Foto: Simone Mello/Agência IBGE NotíciasRecenseador do IBGE: vivemos o século do colapso populacional

A palavra mais importante deste século: demografia

A demografia brasileira e mundial está mudando cada vez mais rápido. E o resultado disso pode acabar afetando você
06.07.23

O Censo divulgado pelo IBGE na última semana provocou choro no mundo das ciências atuariais. Segundo o IBGE, somos um país de 203 milhões de habitantes, quase 12 milhões a menos do que a estimativa anterior.

O número tem implicações imensas para o país, reforçando a urgência de determinadas reformas.

Na prática, estamos diante de um fenômeno global. Este é o século do “colapso populacional”. A população global, que cresceu 8 vezes nos últimos 200 anos, irá começar a diminuir.

Para os que permanecerem por aqui, isso implica uma população cada vez mais idosa e menos pessoas para trabalhar.

Do ponto de vista da previdência, a mudança torna a situação insustentável. Mas a questão vai além. Uma população idosa demanda também mais recursos para saúde.

De quebra, nossa economia também tenderá a crescer menos. Note que nas últimas três décadas o Brasil teve um crescimento pífio de 2,2% ao ano. Deste valor, cerca de 1,7% foi fruto do crescimento populacional, enquanto os restantes 0,5% vieram do aumento de produtividade.

Este aumento de produtividade (que está no mesmo nível há 4 décadas), ganha ainda uma contribuição positiva por parte da agricultura, o único setor cuja produtividade cresce de forma relevante.

Em outras palavras, o setor de serviços e a indústria estão com uma produtividade ainda menor.

Em um estudo publicado em meados de 2019, economistas da Câmara dos Deputados estimaram que, mantida a tendência demográfica da época (antes da pandemia portanto), o país poderia chegar a 2048 com a mesma renda per capita de 2018. Ou seja, três décadas para retornar ao mesmo ponto.

Estes são números verdadeiramente alarmantes, mas o Brasil não está sozinho.

Na China, que em 2022 teve a primeira queda populacional desde o genocídio de Mao Tse Tung, espera-se que a população caia pela metade até o final deste século.

Isto per se gera uma pressão social no país. Como outros países asiáticos, a China não possui uma previdência pública (está engatinhando na área ainda). Isso significa dizer que os idosos dependem ou da renda dos filhos (convém lembrar que a política do filho único durou até a década passada), ou de seus imóveis.

Com menos pessoas nascendo, a demanda imobiliária se torna menor, reduzindo o retorno desses ativos. Como 70% da riqueza chinesa, estimada em 100 trilhões de dólares, está em imóveis, a queda populacional pode implicar um derretimento da poupança chinesa.

Menos imóveis sendo construídos na China também significa menos minério de ferro exportado pelo Brasil. Mesmo no agro, a população chinesa tende a reduzir a demanda brasileira.

Nossa esperança, neste caso, seria a Índia ocupar o lugar. Não é uma certeza, porém.

A queda populacional também afeta a Europa, cada vez mais velha e com 25% de todos os gastos sociais do mundo para uma população equivalente a 8% da população mundial.

Mas nem tudo são lágrimas.

A queda populacional em países ricos pode significar um incentivo maior a imigrantes. Isso significaria para o mundo a possibilidade de uma primeira globalização do trabalho. Nas últimas décadas, favorecemos uma globalização do capital. Investir em outros países e circular o dinheiro pelo mundo tornou-se muito mais fácil. Fazer circular a mão de obra, porém, é um desafio que ainda não foi encarado.

Outro efeito positivo está na queda da violência. Algo especialmente bem-vindo no Brasil.

E um terceiro fator, também muito necessário por aqui, está no aumento da poupança. Uma população mais velha tende a economizar mais recursos.

Não deve demorar para que estes efeitos sejam sentidos.

Imagine, por exemplo, que o Brasil que Lula assumiu em 2023 é um país com uma média de idade oito vezes maior do que era em 2003.

Naquela época, os brasileiros possuíam em média 25 anos. Neste momento, a média está em 33.

Resolver os desafios demográficos é, portanto, uma questão urgente se quisermos evitar que o Brasil se torne um país velho e pobre.

Dentre estes desafios, está o aumento da produtividade.

Pegue por exemplo aquele crescimento médio do PIB citado acima. Se quisermos continuar crescendo 2% ao ano, um número medíocre, precisaríamos quadruplicar a produtividade brasileira, de 0.5% atuais para 2%.

Com 2% de crescimento, temos que a economia dobra a cada 36 anos. Agora, para chegarmos a um nível de renda considerado desenvolvido, de 30 mil dólares per capita, precisaríamos fazer isto duas vezes.

Na prática, o Brasil levaria 72 anos para chegar a um nível de renda como o de Portugal, um dos países mais pobres da Europa. Isto, claro, se conseguirmos quadruplicar nossa produtividade.

Para começar, é necessário que se dê a devida importância a uma reforma tributária.

Não há, em hipótese alguma, condições de o Brasil crescer sem que nosso manicômio tributário seja reorganizado.

E este, claro, é só um primeiro passo. Serão necessárias ainda inúmeras reformas, além de garantias e segurança jurídica capaz de permitir o investimento e acúmulo de capital necessário para elevar a produtividade.

 

Felipe Hermes é jornalista

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  1. "Imagine, por exemplo, que o Brasil que Lula assumiu em 2023 é um país com uma média de idade oito vezes maior do que era em 2003. Naquela época, os brasileiros possuíam em média 25 anos. Neste momento, a média está em 33." - Acho que o articulista quis dizer 8 anos, não 8 vezes, maior.

  2. Só se comprova em números o que já podemos supor considerando nossa realidade. Minha família está quase extinta. Além disso, não vamos esquecer tudo de mau que o ser humano vem produzindo para acabar com o Planeta. Só acho natural é que o período que vivemos será extinto como o dos dinossauros e, passado milhões de anos, tudo voltará ao normal.

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