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“Mulher negra asiática-americana”: identitarismo pode ajudar Kamala Harris?

22.07.24 11:24

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris (foto), recebeu o endosso do presidente Joe Biden para ser a candidata do Partido Democrata nas eleições presidenciais de novembro. O apoio é um empurrão importante para que ela venha a ser, de fato, a escolhida.

Entre os democratas, Kamala é incensada como aquela que pode ser a “primeira mulher“, a primeira “African American” e a primeira “Asian American” presidente dos Estados Unidos.

São conceitos difíceis de serem traduzidos para o português (“mulher negra asiática-americana“?), e que reverberam bem entre muitos americanos.

Com sua provável nomeação, a questão que se coloca agora é: tais atributos poderiam ajudá-la nas urnas?

 

Mulher

Em mais de duzentos anos de democracia, os Estados Unidos tiveram 46 presidentes. Todos foram homens.

A primeira vez que uma mulher foi escolhida como candidata por um dos principais partidos foi em 2016, quando os democratas se uniram em torno de Hillary Clinton. Ela acabou perdendo para o republicano Donald Trump.

Pesquisas de opinião não são conclusivas ao tentar saber se os americanos estariam prontos para votar ou não em uma mulher. Isso porque, normalmente, pessoas machistas escondem esse traço quando são interrogadas pelos entrevistadores.

Uma pesquisa do instituto Gallup, de 2019, revelou que 94% dos americanos dizem que votariam em uma mulher. Em 2015, o índice era de 92%.

Mas o cenário muda quando os entrevistados são perguntados sobre o voto dos seus vizinhos.

Um estudo da Ipsos, de 2019, descobriu que 74% dos americanos diziam que estariam “confortáveis” em ter uma mulher presidente, mas 33% achavam que seus vizinhos não aceitariam isso. 

O machismo, portanto, existe, mas é difícil de ser mensurado.

A boa notícia para Kamala é que as mulheres constituem o maior grupo de eleitores e comparecem mais às urnas que o americano médio.

 

Negra

O pai de Kamala Harris é um economista jamaicano, Donald Harris. É daí que ela ganha o rótulo de “African-American“.

Nos Estados Unidos, basta que uma pessoa tenha algum ascendente negro para ser considerado como tal. É a regra de “uma gota de sangue“, em que basicamente não há mestiços.

Barack Obama tinha um pai negro era um economista do Quênia, mas sua mãe era uma mulher branca, antropóloga do estado do Kansas.

Mesmo assim, Obama era considerado negro, e foi presidente dos Estados Unidos em dois mandatos. Os americanos, portanto, já provaram que podem eleger uma pessoa negra. 

Kamala, contudo, não traz a mesma bagagem da maioria dos eleitores negros americanos, cujos familiares penaram em um país que sofreu com a escravidão e com décadas de segregação racial.

 

Asiática-americana

A mãe de Kamala era uma endocrinologista indiana.

Os indianos, contudo, não são vistos nos Estados Unidos como um grupo desfavorecido.

Há vários indianos em boas condições financeiras, comandando empresas de tecnologia na Califórnia, estado de Kamala.

Na semana passada, o bilionário Elon Musk compartilhou um estudo de 2018 no X mostrando que lares com indianos ganham mais do que os de famílias de americanos brancos. “Uau. Os Estados Unidos realmente são a terra da oportunidade“, escreveu Musk.

 

Falta conexão

O ponto mais difícil para Kamala é que essa herança “negra” ou “asiática-americana” não ecoa muito bem entre os eleitores latinos ou aqueles que se consideram marginalizados.

Entre latinos, Kamala tem uma opinião favorável de 39% e desfavorável de 38%, segundo pesquisa Ipsos de abril.

Kamala não foi uma pessoa que precisou batalhar muito na vida para sair de uma condição inferior.

Ela é, isso sim, uma pessoa que nasceu dentro da elite intelectual.

Seus pais, o economista jamaicano e a pesquisadora indiana, conheceram-se na Universidade Berkeley, uma das mais prestigiadas dos Estados Unidos.

Eles militavam no movimento pelos direitos civis nos anos 1960. Depois que Kamala nasceu, ela chegou a ser levada para protestos no carrinho.

Para os americanos pobres, o passado familiar de Kamala denota certo elitismo acadêmico, o que pode atrapalhar na conquista de eleitores.

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