida. “Fabrício de Queiroz e sua esposa Marcia Aguiar passaram a adotar uma complexa rotina de ocultação de seu paradeiro, articulada por alguém identificado como ‘Anjo’, que propôs ocultar toda a família do operador financeiro em São Paulo”, diz o texto. Procurado, Wassef não respondeu às tentativas de contato de Crusoé.

Leia a reportagem completa em nossa edição semanal.

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