Arte: Crusoé

Bruno Paes Manso: a união entre a fé e o fuzil

Pesquisador explica como o crime organizado começou a usar o discurso religioso para ganhar legitimidade no Rio de Janeiro
10.11.23

O jornalista, escritor e pesquisador Bruno Paes Manso comenta no Crusoé Entrevistas a mistura entre a religião e os grupos criminosos, tema que foi abordado em seu livro mais recente A Fé e o Fuzil: Crime e Religião no Brasil do Século XXI (Todavia).

A partir de determinado momento, traficantes ligados ao Terceiro Comando Puro começam a usar o discurso religioso e símbolos religiosos para dar legitimidade aos seus líderes e para produzir obediência em seus territórios, como se eles fossem melhores ou representassem o bem“, diz Paes Manso.

Segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), essa complexa relação entre o crime organizado e a religião é fruto de um Estado fragilizado, incapaz de impedir a ação de grupos criminosos em partes do território.

“A religião no Rio de Janeiro passa a ser usada nessa grande Game of Thrones, em que há um Estado republicano e moderno fragilizado, em que há um retrocesso como se voltássemos a períodos feudais”, diz Paes Manso.

Não são poucos os exemplos dessa nova configuração de poder: às margens da Avenida Brasil, na zona oeste carioca, o comando sobre os bairros Parada de Lucas e Vigário Geral — antes disputado por facções rivais — caiu nas mãos de um traficante evangélico, que passou a denominar a área como “Complexo de Israel”. Nesse local, uma nova ética de operação do crime passou a operar, ao mesmo tempo que bandeiras de Israel passaram a tremular por ali, numa apropriação espúria do símbolo do Estado judeu.

Paes Manso ainda comenta a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que o governo Lula iniciou na semana passada em portos e aeroportos do Rio de Janeiro, com o auxílio da Aeronáutica e da Marinha. “Me parece, mais do que uma tentativa de asfixiar esses grupos, uma tentativa de parecer que está fazendo alguma coisa, quando na verdade está fazendo muito pouco. Não está fazendo nada que vá mudar a situação do Rio de Janeiro.”

O jornalista já escreveu sobre as milícias do Rio de Janeiro e sobre a ascensão do Primeiro Comando da Capital (PCC) ao status de organização transnacional.

Assista à integra da entrevista abaixo:

 

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  1. Muito inteligente a forma como ele fala de religião! E ele coloca muitas informações novas e incomuns aos jornais sobre o crime organizado. Parabéns!

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