Foto: Ricardo Stuckert/PRLula faz gesto de coração: o PT não parece preparado para encontrar um jeito de resolver seus problemas políticos

As miseráveis narrativas de Lula

Para o presidente, a democracia é o regime em que a divisão dos Poderes só vale se houver apoio irrestrito ao seu governo, que já nasceu póstumo
02.06.23

Lula vive de narrativas. No seu primeiro mandato, em 2005, tentou nos convencer de que não sabia que seus velhos companheiros de partido compravam parlamentares no varejo do Congresso Nacional. Fez um pronunciamento dizendo que se sentia traído e indignado com tanta roubalheira envolvendo o seu governo. Ninguém acreditou.

Depois, com o escândalo das propinas milionárias da corrupção na Petrobrás, ele tentou nos convencer de que não sabia como seus pertences foram parar no sítio de Atibaia e nem como o nome de seus netos foi parar nos pedalinhos em formato de cisne. Dessa vez, o Judiciário levou a sério a narrativa do site Intercept de que a Operação Lava Jato perseguiu cidadãos honestos que um dia, e sem querer, assaltaram os cofres das estatais porque foram obrigados e oprimidos pelo sistema de degradação moral que se tornou a política brasileira. Os nobres ministros se basearam em tecnicalidades jurídicas quase enigmáticas para anular as sentenças contra Lula, ajudando a justificar a narrativa de que os crimes ocorridos na Lava Jato jamais aconteceram.

Mas, para as narrativas de Lula, os detalhes não importam. No mês passado, ao ser questionado por um jornalista português sobre as violações dos direitos humanos na China, o presidente disse que os chineses “encontraram um jeito de resolver seus problemas políticos”. O Brasil também, tapando os olhos e os narizes para toda sorte de trambicagens.

E, se vale para esconder a corrupção do Brasil e o autoritarismo do governo chinês, também vale para as violações de direitos humanos do regime de Nicolás Maduro. Para Lula, o ditador venezuelano também encontrou um jeito de resolver seus problemas políticos. Segundo Marta Valinas, chefe da Missão de Direitos Humanos da ONU na Venezuela, “as forças de segurança venezuelanas planejaram e levaram a cabo perseguição de opositores, com assassinatos e o uso sistemático de tortura que, longe de serem atos isolados, foram coordenados e cometidos de acordo com as políticas estatais, com o conhecimento ou o apoio direto de comandantes e altos funcionários do governo da Venezuela”.

Mas, para Lula, a democracia é o regime em que a divisão dos Poderes só vale se houver apoio irrestrito ao seu governo. O presidente é uma espécie de antropoide político que não permite qualquer vestígio de representação que não estiver de acordo com as suas vontades. O problema é que o Centrão também encontrou um jeito de resolver seus problemas políticos. Quer dar um grande reset numa gestão inoperante, que nem sequer teve a competência de articular a MP que reorganiza os ministérios, algo que poderia desmontar o governo do dia para a noite. A incompetência custou R$ 1,7 bilhão em emendas porque, apegado ao mundinho alternativo das suas narrativas miseráveis, Lula abandonou a política interna, deixando o país no caos enquanto viajava o mundo tentando se passar por líder mundial.

Mas a visita de Maduro, recebido com toda pompa e circunstância, talvez tenha sido a pá de cal do terceiro reinado lulista. Acabou a ilusão das narrativas, e o PT não parece preparado para encontrar um jeito de resolver seus problemas políticos. A lua de mel com a imprensa também parece ter chegado ao fim com a agressão vergonhosa dos jagunços de Maduro à jornalista Delis Ortiz. Aos poucos, todo mundo vai se dando conta de ter sido enganado por mais uma narrativa miserável de Lula. Mais um pouco e todos vão se lembrar que, ainda em 2012, o sociólogo Chico de Oliveira, um dos fundadores do PT, num momento de sinceridade involuntária, afirmou que “Lula é só um oportunista sem caráter”. A verdade é que esse governo já nasceu póstumo.

 

Diogo Chiuso é escritor e autor do livro “O que restou da política”, publicado pela editora Noétika em 2022

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  1. Não aceito que me digam que foram enganados. Lula deixou bem claro quem é nos seus 2 primeiros mandatos e em tudo que foi descoberto pela lava jato.

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