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Djamila Ribeiro e a apropriação do feminismo negro

12.04.24 08:50

Uma das mensagens do Twitter Files, divulgadas pelos jornalistas Michael Shellenberger, Eli Vieira e David Ágape, mostra muito bem como operam os grupos identitários no Brasil e no exterior (para conhecer as principais revelações do Twitter Files, leia a reportagem “Os arquivos da discórdia” nesta edição da Crusoé).

Em primeiro lugar, esses grupos se colocam como os únicos representantes legítimos de uma causa. Depois, colocam-se como vítimas e ameaçam criar crises para empresas ou instituições. Por fim, pedem reparações em dinheiro.

Em um email datado de 14 de junho de 2021, o advogado do Twitter Rafael Batista avisou seus colegas da empresa que ele tinha recebido um “aviso de reclamação“, que depois tinha se transformado em uma investigação civil contra o Twitter.

Batista afirma que “a vítima“, no caso, a autora Djamila Ribeiro (foto), tinha solicitado que a empresa realizasse um Acordo de Ajuste de Conduta, implantando medidas para inibir o discurso de ódio no Twitter.

Segundo o advogado da empresa, a companhia seria ouvida sobre as políticas e práticas implementadas para evitar o discurso de ódio.

Apesar de a reclamação ser legítima, os pedidos são irracionais e nós não temos nenhuma obrigação de implementar essas medidas. Entretanto, nós ainda pensamos que é muito sensível sob a perspectiva reputacional dependendo de como a questão é abordada externamente, então nós estamos trabalhando para resolver isso (“to close with Comms and PP“, no original)”, escreve Batista.

O Twitter, portanto, estava preocupado com uma crise de imagem e queria resolver o assunto.

A denúncia foi apresentada por Djamila Ribeiro, filósofa e jornalista brasileira após ofensas racistas/crimes de ódio dirigidas a ela (embora nenhum conteúdo específico tenha sido fornecido)”, escreve o advogado.

Entre os vários pedidos de Djamila, Batista faz uma pequena lista:

i) medidas de monitoramento de todos os trending topics para evitar conteúdos ofensivos especialmente contra mulheres negras;

ii) divulgação de informações de usuários sem ordem judicial em crimes de motivação racial;

iii) disparos regulares de mensagens informando as pessoas sobre parâmetros éticos e legais de responsabilidade pelo que é publicado nas redes sociais;

iv) mensagens/textos padronizados sobre tais parâmetros éticos e legais para novos usuários;

v) pagamento de danos morais coletivos. 

 

Leia o email de Rafael Batista abaixo:

 

 

 

O advogado do Twitter só não diz quem deveria receber esse pagamento, no caso de Djamila Ribeiro vencer a ação.

Em seu site, Djamila se descreve como filósofa, militante, escritora e coordenadora da iniciativa Feminismos Plurais. “É autora de Lugar de fala (2017), Quem tem medo do Feminismo Negro? (2018), Pequeno manual antirracista (2019) e Cartas para minha avó (2021), que já venderam mais de 500 mil exemplares“, diz o texto.

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