Marcelo Camargo/Agência BrasilO presidente ajusta o óculos: sua ignorância é pública e notória

Insultos de Lula visam a fama e votos

Ao comparar Gaza com Holocausto o presidente do Brasil não quis reescrever a história nem ter postura política, mas causar celeuma mundial
23.02.24

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou o presidente brasileiro em entrevista no domingo 18 de fevereiro último, assim como se estivesse num bar. Sua ignorância é pública e notória e não precisava de tal desenvoltura para exibi-la à luz dos holofotes. Ele já fez visitas acompanhadas a museus em número suficiente em ambientes no país e no exterior para saber que o disparate teria repercussão à altura de sua ousadia. Numa simples consulta a qualquer arquivo virtual seu instrutor de fama mundial, o diplomata Celso Amorim, poderia ter evitado o “não existe” sem provocar nenhum trauma ou mossa.

Afinal, a palavra Holocausto, que se tornou o símbolo representativo da barbárie no século 20, tem sido usada sem economia para o bem e para o mal. Suas raízes vêm do grego holókauston, têm conotação bíblica para judeus e cristãos e significam “sacrifício em que a vítima é queimada viva”, ou “sacrifício pelo fogo”. Em 9 de dezembro de 1948, sob a sombra então recente do Holocausto de judeus por nazistas e em grande parte pelos esforços incansáveis de Raphael Lemkin, advogado judeu polonês, o termo foi cunhado para definir o massacre de 1,4 milhão de um total de 2 milhões de armênios pelo império otomano. Até hoje os turcos não reconhecem tais evidências. Para realizar seus intentos inventaram campos de concentração e execuções em massa de velhos e crianças caminhando no insuportável calor do deserto. Outra fonte das diatribes do marido, dona Janja não foi a Istambul para atender a convite da mulher de Erdogan, Ermine, para falar mal do inimigo israelense na invasão de Gaza, ao lado de Cília Flores, primeira-dama de Nicolás Maduro.

Celso Amorim, soprador de todo insulto, sabe que a ONU aprovou a Convenção para a Prevenção e Punição de Crimes de Genocídio. Esta estabeleceu o “genocídio” como crime de caráter internacional, e as nações signatárias dela comprometeram-se a “efetivar ações para evitá-lo e puni-lo”. Era só consultar a revista Galileu, apta a visitas de Janja e Amorim, em que são narrados este e mais cinco holocaustos. É algo que faz parte da história humana desde a Antiguidade, ou seja, a destruição de Cartago por Roma em 146 a.C é considerada por muitos historiadores como o primeiro genocídio da história.

O Holocausto dos judeus na Alemanha nazista, de 1941-45, fez seis milhões de mortos. Nesse período, estima-se que dois terços dos europeus de origem judaica tenham sido exterminados pelos nazistas. A mortandade foi planejada sistematicamente com uma mentalidade industrial. E os próprios  alemães a batizaram de “Solução Final”. Na mesma ocasião, ou seja, de 1939 a 1945, de 6% a 10% da população polonesa (de 1,8 a 3 milhões) foram eliminadas pelas tropas de Adolf Hitler..

De 1975 a 1979 os comunistas do Khmer Vermelho de Pol Pot assassinaram em série de 15% a 33% da população do Camboja. Milhões de circassianos, primeiras vítimas do holocausto em nossos tempos, de 1864 a 1867, foram trucidados pelos czares russos e ignorados na entrevista de Lula. Assim como o foram armênios, caso de Fernando Gasparian, colega do sócio de Artur Lira na Constituinte. De 1915 a 1922 a população armênia em seu território foi varrida pelos turcos. Em 2021, 32 países reconhecem o fato histórico, incluindo o Brasil e os Estados Unidos.

No entanto, Amorim e Janja não informaram a Lula de seu erro. Amorim tomou, contudo, atitude ainda mais grave ao bajular o patrão, dizendo: “Quem tem que pedir desculpas é Israel, e não ao Brasil, mas à humanidade”. Num imaginário jogo de truco com o subordinado, o chefão ignorou a morte suspeita de Alexei Navalny na Rússia de Putin. Felipe Moura Brasil, editor-chefe do jornalismo de O Antagonista, focou seu holofote nele no X,  após lembrar a obra de Alexander Soljenítsin, Prêmio Nobel de Literatura de 1970, contra a arbitrariedade dos eslavos sob qualquer regime tirânico em séculos recentes.

No último parágrafo do texto “Como a infâmia de Lula marca a tragédia brasileira”, Felipe escreveu: “No Brasil, onde políticos condenados por corrupção acabam impunes com a cumplicidade de uma geração frouxa de opositores e de uma imprensa indisposta a ‘revirar o passado’, e os críticos que erguem a voz contra o sistema são cassados ou censurados com ajuda de tribunais superiores, o vício ressurge milhares de vezes, a perversão apodrece o debate público e a tragédia culmina na infâmia.” Como diria Nélson Rodrigues, “batata”.

Nesta tragédia de erros em que, sofrendo com o pesadelo de uma vitória do Hamas em qualquer guerra nos deixe ao dispor do arbítrio escravizante de seus sicários. Apesar dos reconhecidos defeitos do governo de direita de Israel, fica o alerta deixado pelo gênio de Albert Camus, autor de A Peste e Prêmio Nobel de Literatura de 1957: o maior inimigo da democracia e em última instância da sobrevivência da liberdade é o terror.

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

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  1. #SEM ANISTIA! Uma figura do porte e da coragem do COMPANHEIRO JOSÉ DIRCEU não aparece todos os dias no campo de batalha da politica...Com certeza certissíma o EX-CROTO olha p/ o CORAJOSO ZÉ DIRCEU e pensa assim: COMO GOSTARIA DE SER TUDO ISSO QUE ÊLE O É , Mas sou covarde e pulha demais p/ sequer sonhar com isso ...Enquanto isso, O ASSASSINO DE CHICO MENDES ASSUME PRESIDÊNCIA DO PL NO ACRE !!! Não foi a toa que a POSSE DO 3 X PRESIDENTE LULLA FOI ADIANTADA P/ 12/12/2023 !!! Detonou com os planos

  2. Gostaria muito que Lula soubesse ler, assim, artigos como os seus poderiam estar educando esse nosso presidente a ser uma pessoa mais equilibrada, não só nas falas, mas também na arte de gerir um país.

  3. Ele poderia comparar Gaza à Baixada Fluminense e às demais áreas dominadas pelo terror dos traficantes e milicianos , cuja existência o PR insiste em não enxergar. São verdadeiros "territórios ocupados" onde as populações civis são subjugadas ao mando das regras impostas ao custo de ocupação dos espaços que o estado não consegue reaver. Guerrilhas urbanas , mortes de civis, crianças, mulheres, jovens cooptados pelo crime .É o nosso "sacrifício pelo fogo".

  4. E terror é terrorismo. E terrorismo é perpetrado por terroristas. Conclusão, se eles tomarem o poder, será o fim da civilização.

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