O plebiscito no Chile e o risco de um 'populismo constitucional'
Os chilenos votam neste domingo, 25, em um plebiscito para decidir se o país precisa ou não de uma nova Constituição. Pesquisas de opinião afirmam que cerca de 70% devem optar por uma nova Carta, a qual poderá ser escrita por uma Assembleia Constituinte independente ou por um corpo misto, com participação dos deputados. A...
Os chilenos votam neste domingo, 25, em um plebiscito para decidir se o país precisa ou não de uma nova Constituição. Pesquisas de opinião afirmam que cerca de 70% devem optar por uma nova Carta, a qual poderá ser escrita por uma Assembleia Constituinte independente ou por um corpo misto, com participação dos deputados.
A principal razão para a convocação do plebiscito foram os protestos que ocorreram nos últimos doze meses. Defensores da ideia dizem que a Constituição precisa ser alterada porque é da época da ditadura de Augusto Pinochet, que governou o país entre 1973 e 1990. Entre os que querem reescrever o texto, vários prometem mais direitos sociais. A população aprova. Uma pesquisa do instituto Cadem divulgada em agosto revelou que 93% dos chilenos querem que o direito à saúde e à educação estejam assegurados pela Constituição.
Alguns setores da sociedade chilena, principalmente integrantes da direita, têm alertado para o risco do que chamam de "populismo constitucional". Para começar, eles alegam que a Constituição já recebeu 257 alterações desde 1989. A parte que seria fruto do período governado por Pinochet hoje é menos de um terço do total.
Em 2005, o presidente socialista Ricardo Lagos conduziu reformas na Carta e substituiu a assinatura de Pinochet pela sua própria. Orgulhou-se de ter feito uma "constituição democrática" que poderia "representar e unir todos os chilenos".
Os defensores da reforma insistem que um novo texto poderia ampliar direitos. Mas foi com base nessa Constituição que a renda per capita do Chile quadruplicou para 23 mil dólares, e se tornou a maior da América Latina, e a pobreza extrema caiu de 34% para menos de 3%. "Não existe absolutamente nenhuma possibilidade de que, com uma mudança a Constituição, vamos multiplicar magicamente os recursos do estado para promover o que chamam de direitos sociais. Isso é uma fantasia", disse em um vídeo na internet o liberal chileno Axel Kaiser, que está fazendo campanha pela rejeição à Constituição.
"Há constituições que estão repletas de direitos, como a do Haiti ou da antiga União Soviética, mas os direitos sociais não eram cumpridos pela simples razão de que não havia recursos para fazer isso", acrescentou.
Há o perigo ainda de que algumas garantias democráticas da Constituição atual sejam eliminadas ou relativizadas. Muitas delas foram estabelecidas para evitar crises econômicas e sociais, como causada pelo presidente socialista Salvador Allende, que governou o Chile entre 1970 e 1973 e foi apeado por Pinochet. Por exemplo, para impedir nacionalizações de empresas, a propriedade privada é assegurada. É proibido excluir o setor privado de áreas como educação, saúde ou fundos de aposentadorias. A Constituição também garante autonomia ao Banco Central. Com isso, governantes não podem imprimir dinheiro livremente para arcar com gastos públicos. Deputados não podem também criar novos impostos formulando leis.
Caso o plebiscito aprove a elaboração de uma nova Constituição, seus novos redatores se reunirão em maio e terão um ano para escrevê-la. Como o país terá eleições presidenciais e legislativas em novembro, é possível que as promessas de campanhas dos candidatos influenciem o processo. Para serem impressos no novo texto, os temas precisarão contar com aprovação de dois terços dos seus redatores. Ao final, um referendo será marcado.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (4)
Eduardo
2022-04-30 10:32:39Parecendo a tal "constituição cidadã" tão remendada (reeleição, que horror, né?) que por interesses múltiplos tornou-se uma acidentada por um trem bala.
Antonio
2020-10-25 11:17:31O porco Fidel disse que não precisava mais lutar, era só provocar a mudança das constituições dos países alvos.
MARCOS
2020-10-24 20:53:07No Brasil o direito a saúde e a educação são obrigações constitucionais e não adiantou nada colocar na CF se não se cumpre. No Chile será igual, só no papel.
Geraldo
2020-10-24 19:24:47Em havendo nova constituição no chile, pode anotar: os Cristãos serão caçados (sim, caçados, do verbo caçar, sinônimo de abater) "legalmente".