Foto: Ricardo Stuckert/PROs presidentes sul-americanos em reunião no Brasil: Lula sonha acordado com a consagração como líder do "Sul Global"

A mais recente mancada de Lula

Presidente chamou de “narrativa” a constatação da ditadura de Maduro na Venezuela e foi repreendido de imediato por colegas de Chile e Uruguai
02.06.23

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sonha unir a América Latina em torno dele. E uniu. Ele conseguiu uma América quase inteira. Mas contra. Não a favor. Apenas algumas exceções, como a Cuba de Díaz-Canel e a Nicarágua de Daniel Ortega, que, aliás, provam que não há comunismo neste continente, mas só fascismo. Como revela o baiano Joaci Góes em seu magnífico tratado  Esquerdas e Direitas – A superioridade das sociedades abertas (Topbooks, 2023), o bestial Ortega reza na cartilha do antecessor direitista na Nicarágua, Anastásio Somoza Debayle, e não na de Marx e Engels.

Na reunião coroada por esse feito, na sede do Itamaraty, Lula afirmou que as considerações de que a Venezuela vive um regime ditatorial são “narrativa”. O barbarismo linguístico é um detalhe desimportante se considerarmos a reação dos colegas reunidos. “Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo”, disse o petista no dia 29. Chegado de uma visita à China, em que se alinhou ao ditador fascistoide Xi Jinping, escravocrata em pleno século 21, ele candidatou-se a pombo da paz da invasão da Ucrânia pela Rússia, aderindo ao invasor. Nenhuma dessas asneiras, contudo, pode ser comparada à desta semana.

“Fiquei surpreendido quando se falou que o que aconteceu na Venezuela é uma narrativa. Todos já sabem o que nós pensamos com respeito à Venezuela e sobre o governo da Venezuela. Se há tantos grupos no mundo que estão tratando de mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, que se respeite os direitos humanos, que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com o dedo. Damos o nome que tem e ajudamos”, afirmou o uruguaio Lacalle Pou. A referência ao dedo que lhe falta não deve ser considerada uma grosseria imperdoável contra Lula, pois o apelido de nine fingers (nove dedos) que lhe dão os bolsonaristas é uma ofensa que nem sequer se aproxima do negacionismo petista que torna o “óbvio ululante” rodriguiano uma falseta absurda.

“Não se pode varrer para debaixo do tapete ou fazer vista grossa sobre princípios importantes. Respeitosamente, discordo do que Lula disse ontem. Não é uma narrativa, é uma realidade, é séria e tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que vivem na nossa pátria e que exigem uma posição firme e clara”, afirmou o chileno Gabriel Boric, cobrando respeito aos direitos humanos, independentemente da linha política do governante de turno. A declaração de Boric chutou para escanteio a fake news favorita de um pretenso líder veraz —que, aliás, já bajulou chefetes tribais bárbaros, casos do líbio Kaddafi e do angolano José Eduardo dos Santos, cuja militância filossoviética não evitou que em 38 anos no poder sua filha, Isabel, se tornasse a mulher mais rica da África. Ou ainda sua devoção ao cubano Fidel Castro e ao ex-agente da KGB Vladimir Putin.

Em certeiro artigo no UOL, o desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo Wálter Fanganiello Maierovitch assim descreveu a pisada na bola do ex-dirigente sindical: “O Lula esqueceu ter sido eleito, única e exclusivamente, pelo apoio recebido dos democratas e cultores do Estado de Direito. Dos que abominam ditaduras e autocratas que forjam eleições”. O jurista liberal distribuiu na internet o editorial de O Estado de S. Paulo de 31 de janeiro. O título não deixa dúvidas: Lula envergonha o país.

O chumbo disparado no último parágrafo revela adesão às palavras de Boric e Lacalle Pou: “Em seus delírios, a Venezuela voltará a se beneficiar de vultosas obras de infraestrutura financiadas pelo Brasil, como se o Ministério da Fazenda não estivesse catando moedas no vão do sofá para fechar as contas. Lula também promete ajudar a Venezuela a integrar os Brics. Como se sabe, Rússia e China, junto com autocracias como Irã, Turquia e Arábia Saudita, planejam transformar esse grupo econômico de emergentes em um clube geopolítico antiocidental. A julgar pelo obsceno discurso de Lula, é uma narrativa que faz brilhar os olhos do chefão petista, que parece sonhar acordado com o dia de sua consagração como grande líder desse tal Sul Global”.

A agressão da jornalista da Globo Delis Ortiz, que tentava ouvir e não atacar o soba venezuelano, por um jovem miliciano com perfil de militante da SS ou dos fasci di combatimenti, sem a devida reação indignada do desgoverno de 37 pastas, contesta a jactância de quem se jacta de ser o mais honesto dos brasileiros.

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor

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  1. Os que acreditaram no lula democrata entre os quais o nobre jornalista se insere, podem ser definidos como idio.tas úteis, cúmplices ou ingênuos, sendo que pouquíssimos pertencem a terceira categoria. O lá.drao sempre defendeu suas posições e disso ninguém pode alegar que ele mentiu, agora é passar a vergonha junto com o “democrata” e torcer para seus 4 anos passem muito rápido

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