O bar Major Lock, em Belo HorizonteMajor Lock: inovações e entusiasmo - Foto: Divulgação

Os empreendedores

Nem todo negócio precisa ambicionar criar franquias ou abrir o capital num IPO. É possível ser pequeno em tamanho e gigantesco em sucesso
10.11.23

No final da década de 2000, escrevi um livro encomendado pela antiga BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros), ao qual dei o nome de Projeto Maratona.

Trata-se de um não-ficção cujo tema é o IPO da Bolsa.

Entre as dezenas de pessoas que entrevistei para elaborar esse trabalho, estava um diretor de banco.

Ele me disse que confiava muito no futuro do Brasil por causa do empreendedorismo de nossa gente.

Pois bem, hoje vou contar a história de um empreendedor extremamente bem-sucedido. Seu nome é Rodrigo Castanheira Bouchardet. Mora em Belo Horizonte.

Eu o conheço desde que nasceu, uma vez que era filho de meu melhor amigo e ex-cunhado, Eduardo Belisário Bouchardet (1940/2022).

A empresa do Rodrigo jamais poderá abrir o capital através de um IPO, por ser pequena. Aliás, pequena em tamanho e gigantesca em sucesso.

Mas vamos à sua história:

Nascido em 1969, no dia em que o astronauta americano Neil Armstrong pisou no solo lunar, não há nada que se destaque na infância e na adolescência de Rodrigo.

O sucesso começou no início da idade adulta, tal como ele mesmo conta no talk show “Conecta Mente”, gravado lá mesmo em BH e apresentado por Fernando Cardoso e Paulo Leite.

Há três décadas, Rodrigo, também conhecido como Bucha, antes de fundar o Major Lock, como é o nome de seu bar, viajou para os Estados Unidos para ver as novidades que estavam acontecendo por lá. Assim, poderia montar um negócio diferente dos competidores.

Uma das inovações era o jogo do dadinho, através do qual o freguês apostava com uma garçonete.

“Se você tirasse mais do que ela”, é Rodrigo quem diz “você não pagava o chope.”

Houve uma época em que tudo que o Major Lock vendia custava um dólar (convertido na moeda brasileira da época, é claro), ideia que Bucha trouxe de Las Vegas.

Um dos planos que Rodrigo pretende pôr em prática brevemente será “Um dia sem imposto”, imposto esse que será pago pela casa.

“A gente tem de fazer com que o cliente se sinta em sua casa”, é uma de suas máximas.

Outra coisa interessante do Major Lock é que os balcões são abertos.

“Se o cliente quiser, ele pode entrar dentro do balcão”, diz Bouchardet.

Em vez de garçons do sexo masculino, como acontecia nos demais bares de Belo Horizonte, o estabelecimento de Rodrigo só contrata garçonetes, geralmente universitárias, que assim custeiam seus estudos.

O bar é tão afamado que diversas bandas tocavam lá de graça. Isso aconteceu, por exemplo, com a Skank e com a Jota Quest.

Outra novidade é a proximidade do palco: apenas um metro de distância das mesas. Assim, os frequentadores se veem perto dos artistas que se apresentam no tablado.

Bucha prossegue: “A casa tem quatro banheiros, uma loja de roupas, uma loja de tatuagens, duas cozinhas”.

Às vezes, o bar está repleto demais e fica difícil ser atendido por uma garçonete. Nessas horas, se o freguês reclama com o Rodrigo, ele diz:

“Pô, vai lá no bar e se serve você mesmo. Depois avisa à moça para pôr na conta.”

A iluminação do Major Lock também é diferente, de cor âmbar, nem muito escura nem muito clara. Ou seja, não é uma boate escurinha nem um botequim iluminado.

A bebida clássica da casa é o coquetel Batman & Robin, uma mistura de vodca com energético e gelo.

Com essas inovações e com esse entusiasmo, Rodrigo Castanheira Bouchardet tornou-se um personagem conhecido em toda Beagá.

Como ele, deve ter outros milhares de empreendedores no Brasil com ideias novas.

Só para me manter no ramo bar/restaurante, gostaria de lembrar duas outras casas especiais que conheci em minha vida:

Um estabelecimento, com apenas três ou quatro mesas, sempre lotadas, na cidade de São Miguel do Araguaia, estado de Tocantins, que serve somente caranha (um peixe de rio) com alface. Sim, apenas caranha e alface. E o freguês sai lambendo os beiços querendo mais, tão saboroso é o prato.

Certa ocasião, fui dar uma palestra na cidade de São Joaquim da Barra, São Paulo, ligeiramente ao norte de Ribeirão Preto.

Já no local, e a caminho do evento, deparei com um restaurante extremamente simples, chamado Ponto da Picanha.

Eles serviam apenas uma tábua com picanha fatiada, aipim (ou mandioca, como queiram) cozido e rodelas de tomate. Nada mais do que isso.

Duvido que o Nusr-Et, aquele restaurante de Istambul que serve (por uma fortuna) carne banhada com ouro, seja melhor do que o ponto de São Joaquim.

Embora os empreendedores brasileiros ao qual o banqueiro se referiu quando eu o entrevistava no final da década de 2000 fossem pessoas com possibilidades de formar cadeias de lojas ou franquias, crescendo horizontalmente por todo o país, são esses pequenos exemplos que fiz questão de apresentar nesta crônica de hoje.

O Rodrigo Bouchardet assim como os proprietários dos restaurantes de São Miguel do Araguaia e  São Joaquim da Barra não estão procurando sócios.

Eles já venceram na vida, E fico muito feliz de citá-los como exemplo de sucesso.

Entusiasmante ver esse tipo de pequeno empresário no Brasil.

Um ótimo fim de semana para todos.

 

Ivan Sant’Anna é escritor

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  1. Esses são justamente os que mais necessitam da ajuda do estado: menos impostos e que simplesmente não atrapalhe

  2. Excelentes exemplos de sucesso. Só tenho pena dos pequenos negócios que são geridos por pessoas pouco escolarizadas. Uma diarista minha tinha tido um restaurante. Fez tanto sucesso, mas ela não podia contratar mais pessoas por conta dos altos tributos que advém dessas contratações. Hoje ela é diarista mas está fazendo um curso de gourmet. Deveria também fazer um curso para gerenciar negócios. Sem isso não adiantará ter mais competência na cozinha, uma vez que já demostrou isso no restaurante.

  3. pequenos empresários, como eu, que estão morrendo de tanto pagar impostos. afinal para que outro sócio se já temos o governo nos sugando e nada ajudando

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