Jair Bolsonaro em evento do PL Mulher - 15 de fevereiro de 2024Bolsonaro convoca manifestantes em evento do PL Mulher: medindo riscos

A jogada arriscada do bolsonarismo

Bolsonaristas querem que evento de domingo seja um marco na retomada na disputa pela narrativa com a esquerda, enquanto a PF monitora possíveis abusos
23.02.24

O ex-presidente Jair Bolsonaro convocou para este domingo, 25 de fevereiro, uma manifestação, na Avenida Paulista, em São Paulo. O mote é a “defesa do Estado Democrático de Direito”, aquele mesmo que seu grupo pretendeu subverter com um golpe. Assim, na realidade, o objetivo da manifestação demonstrar força política e sugerir que o custo de uma prisão, como resultado das investigações atualmente conduzidas pela Polícia Federal, poderia ser alto demais.

Bolsonaro pediu para que todos vistam verde e amarelo e não levantem cartazes contra adversários e instituições. Mas há o receio, entre os próprios organizadores do evento, que o tiro saia pela culatra. Há um belo exemplo no passado. Em 16 de agosto de 1992, outro domingo, o hoje senador Fernando Collor de Mello – aquele caçador de marajás – também convocou seus eleitores a irem às ruas de verde e amarelo. Collor estava acossado por denúncias de corrupção; a economia brasileira ia de mal a pior, depois de um traumático confisco de poupanças; o risco de um processo de impeachment se avolumava; mas ele sustentava a tese de que era um perseguido político. Em vez das cores desejadas pelo então presidente, jovens e outros grupos da sociedade civil foram às ruas de preto.

A conjuntura de hoje obviamente é outra. Bolsonaro não está mais no poder, a economia brasileira é problema de Lula e a militância bolsonarista é bem mais aguerrida que a de Collor. O verde amarelo não será trocado pelo preto na Avenida Paulista, que estará cheia. A questão é saber o quanto – e também se, no calor do momento, as recomendações para uma manifestação ordeira serão seguidas à risca. Não são detalhes singelos, mas pontos que podem enterrar o bolsonarismo de vez.

Como disse nesta semana a deputada federal Carla Zambelli no programa Meio-Dia em Brasília, de O Antagonista, a expectativa é que 500 mil pessoas estejam no evento. Alguns mais otimistas falam em 1 milhão de pessoas. Nenhum bolsonarista, é obvio, jogaria as expectativas e as chances de sucesso para baixo antes mesmo de a manifestação acontecer. O certo é que uma foto com gente apinhada em frente a um palanque – o prêmio que Bolsonaro diz querer levar do evento – não vai bastar. Esses truques fotográficos já se tornaram batidos. O ato de domingo será analisado com lupa, para que se averigue a real capacidade de arregimentação do ex-presidente, sem a máquina estatal ou recursos (oficiais) de seu partido, o PL.

Com receios das investigações da Polícia Federal, a cúpula do PL deu uma ordem a todos os deputados que vão participar do evento: quem for, que vá com próprios recursos. Valdemar Costa Neto – presidente partido que passou recentemente alguns dias na cadeira – proibiu o uso de dinheiro público no ato. Nem para comprar um copo d’água. Não serão feitos ressarcimentos de passagens, hospedagens e afins. Até o uso do cotão parlamentar da Câmara foi desautorizado. Crusoé apurou que alguns deputados do Centrão consultaram a Primeira-Secretaria da Câmara para saber se eles poderiam ser ressarcidos por gastos durante o evento. A resposta foi um sonoro não.

O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), reafirmou isso em mensagem encaminhada a deputados ao longo dessa semana. “Vamos apoiar, mas não haverá dinheiro do partido”, tem reiterado ele a seus correligionários. “Um parlamentar não pode pagar uma passagem de 2 mil para ir à Paulista? O ato é importante e qualquer sacrifício é válido”, disse o deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS), integrante da tropa de choque do ex-presidente da República.
Ao não classificar esse ato de domingo como “político”, Bolsonaro, a organização e a cúpula do PL tentam, dessa forma, driblar qualquer nova acusação de que a manifestação visa pressionar a PF, ministros do Supremo ou quem quer que seja. Novamente, a ideia é evitar novos problemas com o Poder Judiciário.

Crusoé apurou, no entanto, que a PF tem monitorado de perto cada declaração, cada ato, cada fala de Jair Bolsonaro sobre o evento. Alguns agentes acreditam  que mesmo um pequeno deslize se voltará contra Bolsonaro, como incitação a  novos movimentos de ataque à democracia e à institucionalidade.

Dentro do STF, há esse mesmo sentimento. Ministros consideram que, a depender dos discursos e do comportamento da militância, haverá elementos para enquadrar Jair Bolsonaro na tese do crime continuado. Isso legitimaria uma medida extrema: eventual pedido de prisão preventiva contra o ex-presidente da República.

Outro ponto que está sendo monitorado pela PF e pelo STF é se Jair Bolsonaro e seus aliados descumpriram determinações do ministro Alexandre de Moraes. A principal delas: que o ex-presidente não mantenha contato com outros investigados, como Valdemar Costa Neto – presidente do PL. De novo: é um ato na Paulista, arregimentado por bolsonaristas e, ao menos na PF, duvida-se que Bolsonaro não tenha trocado um único pio com o presidente do seu partido.

Ao longo desta semana, o ex-presidente da República conversou com aliados em uma churrascaria no Centro de Brasília e falou sobre os atos e sobre o depoimento que deveria prestar na Polícia Federal nesta quinta-feira, 22. Para evitar complicações com a PF, Valdemar não foi convidado para o convescote.

A organização dos atos sabe que todo cuidado é pouco. Por isso, apenas Jair Bolsonaro e três auxiliares devem falar no domingo. Os mais moderados. Figuras exaltadas como o deputado Zé Trovão (SC) – que chegou a ser preso por participar dos atos antidemocráticos – vão ficar longe dos microfones. Mas nem todo mundo está no modo paz e amor. “Agora é hora de falar. O que pode piorar para nós?”, disse um integrante dessa ala mais radical a Crusoé, que pediu para não se identificar com medo de antecipar represálias.

Sem dinheiro público – novamente, em tese –, resta a pressão das redes sociais. O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, vai voltar às pressas de Dubai para participar do evento. Ele chega ao Brasil na véspera para somar-se a outros aliados do ex-presidente. Além de Mello, apenas três chefes de Poder Executivo Estadual haviam confirmado presença até o fechamento desta reportagem: Tarcísio de Freitas (São Paulo), Cláudio Castro (Rio de Janeiro) e Ronaldo Caiado (Goiás). Romeu Zema (Minas Gerais) ainda era dúvida.

O sonho da direita bolsonarista é se reaproximar de um eleitor mais moderado. Conforme apurou Crusoé, há consenso atualmente – mas ele jamais será admitido em público – de que o ex-presidente se equivocou na comunicação com esse público em alguns momentos, em especial durante a pandemia. A ideia é usar o protesto deste domingo para retomar a conversa com eleitores de centro, sob prismas considerados mais universais: defesa da vida, da liberdade de expressão e daquilo que o bolsonarismo entende por democracia.

Esse é o mundo ideal. Ninguém na organização do evento descarta a hipótese de que cartazes contra o STF, ou mesmo uma imagem de Xandão enforcado, ou aparecerão nas mãos de alguns lunáticos. “Quanto mais gente houver, menor será o controle. Esse é o dilema. E um único cartaz pode colocar tudo a perder”, admitiu um aliado de Bolsonaro a Crusoé. O coordenador da bancada paulista da Câmara, Antônio Carlos Rodrigues (PL), já disse que não irá ao evento justamente por medo de que a organização perca o controle do ato e da narrativa. Se algo parecido ocorrer, o STF não vai engolir a justificativa de que essa é uma ação deliberada de petistas que querem ver Jair Bolsonaro na cadeia. Há menos que haja provas conclusivas em contrário, o fato será visto como prova de que o desejo de romper a ordem continua vivo logo abaixo da superfície. O próprio bolsonarismo fornecerá o pretexto necessário para levar o seu líder a uma prisão preventiva.

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  1. A direita séria e honesta jamais apoiará Bolsonaro. Não adianta tentar virar um "Bolsonaro paz e amor". Ele pensa que somos idiotas? Sabemos bem o tipo de escória que ele é como ser humano e o péssimo gestor que foi. Bolsonaro na cadeia! E Lula também.

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  4. #SEM ANISTIA! Uma figura do porte e da coragem do COMPANHEIRO JOSÉ DIRCEU não aparece todos os dias no campo de batalha da politica...Com certeza certissíma o EX-CROTO olha p/ o CORAJOSO ZÉ DIRCEU e pensa assim: COMO GOSTARIA DE SER TUDO ISSO QUE ÊLE O É , Mas sou covarde e pulha demais p/ sequer sonhar com isso ...Enquanto isso, O ASSASSINO DE CHICO MENDES ASSUME PRESIDÊNCIA DO PL NO ACRE !!! Não foi a toa que a POSSE DO 3 X PRESIDENTE LULLA FOI ADIANTADA P/ 12/12/2023 !!! Detonou com os planos

  5. Bolsonaristas sendo o que são: não fazem o que dizem e o que fazem não pensam antes. Essa manifestação é um tiro no pé.

  6. Estou torcendo por qualquer deslize, e acho que vai acontecer. Quantas pessoas nesse grupo de 500 ou mais manifestantes são educados? Quantos deles não se comportarão como aquele indivíduo que deixou suas fezes de lembrança lá em Brasília?

  7. Como partidário da centro-direita, digo que enquanto houver insistência com o nome de Bolsonaro não iremos a lugar nenhum. Precisamos de uma liderança de bom caráter …

  8. Todos sabem que essa manifestação é em prol do Bolsonaro e mais nada. É de deixar qualquer um perplexo que essa gente se ponha à disposição (e em risco) do Bolsonaro quando ele já se provou um traidor, deixando-os na mão quando fugiu para os EUA enquanto eles protestavam, e quando os renegou publicamente, chamando-os de loucos, quando muitos estavam presos. Mas, enfim, todo castigo para burro é pouco...

  9. Um texto enorme e nem uma vírgula do autor sobre cláusulas petreas da Constituição Federal: liberdade de manifestação e de expressão. Ah, elas só valem para a esquerda.

  10. O Brasil 🇧🇷 somente será a potência com que o povo decente sonha quando Bozo e Luladrão forem pra casa, aposentados e fora da espacosa e perniciosa posição que ocupam na política do país!

  11. Aprendi em casa que não se deve bater em quem já está no chão mas, essa canalhada bolsoneroladrosnéscio tal qual a canalhada lulaladralhaneronéscio, tem que apanhar muito da JUSTIÇA para ambas aprenderem a não dividirem o país em "néscioscanalhas contra néscioscanalhas", para cessarem ambos os gados de aplicarem golpes no POVO BRASILEIRO, para cessarem de tumultuar as instituições, cessarem de aviltar a nação, de humilharem nosso povo e nosso país jogando-nos no abismo a cada 24 horas!!!!

    1. Que cambada de zés-manés mequetrefes sem noção, de moleques vadios e desocupados!!!

  12. Atos públicos também foram sequestrados pelos covardes que acusam o ex presidente. Os direitos constitucionais foram agora destinados somente para um lado do espectro político. Afinal é a “defesa da democracia” Hajam hipocritas !!!!

  13. Como falou o.multi e impune criminoso Zé Dirceu o país está em clara guerra revolucionária por absoluta culpa de Bolsonaro que não usou como devia o Art 142 da CF quando o STF violou várias vezes as letras mortas do livrinho antes das "inleissão" e assim Sampa inicia nova Marcha com Zeus pela Liberdade ou uma nova Revolução Constitucionalista de 1932? Logo saberemos.

    1. Foi apenas uma tola e inútil tentativa de pacificação pois o bando no poder quer sangue E TERÁ podem estar certos ... E quem sobreviver chorará !!!

  14. Como ex-presidente ele não tem foro privilegiado para ser julgado pelo STF. E esse discurso de defesa pela vida deveria ser revisto pelo Bolsonaro: quem é a favor da vida não deveria se armar!!

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