Ricardo Stuckert / PR

Só Rússia e Catar ligaram para o que Lula disse

20.02.24 11:00

A fala de Lula comparando a ação de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto cometido por Adolf Hitler a seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial gerou um desconforto diplomático entre os dois países. No Brasil, a imprensa se debruça na questão e deputados pedem o impeachment de Lula. Em Israel, a crise diplomática também gerou manchetes.

Fora dos dois países, no entanto, a fala do anão diplomático sul-americano quase não gerou repercussão. À exceção de uma pequena nota no The New York Times sobre a fala desastrosa do petista, os veículos da Europa e dos Estados Unidos não se importaram com o que disse o chefe de Estado brasileiro. Uma nota da agência de notícias espanhola EFE acabou repercutindo em outros locais, como na Colômbia — onde o presidente Gustavo Petro já ameaçou cortar relações com Tel Aviv.

Apenas no Catar e na Rússia, a imprensa local deu uma atenção maior à questão. Na terra de Vladimir Putin, os três veículos oficiais da autocracia de Moscou deram ao menos uma nota sobre o tema: a Sputnik International e a Tass, ambas ligadas ao Kremlin, publicaram uma nota cada, a respeito das convocações de embaixadores; a Russia Today (RT, também ligada ao governo) foi mais a fundo e reportou não apenas a crise entre as chancelarias, como a declaração do petista como “persona non grata” em território israelense.

Essa falta de repercussão dos atos do presidente brasileiro lá fora não é uma novidade — cada vez menos a imprensa internacional e os formadores de opinião se importam com as falas tresloucadas de Lula. Na edição desta semana na Crusoé, Duda Teixeira entrevistou Daniel Buarque, que ouviu diplomatas, funcionários governamentais e acadêmicos para escrever a obra Brazil’s International Status and Recognition as an Emerging Power (O status internacional do Brasil e o seu reconhecimento como uma potência emergente, em tradução livre).

A conclusão de Buarque foi idêntica.O conceito que eu uso para isso é o de peão cobiçado. Se pensarmos no cenário geopolítico global como um tabuleiro de xadrez, o Brasil é visto como a peça menos relevante, menos poderosa“, diz Buarque. “Ao mesmo tempo, todos esses países, que são grandes potências, querem que o Brasil seja um aliado deles.”

A ideia de peão cobiçado é esta: “O Brasil não é visto como poderoso, mas as potências o querem do seu lado“. Pois falar assim sobre o Holocausto não ajudará em nada o peão diplomático.

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