Foto: Mariana Nedelcu/ReutersJavier Milei, o ultraliberal vencedor das primárias na Argentina, que quer extinguir o peso e o Banco Central do país

Javier Milei: ameaça ou esperança?

Após décadas de fracasso da esquerda, o povo argentino está inclinado a ver esperança em uma direita que parece disposta a cumprir promessas
18.08.23

Enquanto caminhava pelas ruas de Mar del Plata, no litoral da Argentina, em 2019, passei por muros e outdoors que estampavam o rosto de Alberto Fernández. Vestígios da campanha eleitoral de quem havia acabado de ser eleito o 53º presidente da Argentina. Quatro anos depois, sentada de frente para o computador, em uma noite de domingo, leio a notícia de que Javier Milei, candidato com bandeiras totalmente opostas, venceu as eleições primárias para a Presidência da Argentina.

As manchetes que veicularam a notícia alternaram três termos para caracterizar a figura de Milei: ultradireitista, ultraliberal e representante da extrema direita. Antes de entender quais bandeiras o aparente novo fenômeno político do país defende, é interessante analisar o histórico político e econômico da Argentina. Apesar de as eleições primárias representarem apenas uma prévia, é evidente que o povo argentino foi de um extremo ao outro em eleições que a mídia considerou como o pior desempenho do peronismo desde a redemocratização, em 1983.

A Argentina vem enfrentando crises políticas e econômicas ao longo de décadas, marcadas por seis ditaduras e a ascensão do peronismo, iniciado no primeiro dos três mandatos de Juan Domingo Perón. Os seus principais pilares — populismo, forte intervenção estatal na economia, gastos exacerbados, políticas protecionistas, entre outros— foram o que levou a Argentina a ruir ao longo dos anos. Mais recentemente, o kirchnerismo, corrente do peronismo estabelecida pelo casal Néstor e Cristina Kirchner, em seus longos 12 anos de governo, fracassou ao repetir as mesmas políticas falhas.

Após o fim da era Kirchner e a eleição de Mauricio Macri, a herança peronista já era uma bola de neve e Macri se viu em uma verdadeira emboscada, que não terminou bem, pois ele não conseguiu lidar com os principais problemas, especialmente o endividamento externo. Logo, a ocupação da cadeira da Presidência por Alberto Fernández, junto à sua vice-presidente Cristina Kirchner, contribuiu para a situação que a Argentina vivencia hoje: inflação ultrapassando os 100%, descontrole fiscal e populismo.

Com a Argentina chegando a um aparente ápice da crise, o povo parece querer respirar novos ares na política e apostar na direita. O deputado e economista Javier Milei tomou conta do cenário político ao vencer as primárias no início da semana. Ele se diz um anarcocapitalista e defende ideias essencialmente liberais, como a privatização das empresas estatais, a abertura comercial, a reforma trabalhista e administrativa, a valorização da propriedade privada e a redução dos gastos públicos — propondo, por exemplo, a erradicação de 10 ministérios.

Em seu forte discurso, Milei enfatizou que os países mais livres são oito vezes mais ricos que aqueles que têm a economia reprimida. O Ranking da Liberdade Econômica mostra que os países mais livres são os de Primeiro Mundo, com Suíça, Dinamarca e Holanda como exemplos. E entre os menos livres estão países como Venezuela e Coreia do Norte. Os resultados de países que executam propostas e defendem valores liberais são evidentes.

De fato, Milei não está errado. Promete acabar com o Estado inchado e com o que chama de “casta política”. Promete promover uma “revolução liberal”. E ao trazer dados, questiona: “Por que temem o modelo da liberdade?”. Logo, ele mesmo responde, dizendo que esse é o modelo que acaba com o “roubo dos políticos”. Uma fala emocionada e aparentemente clichê, mas que traz uma verdade: um Estado inchado é e sempre será suscetível a escândalos de corrupção, a fracassos oriundos de políticas populistas e a gastos desenfreados com a máquina, enquanto o povo padece diante de um verdadeiro parasita estatal. Isso mostra que Javier Milei não é um ultradireitista, mas sim um ultraliberal — a extrema direita jamais preservou Estados mínimos.

Não sabemos se Javier Milei será eleito. Não sabemos se, de fato, ele colocará em prática as suas bandeiras. Mas sabemos que, após décadas de fracasso da esquerda, o povo argentino está inclinado a enxergar esperança em uma direita que, a princípio, parece disposta a cumprir com as suas promessas. Uma coisa é certa: qualquer mudança leva tempo, especialmente depois de anos desastrosos. Mas, se o ultraliberal executar as suas propostas ultraliberais, a Argentina encontrará a luz no fim do túnel.

 

Letícia Barros é advogada e vice-presidente do LOLA Brasil

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  1. OS "PILARES" QUE ARRUINARAM A ECONOMIA DA ARGENTINA SÃO OS MESMOS QUE O LUISQUE LULA DA SILVA, VULGO "JANJA" QUER IMPOR AQUI NO BRASIL. CASO SEJAM IMPLANTADOS, POSSO DIZER: NÓS SOMOS A ARGENTINA AMANHÃ, UM TITANIC.

  2. Tomara que dê tudo super certo pra eles - a chance de uma política liberal impulsionar a economia é enorme - e finalmente a gente resolva colocar o mesmo tipo de política por aqui. O mais perto que temos do liberalismo econômico no Brasil é o pessoal do partido Novo.

    1. Perfeito! Chega de Lulalixo e Bolsolixo.................ninguém aguenta mais esses dois obnóxios...

  3. Articulista esclareceu bem as diferenças dos nomes que se dão as pessoas (ultra). Pelo que entendi dos discursos do Milei, ele quer implementar os princípios da Escola Austríaca. O que será muito bom para a Argentina e para a América Latina.

    1. E o Brazzil tb. até pq apagão aqui tá demais, desde o concreto ao das mentes dos brazucas.

  4. Somente uma questão. O povo argentino quer mesmo uma economia ultra-liberal, onde todo mundo tem que trabalhar, sem almoço grátis provido pelo governo?

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