Arthur Lira preside sessão da Câmara dos DeputadosArthur Lira: submetido a desgaste lento e constante - Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Uma brecha na muralha de Arthur Lira

Fazendo o jogo de morde e assopra, Lula vai empurrando o presidente da Câmara para o governo, ao mesmo tempo que desgasta sua relação de parceria com os partidos
05.10.23

Uma das dificuldades para analisar o tamanho da base deste governo é a posição dúbia de Arthur Lira. Ora defendendo a independência da Câmara e seus interesses corporativos, ora sinalizando ao governo, o alagoano é visto tanto como rede de proteção pelo mercado contra desatinos fiscais, quanto como a chave do cofre que Fernando Haddad quer acessar para aumentar a arrecadação e desarmar bombas fiscais plantadas pela sua própria base.

Combinado com sua capacidade de esconder o jogo, Lira também encapsulou o processo decisório da Câmara dentro de um pequeno grupo chamado “Colégio de Líderes”. Se, antes dele, as reuniões desse grupo se davam “apenas” para definir a pauta de votações, hoje definem relatores, distribuição de recursos e placares de votações. Feito às portas fechadas, com a sociedade sendo informada apenas por meio de vazamentos, o que elevou o preço do jornalismo de bastidores, esse modus operandi faz de todos seus reféns. Toda semana, o governo e a sociedade civil esperam o que vai sair dali.

Uma parte da responsabilidade por esse estado de coisa é das instituições. O período em que Lira contou com a distribuição arbitrária de parte do orçamento nas suas mãos – as tais emendas de relator – foi muito bem aproveitado para formar um forte círculo de influência. Além disso, a fidelidade partidária e o financiamento público de campanha deram controle sem precedentes aos líderes das suas bancadas. Como as cúpulas dos partidos decidem arbitrariamente quanta verba de campanha vai ser direcionada a cada um, a não ser que você seja um milionário disposto a gastar na própria reeleição, precisa estar bem com o seu líder para ser recompensado em 2026. A outra parte da explicação, no entanto, é o próprio Lira e seu jogo de iludir – tão típico da política – e concentrar decisões.

A questão para o governo, desde o minuto seguinte à proclamação do resultado oficial das eleições de 2022, tem sido como reduzir esse poder. E, por mais paradoxal que seja, talvez tenha encontrado um caminho, exatamente quando parecia ter se rendido ao poder de Lira. Fazendo o jogo de morde e assopra, aos poucos, Lula vai empurrando o presidente da Câmara para o governo, ao mesmo tempo que desgasta sua relação de parceria com os partidos.

Essa estratégia mira o desgaste lento e constante. Colocando em dúvida o poder de entrega de Lira para com os deputados, não cumprindo ou atrasando as promessas feitas a ele, o governo estimula defecções no seu entorno e faz ligações diretas com bancadas e donos de partidos que desejam acessar recursos controlados pelo Executivo. Além disso, forçando Lira a ter que entregar antes para receber depois, retira a dubiedade da sua posição. E, cada vez mais governista, Lira vai afastando parlamentares de direita e conservadores da sua zona de controle e diminuindo, assim, seu valor político. Um aguçado observador disse nesses dias que essa dinâmica vai jogar luz no Plenário e forçar um realinhamento entre e dentro das bancadas.

Um bom exemplo dessa deterioração aconteceu nesta semana. Querendo mostrar serviço, Lira tentou seu lance mais ousado até aqui. Entregaria três pedidos do governo de uma vez só: tributação de offshores, fundos exclusivos e juros sobre capital próprio (JCP), tidos como essenciais pela Fazenda para alcançar o zero a zero fiscal em 2024. O presidente não economizou nos gestos simbólicos para demonstrar poder e controle, nomeando um relator apenas na segunda-feira para votar na noite de quarta. A mensagem do “eu faço e aconteço” não podia ser mais clara.

O primeiro sinal de desencontro, no entanto, veio com a retirada do JCP na noite de terça. E o derradeiro veio com o adiamento da votação, na quarta à tarde. No final do dia, Lira se reuniu pessoalmente com os líderes e fez um apelo, pedindo pela deliberação e dizendo que, se não acontecesse, o cancelamento recairia sobre suas costas.

Pela frente, os deputados disseram que queriam mais tempo para estudar o relatório, o que teria feito Lira responder com ironia que, depois da sua viagem – uma visita à Ásia entre os dias 10 e 20 -, ele iria selecionar alguns deputados e ver quem tinha virado especialista na matéria. Na realidade, os líderes entenderam que preferem entregar as pautas aos poucos e que a pressa de Lira de entregar um pacotão não combina com seus interesses. Do seu jeito, disseram que passaram a discordar da estratégia de Lira conduzir a relação com o governo.

Embora a votação tenha sido remarcada para o dia 24, o adiamento não foi um evento trivial. Os marinheiros discordaram do capitão do navio em uma questão fundamental para ele. Se o governo perceber essa fragilidade e avançar sobre os líderes, sinalizando aumento da relação sem intermediários para acessar recursos, ao mesmo tempo em que alimenta traições entre os que desejam suceder Lira, pode ter encontrado a brecha que tanto procurou na fortaleza das Alagoas.

 

Leonardo Barreto é cientista político e diretor VectorRelgov.com.br

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  1. ✨💛💚💙🇧🇷🇧🇷🇧🇷💛💚💙✨ *NOSSA PÁTRIA, NOSSO POVO, NOSSO LAR BRASIL!* ✨💛💚💙🇧🇷🇧🇷🇧🇷💛💚💙✨ OS CORAJOSOS e COMPETENTES PILOTOS BRASILEIROS E SUAS TRIPULAÇÕES, TROUXERAM SÃOS e SALVOS de VOLTA PRA CASA - A NOSSA BENDITA PÁTRIA ***BRASIL*** - mais DEZENAS dos NOSSOS COMPATRIOTAS, PESSOAS E TAMBÉM OS ANIMAIZINHOS DE ESTIMAÇÃO!

    1. LINDA INSPIRAÇÃO PARA ESSE SONHO BRASILEIRO, NÉ, MESMO?!!!...

    2. Imagine se tivéssemos TODOS os agentes do Executivo, Legislativo e Judiciário exercendo com os mesmos VALORES de INTEGRIDADE, HUMANISMO, IDONEIDADE, CONFIABILIDADE, HONRA, CORAGEM, COMPETÊNCIA e CONDUTA EDIFICANTE, O CUMPRIMENTO DOS SEUS DEVERES!!!!

    3. OS MELHORES CUMPRIMENTOS, APLAUSOS E AGRADECIMENTOS A TODOS OS NOSSOS VERDADEIROS HERÓIS - AGENTES DO MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA, DA FAB e DIPLOMATAS (os sérios, idôneos, lúcidos e pró-ativos que redimem o ITAMARATY!) que HONRAM COM O MÉRITO MAIOR SUAS FUNÇÕES, cumprindo edificante e competentemente tão NOBRES E HUMANITÁRIAS MISSÕES.

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    5. OS BRAVOS PILOTOS BRASILEIROS CONDUZIRAM NOSSOS SALVADORES PÁSSAROS DE PRATA a 10.000 PÉS de altitude, de onde, segundo relataram, puderam assistir abaixo, os assustadores mísseis e interceptadores de mísseis cruzando os céus das regiões conflagradas.

  2. O enfraquecimento do Lira pode até não ser, diretamente, uma vantagem pro Brasil, mas é, certamente, uma salvaguardar importante da sua sanidade.

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