Adriano Machado/Crusoé

Operação da PF estreita o cerco sobre o entorno de Bolsonaro

27.05.20 11:02

A operação da Polícia Federal deflagrada nesta quarta-feira, 27, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, fecha o cerco em torno de apoiadores muito próximos de Jair Bolsonaro. A lista de investigados é extensa e inclui presidente de partido aliado, deputados bolsonaristas, blogueiros e empresários alinhados ao governo.

Ao apanhar os pontas de lança dos núcleos ideológico, político, operacional e financeiro, a operação — que faz parte do inquérito destinado a investigar supostas ameaças a ministros do STF e divulgação de fake News — atinge integrantes de toda a estrutura de apoio a Bolsonaro. Detalhe: a ação foi desencadeada um dia após Bolsonaro parabenizar a PF pela atuação contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.

Ainda que alvos da operação tentem capitalizar eleitoralmente com argumentos de perseguição política, no Planalto é grande o receio de que a investigação alcance o chamado gabinete do ódio. O grupo é formado por assessores especiais da Presidência que encabeçam a militância virtual em defesa de Bolsonaro. Não por acaso, o vereador Carlos Bolsonaro, filho 02 do presidente e idealizador da estrutura, criticou a operação nesta terça. “Querem incentivar rachaduras diante de inquérito inconstitucional, político e ideológico”, declarou.

Embora Carlos Bolsonaro não tenha sido apanhado, os principais alvos da PF na manhã de hoje mantêm uma linha direta com os filhos do presidente e com o próprio Bolsonaro.

Oito deputados bolsonaristas terão que prestar depoimento em um prazo de 10 dias. O ministro Alexandre de Moraes poupou os parlamentares – seis federais e dois estaduais de São Paulo – das operações de busca e apreensão, mas eles terão que dar explicações ao Supremo. Os deputados federais Bia Kicis, Carla Zambelli, Daniel Silveira, Filipe Barros, Cabo Júnio do Amaral e Luiz Phillipe de Orleans e Bragança estão na lista dos investigados, assim como os estaduais Gil Diniz e Douglas Garcia.

Eles ainda não foram notificados, mas minimizam a ação da Polícia Federal. “O ministro Alexandre de Moraes está me fazendo um grande favor. O povo em massa está revoltado com essa turma. Se ele quiser me investigar, vai acabar é me ajudando eleitoralmente”, disse o deputado Cabo Júnio a Crusoé.

O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, hoje um dos maiores defensores públicos de Bolsonaro e braço operacional do bolsonarismo nas redes sociais, também foi alvo de buscas. Ele chamou o STF de “Tribunal do Reich”. “Atitude soez, covarde, canalha e intimidatória, determinada pelo mais desqualificado ministro da corte. Não calarei. Censura”, escreveu o ex-deputado, condenado pelo mensalão.

A PF também esteve na casa do youtuber e blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, linha de frente da guerrilha digital bolsonarista e que chegou até a ser cotado para assumir a chefia da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. O empresário Luciano Hang, dono da rede Havan, notório patrocinador de ações a favor do governo, foi outro a receber a visita da Polícia Federal. Os agentes cumpriram mandados em três endereços ligados ao empresário, dois em Brusque e um em Balneário Camboriú. Hang é frequentador assíduo do Palácio do Planalto e apoia o presidente da República desde a campanha eleitoral.

Outra figura associada ao bolsonarismo investigada pelo Supremo é a ativista de direita Sara Winter. Uma das organizadoras do acampamento “300 do Brasil”, em Brasília, a militante pró-vida manteve as agressões à corte mesmo após a operação. “A Polícia Federal acaba de sair da minha casa. Bateram aqui às 6h da manhã, a mando do Alexandre de Moraes. Levaram meu celular e notebook. Estou praticamente incomunicável. Moraes, seu covarde, você não vai me calar!”, declarou, após ter a casa vasculhada por agentes.

Os alvos da operação e os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro trabalham para desqualificar a investigação. Entre a militância bolsonarista — e os 30% que ainda apoiam o presidente — a estratégia pode até ser bem sucedida, mas, juridicamente, o Planalto e o entorno de Bolsonaro temem o aparecimento de provas inequívocas sobre um esquema profissional de financiamento de fake news. Pela estatura dos personagens envolvidos na apuração e pela variedade de perfil dos alvos, a preocupação do Planalto se justifica.

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