
O ouro do Brasil
Flávio Dino, ministro da Justiça, disse recentemente aceitar a repatriação de brasileiros se Portugal devolver o ouro levado do Brasil durante a colonização. A declaração foi dada após uma brasileira sofrer suposta xenofobia no aeroporto de Lisboa.
O ministro usa o velha oposição marxista entre explorador/explorado e o aplica à história do Brasil, ignorando uma série de fatos.
Primeiro, um dado econômico, bem lembrado por Felippe Hermes, que escreveu: “O tal ouro que Portugal levou do Brasil em 300 anos é o equivalente ao que Brasília levou do pagador de impostos nos últimos dez dias (considerando a cotação atual e não a conversão histórica). O motivo, claro, é que o ouro passa longe de ser escasso. A produção cresceu 2.000% nos últimos dois séculos, graças ao avanço da tecnologia”.
Mas os socialistas – clássicos ou identitários – veem a economia como um jogo de soma zero, em que a riqueza disponível tem um quantidade fixa a ser dividida. Eles ignoram que a riqueza pode ser criada.
Outro erro é ver a história da colonização como a história da exploração de riquezas naturais. Há um lugar-comum sobre a história do Brasil que diz que os portugueses – diferente dos colonos na América do Norte – vieram simplesmente explorar as riquezas do território que viria a formar o Brasil.
Duarte Coelho, por exemplo, donatário da Capitania de Pernambuco, veio para ficar e estabelecer-se com os seus. Não é à toa que a sua capitania foi a mais próspera – nela foram criados os primeiros engenhos de açúcar, muito bem-sucedidos economicamente. Duarte Coelho concebeu a terra que lhe doara Dom João III à imagem de Portugal, uma Nova Lusitânia – nome que ele deu ao lugar. O historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello – irmão do poeta João Cabral de Melo Neto – escreveu no livro Um imenso Portugal: “Não surpreende o teor eminentemente reinol do cotidiano colonial ainda no começo do século 17. O mencionado companheiro de La Ravardière observava que ‘os descendentes dos primeiros conquistadores não diferem em nada, em costumes e em hábitos, dos de Portugal’, impressão confirmada pela leitura da documentação inquisitorial. A Olinda ante bellum foi uma vila lusitana”.
No livro Engenho e Arquitetura, Geraldo Gomes revela que, mesmo no auge do período aurífero, a renda proveniente da produção de açúcar foi sempre maior do que a do ouro ou qualquer produto no Brasil. É por isso que Gilberto Freyre diz que o Nordeste agrário foi durante muito tempo o centro da civilização brasileira.
E Evaldo Cabral de Mello lembra que, na virada dos Quinhentos para os Seiscentos, os colonos das áreas açucareiras dispunham de uma renda per capita superior à que prevalecia na Europa da época. Foi isso que despertou a cobiça dos holandeses, que invadiram Pernambuco.
Outra coisa: circulava, desde os tempos da colonização, a ideia de transformar o Brasil numa “tábua de salvação” do Império Português em caso de invasão. O que terminou acontecendo em 1808, com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil em reação às invasões napoleônicas. O Brasil tornava-se a sede do império. Evaldo Cabral de Mello ressalta que: “Àquela altura, os nacionalistas não éramos nós mas os portugueses de Portugal que, dentro e fora das Cortes de Lisboa, clamavam contra o que lhes parecia escandalosa inversão de papéis pela qual o Brasil transformara-se no centro da monarquia lusitana, relegando a metrópole à posição de colônia”.
E mais, diz Evaldo Cabral de Mello: o Império Brasileiro não foi “produto de uma aspiração nacional preexistente e cruelmente reprimida por uma potência estrangeira”, como aconteceu na Grécia. “Lord Byron não teria dado a vida pela nossa independência”, diz ele. É que o nacionalismo brasileiro é posterior à criação do estado nacional.
A singularidade do processo de formação do Brasil é facilmente ignorada por aqueles que fazem tábua rasa da nossa história.
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Muito bom artigo Josias.
Gostei do artigo. Trouxe informações importantes. Obrigado. Com relação ao Dino da Sila Sauro , é fato que ele será o próximo ministro do STF. Nós merecemos!
FD nao passa de um fanfarrão. Devia dedicar menos tempo a ficar lacrando no X e trabalhar mais, de verdade, pela segurança pública desse pais. Comunista de merda.
Flávio Dino é um boçal.
Sim. E o bócio dele é enorme.