Adriano Machado/Crusoé

Colegas dizem que Heleno joga Bolsonaro contra STF; ele nega e ameaça processar repórter

01.06.20 19:33

O chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno Ribeiro (foto), tem sido apontado nos bastidores do governo, por colegas ministros e assessores presidenciais, como um dos principais responsáveis por tentar convencer Jair Bolsonaro a reagir às recentes decisões do Supremo Tribunal Federal.

Crusoé procurou Heleno para ouvi-lo sobre o assunto. Ele não só negou que seja o responsável por inflamar o presidente contra o STF como ameaçou usar a Advocacia-Geral da União para processar o repórter caso a informação fosse publicada.

Sob reserva, ministros e auxiliares diretos de Bolsonaro dizem que Heleno foi, por exemplo, um dos principais entusiastas da ideia de o ministro da Educação, Abraham Weintraub, faltar ao depoimento determinado pelo ministro Alexandre de Moraes para explicar a declaração em que defendeu a prisão de ministros do Supremo. A possibilidade de Weintraub ignorar a intimação chegou a ser discutida em uma reunião no Planalto. O plano, porém, não foi colocado em prática: embora tenha recorrido ao direito de ficar em silêncio, o ministro cumpriu a ordem de Moraes.

Heleno tem se mostrado um dos ministros mais irritados com o STF. Na semana retrasada, chegou a divulgar uma “nota à nação brasileira” afirmando que uma eventual apreensão do aparelho celular de Bolsonaro, se autorizada pelo Supremo, teria “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Uma semana depois, ele tentou amenizar o teor da declaração e disse que não se referia a uma possível intervenção militar.

Procurado por Crusoé nesta segunda-feira para se pronunciar sobre o que seus colegas dizem nos bastidores, Heleno cobrou que o repórter dissesse quem eram as fontes que atribuíram a ele tal conduta. “Você devia ser incluído no inquérito das FAKENEWS (sic). Na primeira página. Quem foi o mentiroso que lhe passou essas barbaridades? Diga quem são os ministros e assessores. Não seja leviano. Isso não é proteção de fonte. É fofoca irresponsável”, afirmou. Em seguida, ele escreveu: “Se publicar isso, vou pedir à AGU que abra um processo contra você”.

Indagado se estava fazendo uma ameaça, Heleno respondeu. “Não fiz ameaça a você. Estou alertando que vou tentar usar os meios legais disponíveis para fazer face a calúnias injustificáveis. Não é para fazer medo”, disse. Em seguida, o general pediu desculpas por eventuais excessos: “Reagi, indignado, por conta da gravidade de tais mentiras, no bojo da crise que estamos vivendo”.

Nota da redação: Ao procurar o ministro Augusto Heleno Ribeiro, o repórter de Crusoé cumpria rigorosamente o seu trabalho, como mandam as regras do bom jornalismo. A ameaça de processo não serve e não servirá como instrumento de intimidação.

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