Justiça sem juízo

Entediado com a falta do que não fazer, passo o dia escutando o magnífico CD “Xandão Canta Caetano”, onde o careca, jurista e sambista togado homenageia a obra do decano da MPB — Música Processual Brasileira —, Caetano Velhoso. Ouvia eu embevecido a versão de “Ministro do Rio” interpretada pelo calvo jurisconsulto quando soube por um vizinho jornalista em situação de rua, como eu, que o outro integrante do Supremo Tribunal de Frango, Dias PToffoli anulou as delações premiadas da Operação Lava Jato. No Brasil é assim “mermo”: a Justiça troca de opinião como quem troca de camisinha. Aqui a Justiça é cega, surda, muda mas, em compensação é “fraca” da memória.

Foi tudo uma alucinação gente, foi uma “viagem” lisérgica emaconhada, botaram “ácido” na caixa d’água. Aqueles bilhões de dólares desviados, superfaturados, as confissões, os escândalos que assistimos pela TV foi tudo uma alucinação coletiva de 200 milhões de pessoas adito-dependentes. Foi tudo um bode-preto, um “cold-turkey”, uma bad trip que, graças ao Dias PToffoli foi esclarecido e sacramentado, a Odebrecht fica com a grana e a população vai ficar um ano internada numa clínica de reabilitação que é pra aprender a deixar de ser viciada.

Se o Supremo continuar nessa linha revisionista daqui a pouco o casal Nardoni será inocentado por falta de provas, o Maníaco do Parque será solto porque as vítimas não foram ouvidas em juízo e a Odebrecht vai receber de volta o dinheiro que pagou de propina com juros e correção monetária. Logo em seguida a construtora baiana, e o resto das empreiteiras, vai entrar com uma ação de danos morais e psicológicos ocasionados pelo “pau de arara” da operação Lava-jato. Para isso estão cobrando uma grana afrodescendente da União (ou seja, nós) a título de indenização remunerada.

Tenho pena desse homicida, o Danilo Cavalcante, que pegou uma “perpétua” nos EUA só porque cometeu um crime hediondo. Além de assassino cruel esse cara é muito otariano! Lugar pra ser criminoso é no Brasil, aqui só precisa arrumar um bom “adevogado” para que seus crimes kakaiam em algum buraco negro na primeira, segunda, terceira ou quarta instância e, em seguida, prescreva. Mas também a gente queria o quê? O atual presidente é um ex-presidiário e o ex-presidente é um presidiário-futuro. Este é um pais em que até o passado é incerto mas o futuro, todo mundo sabe, não vai dar em nada.

Agora o Supremo está julgando os golpistas de 8 de janeiro que não aceitaram a vitória do Lula, democraticamente eleito pela maioria das urnas eletrônicas fraudulentas. Naquele fatídico dia, um bando de aposentados enfurecidos e militares da passiva resolveu quebrar tudo na Praça dos Três Poderes para que o Brasil virasse uma ditadura igual Cuba, Coreia do Norte, Venezuela ou a Nicarágua. Ou então como a Rússia de Putin, que, condenado pelo Tribunal Penal Internacional, vai fugir para o Brasil onde Luísque Inácio Lula da Silva, o Janja, além de dar guarida, garante o samba, a caipirinha e a mulherada, pois ninguém é de ferro. Basta ser cara de pau.

Os mafiosos da Itália e qualquer filme policial americano já sabem há muito tempo que a vocação do Brasil é o crime e a corrupção. A única coisa organizada no Brasil é o crime, tanto é que funciona à nível municipal, estadual e federal.

Em vez de combater a criminalidade e a ladroagem, as autoridades tinham que transformar o país numa Disneylândia da bandalheira onde os bandidos teriam que pagar uma grana preta (quer dizer, afrodescendente) para continuar a exercer suas atividades ilícitas em liberdade. Com os trilhões de dólares arrecadados, poderíamos financiar a educação, a saúde e as obras de infraestrutura e, assim, o país poderia sair de sai atual condição de miserê e se tornar de verdade um gigante membro do G20. G20 centímetros, é claro. Transitado em julgado, cumpra-se antes que se determine o contrário.

Agamenon Mendes Pedreira é jornalista togado e andado