Ricardo StuckertLula, ainda achando que é o tal: perdendo o prestígio no exterior, restará a ele governar o país que preside

Um presidente bem trapalhão

Nem a Bolsa está dando muita pelota para o que Lula fala ou faz, e vejam que ele governa (será que governa mesmo?) há apenas cinco meses
02.06.23

Esta semana, li o livro Alternativas do Brasil (Editora José Olympio),
escrito por Hélio Jaguaribe (1923-2018), acadêmico de enorme prestígio,
PhD pela Universidade de Mainz (Alemanha) e ex-professor de Harvard,
Stanford e MIT.

O texto foi publicado em 1989, durante o governo Sarney, logo após a promulgação, pela Assembleia Nacional Constituinte, da Carta Magna de
1988 e ao longo do período angustiante da hiperinflação dos anos 1980.

Jaguaribe culpa Sarney e o novo texto constitucional por vários males que atingiram o país naquela década, principalmente a deterioração moral que passou a prevalecer entre a classe política e o funcionalismo público em geral.

Segundo ele, a partir da entrada em vigor da Constituição de 1988, o Congresso passou a ter o poder e o presidente da República, a responsabilidade.

Ainda bem, digo eu. Já imaginaram se Luiz Inácio Lula da Silva pudesse governar sem ter de se submeter ao crivo do Legislativo?

2

Beneficiado pelos atos golpistas de 8 de janeiro, que lhe deram um sopro
de alívio, Lula achou que era o tal.

Visitou Argentina, Uruguai, Estados Unidos, China, Portugal e Espanha.
Compareceu à coroação de Charles 3º na Inglaterra e foi convidado para
participar do G7 em Hiroshima.

Sentiu-se o todo-poderoso, um líder mundial. Só esqueceram de lhe avisar que, além dos sete países que dão nome ao grupo, surgiram por lá, também a convite, Austrália, Índia, Coreia do Sul, Vietnã, Comores, Ilhas Cook e Ucrânia.

Lula se julgou capaz de intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, embora não saiba nem um centésimo da relação entre essas duas nações ao longo dos séculos, sendo que durante um tempão foram uma só, tanto nos anos dos Tzares de Todas as Rússias como na época da União Soviética.

Alguma coisa de seu profundo desagrado (quem sabe o puseram na mesa errada entre dois chefes de estado errados em um dos banquetes?) deve ter acontecido em Hiroshima, pois ele saiu de lá descendo o sarrafo na Europa e nos EUA.

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Já lá se foi o tempo em que os militantes do próprio partido do presidente saíam às ruas gritando slogans antiamericanos e jogando pedra nos consulados.

Pois bem: seguindo em frente nessa, oops, narrativa, o presidente procurou reassumir a liderança da América do Sul. Reuniu em Brasília os chefes de estado do continente.

E começou prestigiando o pior deles, Nicolás Maduro, um blend de tiranete com chefe de gangue, que subjuga seu povo sem lhe trazer contrapartida material alguma, com exceção dos integrantes das milícias e forças bolivarianas, seja lá o que esse adjetivo significa.

Os demais venezuelanos se limitam a comer o que de pouco há nas gôndolas dos supermercados, ou a revolver latas de lixo — isso quando não vão embora do país, o que já aconteceu com 7 milhões de pessoas, quase um quarto da população.

Resultado: os presidentes do Chile, Gabriel Boric, do Uruguai, Luis Alberto Lacalle Pou, do Equador, Guillermo Lasso, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez, criticaram Maduro (e, por tabela, Lula) publicamente, fora os que devem ter feito isso em conversas particulares.

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Quando, logo após tomar posse, Lula visitou a Argentina, na volta fez uma parada no Uruguai para tentar evitar que Lacalle Pou assinasse um acordo comercial bilateral com a China, o que esvaziaria o bloco do Cone Sul.

Lacalle Pou não respondeu na hora, mas é bem possível que o evento em Brasília o tenha feito tomar uma decisão. E não deve ser a que Lula quer.

Pois bem, perdendo rapidamente o prestígio que obteve na Europa e nos EUA ao assumir o governo (mais por causa da aversão quase universal ao antecessor, Jair Bolsonaro), resta a Lula governar o país que preside.

É aí que ele se lasca todo.

Se vivo estivesse, acredito que o professor Jaguaribe já não lamentasse tanto, como faz no Alternativas do Brasil, o fato de o presidente brasileiro, por força dos ditames da Constituição de 1988, ter seu poder extremamente limitado pelo Legislativo — limite esse que, julgo eu, logo se estenderá às altas cortes do Judiciário, uma vez que está se tornando óbvio que Lula perdeu o juízo (com minhas desculpas pelo trocadilho), se é que o teve em algum momento.

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Logo no primeiro dia de governo, Lula assinou diversas MPs (medidas
provisórias), entre elas uma que reorganizava o arcabouço (só para usar
uma palavra da moda) ministerial deixado por Bolsonaro.

Estou escrevendo esta crônica antes de a MP ser apreciada na Câmara. Há três possibilidades: ser aprovada pelos deputados, ser rejeitada ou deixarem que perca a validade à meia-noite de quinta-feira, dia 1º, para sexta, dia 2.

Ou seja, o presidente Lula pode estar perdendo várias guerras em diversos terrenos diferentes.

O interessante disso tudo é que o índice Ibovespa fechou em alta no mês de maio, tendo se valorizado quase 4%.

Pois é, nem a B3 está dando muita pelota para o que Lula fala ou faz. E vejam que ele governa (será que governa mesmo?) há apenas cinco meses.

Um ótimo fim de semana para todos.

 

Ivan Sant’Anna é escritor

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  1. Sim, Lula perdeu o juízo e perdeu o valor para os petistas da esquerda intelectual. Não vejo manifestações dos artistas também. Só Reinando Azevedo e VILLA continuam segurando a imagem do descondenado, mas, no caso, deve ser só para manterem seus empregos.

  2. Até o Brasil receber uma sansão internacional os Faria Limers não vão dar bola para o Lule, depois do Brasil receber uma sansão internacional e perder mais uns pontos de investimento aí vão se preocupar. Se eles puderem se preocupar, pois pode ser tarde demais para reclamar.

  3. Muito bom! Enfim quero muito acreditar que o legislativo dê um jeito no judiciário também. Lul@ é um 0 a esquerda, vergonha mundial.

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