ReproduçãoJovem Pan: medida drástica contra o grupo suscita preocupações com a liberdade de expressão

Até quando o Judiciário vai banalizar a liberdade de expressão?

Além do cancelamento das licenças da Jovem Pan, o MPF busca uma indenização de 13,4 milhões de reais por danos morais coletivos
29.06.23

É legítimo solicitar ao Senado que paute o impeachment de Alexandre de Moraes? Bem, o Ministério Público Federal (MPF) entende que não, especialmente se essa solicitação for feita por uma emissora de direita. Esta semana, o MPF tomou uma medida drástica ao solicitar a cassação de três concessões de radiodifusão atribuídas à renomada emissora Jovem Pan. A ação tem como fundamento a disseminação de “desinformação eleitoral” e o incentivo a ataques antidemocráticos por parte do grupo de comunicação. Além do cancelamento das licenças, o MPF busca uma indenização de 13,4 milhões de reais por danos morais coletivos, correspondendo a 10% do patrimônio da emissora. Essa ação levanta questões cruciais sobre a liberdade de expressão, a influência dos veículos de comunicação e o papel do sistema judiciário na regulamentação do discurso público.

A Jovem Pan é acusada de criticar autoridades e instituições republicanas, além de supostamente incitar a desobediência às leis e decisões judiciais. Coincidentemente ou não, é uma das poucas emissoras que tem sua linha editorial em sintonia com a direita e adota uma postura crítica em relação ao governo federal. Entre os posicionamentos da emissora que estão no processo do MPF, destaca-se a pressão para que o presidente do Senado aceite o pedido de impeachment do então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), com a jornalista Ana Paula Henkel afirmando que Alexandre de Moraes é considerado o maior entrave ao desenvolvimento do país.

Não é novidade que uma parte significativa da imprensa brasileira apresenta inclinações de esquerda. De acordo com uma pesquisa recente divulgada pela Gazeta do Povo, cerca de 80% dos jornalistas se declaram de esquerda. É evidente que, ao observar a mídia inclinando-se cada vez mais para uma ala política ideológica, há um impacto nos resultados eleitorais devido à influência que a imprensa exerce sobre a opinião pública. Além disso, é importante lembrar que uma parcela significativa do orçamento federal é destinada ao financiamento da imprensa brasileira, o que, naturalmente, influencia os assuntos abordados e até mesmo a linha editorial dos veículos de grande circulação. Embora essas situações possam ser questionadas, não representam um grande problema democrático, já que em tese ainda existe liberdade de imprensa para a disseminação de conteúdo por meio de diferentes correntes ideológicas.

No entanto, a situação se torna alarmante quando nos deparamos com casos em que uma emissora de comunicação que ousa divergir da tendência predominante da mídia brasileira e adota uma posição mais alinhada à direita, como é o caso da Jovem Pan, enfrenta intervenção por parte do sistema judiciário buscando censurá-la. Estamos diante de uma situação de censura, na qual o MPF busca efetivamente encerrar a concessão pública de um veículo de comunicação devido às suas opiniões políticas. Essa abordagem suscita sérias e preocupantes questões sobre a liberdade de expressão e o pluralismo de ideias em nosso país. Ações como essas representam uma ameaça à diversidade de opiniões e à livre circulação de informações em nossa sociedade. É essencial refletirmos sobre os impactos dessa tendência e defendermos incansavelmente a preservação dos pilares democráticos que sustentam nossa nação.

Vimos também, ao longo da campanha eleitoral de 2022, situações questionáveis envolvendo uma instituição judicial, o TSE, que, teoricamente, deveria zelar pela democracia e seus valores fundamentais, incluindo a liberdade de expressão. Observamos casos repetidos em que essa instituição foi utilizada para beneficiar um dos atores políticos envolvidos no processo eleitoral. Um exemplo disso foi a censura prévia de um documentário da produtora Brasil Paralelo e a proibição do uso de palavras que supostamente questionavam a dignidade de um dos candidatos, mesmo que essas palavras se referissem a fatos verdadeiros. Esse precedente já foi estabelecido e o que testemunhamos hoje é apenas mais uma consequência da crescente relativização da liberdade de expressão.

Em uma democracia, a liberdade de expressão é um princípio fundamental. Em uma democracia, há espaço para a pluralidade de ideias e o direito de cada cidadão questionar suas autoridades. É crucial assegurar a plena liberdade e a diversidade de vozes, mesmo diante de opiniões polêmicas ou divergentes da maioria. Qualquer tentativa de restringir essas liberdades suscita sérias preocupações sobre o futuro da democracia e a garantia dos direitos individuais. Não podemos permitir que no Brasil ocorra o mesmo cenário presente na Coreia do Norte, onde apenas uma corrente partidária domina a mídia.

 

Anne Dias é advogada, presidente do LOLA Brasil e líder do Livres

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  1. Discordo de a autora sequer mencionar que o canal de televisão se valia muito de meias verdades e inverdades e acredito que alguns dos jornalistas tinham atitudes muito irresponsáveis. É uma vergonha para a direita. É uma pena que o país tenha tão poucos meios de diversificar o discurso político.

  2. Na minha opinião é o STF aparelhado mero tentáculo do bando no poder é o maior problema do país com altas cortes desmoralizadas sem nenhum prestígio ou respeito do povo que virou refém de seus crimes hediondos que terão de ser reparados um dia podem estar certos, hoje os adversários depois os cidadãos que ousam se contrapor e prevejo e até a vitória final da dignidade e da decência muitos pereceremos sob o cutelos dos ditadores .. idoso e adoentado estou pronto para a guilhotina dos assassinos.

  3. Neste país, ao mesmo tempo que temos o MPF, um braço do estado, querendo falar um veículo de imprensa de oposição, temos o partido do presidente (e representante majoritário do governo) querendo uma concessão de mídia. Tudo normal, segue o jogo e vamos plantando mais uma bananeira na nossa Republiqueta das bananas

  4. Apesar da banda podre da JP e da passação de pano absurda que fizeram pro Bozonazi, é péssimo pro país esse cerceamento da liberdade de expressão. Estão sufocando o debate na origem. Mesmo ideias ruins precisam ser expostas ao debate, pra população saber que são ruins, ou talvez perceber que pode haver algo de bom ali. Infelizmente o "amor" venceu...

  5. É interessante o caso da Gazeta do Povo, pois faz parte de um grupo de comunicação paranaense que também é afiliada à Globo. Então no canal de TV não há como interferir, mas no jornal eles continuam com sua pauta de Direita, inclusive tendo semanalmente uma coluna escrita por Deltan. Sobre a Jovem Pan nunca pensei que eu defenderia, especialmente por tanto que passaram panos para as palhaçada do Mito, mas agora estou com eles. Sem assistir aos programas, até porque cansei da TV

  6. Uma iniciativa do Ministério Público, pelo estabelecimento da censura contra um grupo da comunicação, é ação contra uma de sua atribuições fundamentais: a defesa do Estado Democrático de Direito. Se o subscritor da petição inicial da referida ação é petista, é direito dele. Mas a sua posição política não pode direcionar sua atuação institucional. Sou procuradora Regional da República aposentada, e sinto vergonha ao ver o uso da instituição em prol do grupo político que domina no momento.

  7. Antes de mais nada " #somos todos Jovem Pan". O despotismo avança a passos largos e o consórcio de mídia passa pano. A sociedade tem que demonstrar forte repúdio a isso.

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