Maurício Val/FVImagem/CBVWallace na final da Superliga de Vôlei

O bloqueio do Conselho de Ética do COB

Que tal fazer Wallace rolar uma bola de vôlei montanha acima por 90 dias?
05.05.23

Por ousar desafiar os deuses do Olimpo, o titã Atlas foi punido por Zeus com o castigo de sustentar os céus nos próprios ombros. Foi com esse espírito que o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) puniu o oposto Wallace de Souza nesta semana, após o jogador de vôlei entrar em quadra pelo Cruzeiro para marcar o último ponto da Superliga no último fim de semana. O Conselho de Ética do COB impôs uma suspensão de cinco anos para o atleta e um corte de verbas à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) que pode impedir o Brasil de disputar a Olimpíada de Paris.

Os conselheiros Ney Bello Filho, Sami Arap, Humberto Aparecido Panzetti e Guilherme Faria da Silva suspenderam repasses para a CBV por seis meses, o que deve deixar a confederação sem 36 milhões de reais. Como a decisão não tem qualquer precedente, não se sabe se as seleções brasileiras masculina e feminina de vôlei conseguirão disputar os torneios pré-olímpicos e, por consequência, os Jogos Olímpicos de 2024. O motivo? Uma postagem irresponsável no Instagram.

Tudo começou em janeiro último, quando o jogador compartilhou uma pergunta feita por um de seus seguidores, após postar imagens suas em um clube de tiro: “Daria um tiro na cara do Lula com essa 12?” Wallace expôs a pergunta junto com uma enquete  — “Alguém faria isso?” — acompanhada por um emoji angelical, com auréola. Apagou a postagem horas depois e gravou um vídeo para pedir desculpas. Não foi o bastante. O jogador foi suspenso no mês seguinte por 30 dias. A punição subiu para 90 dias posteriormente e, agora, está fixada em cinco anos.

Parte do peso da punição se explica por questões de política interna. Wallace entrou em quadra na final do campeonato escorado por uma decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), patrocinada pela CBV e endossada pelo Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem. O Conselho de Ética do COB entendeu assim a manobra: “A Confederação Brasileira de Voleibol, que compõe a estrutura do esporte olímpico nacional e internacional, e guarda vínculo com o Comitê Olímpico do Brasil e, portanto, com o Comitê Olímpico Internacional, operou no sentido de desconhecer decisão do próprio COB, valendo-se de uma ilegítima consulta efetuada a uma entidade privada que não possuía competência para decidir a questão posta”.

A outra parte da decisão é de política externa, por assim dizer. “Todo atleta olímpico é um professor, pois seus atos e gestos ensinam. Como desejar segurança e paz quando esse atleta e professor incita violência com arma de grosso calibre, envergonhando a todos que veem no esporte a construção de bons valores e bons princípios?”, questiona o Conselho de Ética. Está claro que os conselheiros do COB enxergam o esporte do alto — do alto da Cordilheira do Atlas, para manter a referência mitológica —, e estão corretos ao fazê-lo.

O exagero, num caso como esses, é muito mais prudente do que a leniência, porque passa uma mensagem clara sobre os limites a serem respeitados. É o que todo brasileiro cobra nas esferas de decisão política do país. Mesmo assim, as punições estipuladas pelo Conselho de Ética do COB soam desproporcionais. “O que as pessoas precisam entender é que sou um ser humano e pai de família. Erro como qualquer um. Não sou bandido e não irão me tratar como se fosse. Quem nunca errou? Para julgar, é necessário separar o Wallace atleta do Wallace cidadão”, argumentou o jogador, em entrevista ao jornal mineiro O Tempo.

O fato de ser pai de família não advoga a favor de Wallace e talvez agrave seu ato. Separar o atleta do cidadão também não está em cogitação, é o fardo de seu sucesso. Mas jogar nas costas dele a perda da disputa de uma olimpíada é uma crueldade desnecessária. Que os deuses do Conselho de Ética do COB encontrem uma outra forma de punir com severidade o atleta e sua confederação amiga — talvez rolar a bola de vôlei montanha acima por 90 dias, realizar 12 trabalhos sociais, não falta referência histórica.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Esse conselho de ética do COB é uma piada de mau gosto. Prejudicar o vôlei brasileiro, um dos melhores do mundo, por causa de um besteirol. Gente que não coisa melhor para fazer na vida. Espero que repensem essa asneira.

    1. Foi assim com o Mauricio de Sousa, desligado da seleção e perdendo todos os patrocinadores por conta de uma declaração babaca. Uma multa e uma suspensão por uns jogos já puniriam o suficiente.

  2. Bem claro aqui um exemplo de “notícia” eivada de opiniões do… hmmm jornalista? Mais parcial impossível, volte algumas casas e leia a matéria sobre as “fake news do Partido Liberal”. É por porcarias como esta aqui, leitor, que vc deve dizer um sonoro N-Ã-O ao Projeto de Lei das “fake news”, pq se ele for aprovado a visão deturpada e maniqueísta de um qualquer passa a ser A NOTÍCIA, O FATO. O tal Conselho de Ética pode ignorar uma decisão da Justiça Desportiva? Então pra quê existe STJD? Rs

    1. a sequência da carreira de centenas de outros jogadores PROFISSIONAIS. Curioso é que até outro dia um ex-presidente do COB foi indiciado por corrupção e condenado a 30 anos e 11 meses de prisão; o cidadão está solto recorrendo em liberdade (www.uol.com.br, 05/04/2023) 😳‼️ Sérgio Cabral, aqueeeele dos guardanapos em Paris, foi descondenado (também) 🥱‼️ Mas para o atleta Wallace, prenda-se e jogue-se fora a chave que a extrema imprensa inventa uma desculpinha esfarrapada.

    2. Apesar do erro original do atleta a punição aplicada pelo tal Conselho de Ética é absolutamente desproporcional, atinge todo o universo de jogadores filiados à CBV, é totalmente política e, não suficiente, questionável juridicamente posto que a justiça desportiva é independente e suas decisões devem ser cumpridas. O advogado Vinicius Loureiro chegou a questionar “a competência do órgão (Cons. Ética do COB) para julgar os fatos”. O COB está determinando o fim da carreira do jogador e prejudicando

  3. Pura hipocrisia, cometida por medíocres que ficam incomodados com o sucesso alheio .Junte isso com interesses políticos e financeiros, é só mais uma patacoada de Pindorama.

    1. Decisão puramente política, para agradar o ladrão, sem nenhum respaldo jurídico. Dias sombrios nesse início de ditadura

Mais notícias
Assine agora
TOPO