O problema da concentração urbana no Brasil
Já escrevi sobre o problema da concentração habitacional: como edifícios ou conjuntos habitacionais se tornaram tão populosos quanto pequenas cidades sem entretanto ter uma estrutura administrativa equivalente, o que causa problemas de todo tipo não só para os moradores, mas para a cidade ao derredor. Mas existe um problema maior e anterior, que é a concentração populacional nas cidades brasileiras.
A partir de 1950, com a industrialização, o Brasil passou por um processo de urbanização e metropolização. As cidades não pararam mais de crescer de modo drástico. Boa parte da migração para as cidades foi motivada por questões econômicas.
São Paulo, a maior cidade brasileira, é também a maior cidade do hemisfério sul, em densidade demográfica e relevância econômica. Certa vez o chef Anthony Bourdain citou uma frase pouco lisonjeira sobre São Paulo: “É como se Los Angeles tivesse vomitado Nova York”.
Para um brasileiro que viaja ao exterior – especialmente aos Estados Unidos – chama atenção o desenvolvimento econômico nos subúrbios e nas áreas rurais. Na Europa é possível reconhecer as redes de conexões – por vezes tão antigas – entre cidades pequenas, médias e grandes.
No Brasil, o contraste entre o campo e a cidade é gritante. Ao redor das grandes cidades brasileiras existem favelas e subúrbios, sendo que muitos desses subúrbios são favelizados.
Em geral, saindo das cidades, o comércio e os serviços são precários, assim como as estradas e os transportes. A vida cultural, nem se fala. E mais, diferente dos países desenvolvidos, onde se veem áreas cultivadas por todos lados, no Brasil o que mais se vê é simplesmente mato.
A impressão é de que ainda hoje o nosso país precisa tomar posse do próprio território. Essa foi a motivação da construção de Brasília, um projeto que remonta à época do império, com o mesmo objetivo: proteger o território brasileiro, interiorizar a população que era ainda mais concentrada no litoral do que é hoje.
E é preciso que se diga: Brasília atingiu bem esse objetivo. A cidade é um belo exemplo de fusão entre campo e cidade — o que estava já no projeto concebido por Lucio Costa, com suas quatro escalas, uma delas chamada de bucólica, com gramados, bosques, passeios, transformando a cidade numa cidade-parque.
Vivemos num tempo em que a tecnologia conecta as pessoas e tem sido cada vez menos necessário estar todo mundo junto numa cidade. Talvez isso venha a possibilitar um retorno ao interior e a exploração do território brasileiro. No livro A Cidade Brasileira, Antonio Risério cita o historiador francês Fernand Braudel, que diz que a cidade é “uma concentração inusual de pessoas, uma anomalia do povoamento”.
Nesse mesmo livro, Risério cita um estudo publicado na revista Science sobre o urbanismo pré-colombiano na Amazônia, que revela uma forma específica de planejamento e organização espacial da vida humana. “Vivendo em áreas alagadas, aqueles milhares de índios do Alto Xingu construíram povoações cercadas por muros, cavaram valas defensivas, abriram estradas, fizeram pontes e elevações do terreno”, diz Risério.
Os pesquisadores que escreveram o artigo, liderados por Michael Heckenberger, aproximaram essas vilas amazônicas à garden city de Ebenezer Howard, concebida para ser “uma combinação sadia, natural, econômica, da vida da cidade com a vida no campo”. Quem sabe um dia nesse país possamos trazer o exemplo da nossa pré-história amazônica, o exemplo das cidades-jardim e de Brasília, “cidade propícia à especulação intelectual e ao devaneio” (como está escrito por Lucio Costa no projeto da cidade), e propor um novo modelo de desenvolvimento que integre campo e cidade.
Josias Teófilo é cineasta e jornalista
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Não faz sentido isso! A revista tem uma série de colunistas bons em outras áreas. Procurem o Raul Juste Loures pra escrever sobre cidades. Ou até o Adriano Paranaíba. Leiam o blog Caos Planejado cheio de artigos e na vanguarda do urbanismo
Quase o oposto do que diz o excelente Raul Juste Lores ( SP nas alturas ) . Deveriam bater um papo! ( sinceramente. sairia coisa boa )
Brasília é uma cidade ruim pra se deslocar e cara demais pra se viver. E o interior, ao menos no sul e sudeste, que conheço, hoje oferece muita oportunidade e qualidade de vida que antes não existiam.
"Nóis semo subdesenvolvido mano..." Temos filhos sem a menor condição de sustenta-los com amor e dignidade, lançando-os ao mundo a sua própria sorte, ou por ter nascido aqui no Brasil... ao seu próprio azar... Fazem 1.500 anos que estamos investindo no nosso subdesenvolvimento...
Políticas públicas elaboradas no Congresso poderia melhorar essa situação. Basta a vontade!
Alguém lucra com a concentração? Serão as empreiteiras com a valorização do metro quadrado nestes locais? Não temos trens para transporte em massa. Será que a indústria automobilistica ganha com isto? Os diversos governos sabem das necessidades. Porque nada fazem? Será a corrupção? Ou será simplesmente um grande caos aonde todo mundo quer se dar bem e acaba todo mundo se dando mal (ou pelo menos a maioria que não tem poder) . Nos falta visão de sociedade? Somos um bando de indivíduos egoístas?
A atual gestão na cidade de São paulo, é um exemplo claro da irresponsabilidade pela concentração urbana, estão acabando com barros residencias tradicionais. Prédios em cima de prédios, trata-se da favelização de uma grande cidade