Mudanças no 'cercadinho do Alvorada' inauguram nova era de Bolsonaro
O fim do "cercadinho" com jornalistas e apoiadores de Jair Bolsonaro na portaria do Palácio da Alvorada, que lembrava uma gaiola de rinha, é um marco da mudança na forma do presidente se comunicar. A medida, orientada pela ala militar do governo, desligou uma indústria de crises que até então era alimentada quase que diariamente...
O fim do "cercadinho" com jornalistas e apoiadores de Jair Bolsonaro na portaria do Palácio da Alvorada, que lembrava uma gaiola de rinha, é um marco da mudança na forma do presidente se comunicar. A medida, orientada pela ala militar do governo, desligou uma indústria de crises que até então era alimentada quase que diariamente pelo mandatário, e muitas vezes definia a agenda do debate público ao longo de todo o dia.
Desde o dia 1º de junho, bolsonaristas que se aglomeram na porta da residência oficial são pastoreados pela equipe da Presidência para o jardim do Alvorada, longe dos microfones da imprensa. Por lá, o presidente continua parando para conversar, mas por poucos minutos, sempre ouvindo mais do que falando. “A imprensa agora não vai poder dizer mais que eu estou agredindo ela, tá ok?”, disse ele recentemente.
No dia 25 de maio, a maior parte dos veículos de comunicação que fazem a cobertura diária da Presidência anunciou que seus profissionais não fariam mais plantão na portaria do Palácio, após serem alvo de agressões de militantes. O anúncio obrigou Bolsonaro a repensar o modelo que até então vinha utilizando.
Com o novo esquema para militantes, o GSI colocou em prática também uma nova rotina na entrada de jornalistas. Antes, quando atacados por bolsonaristas, profissionais da imprensa não tinham nenhum tipo de proteção. Mais recentemente, após as queixas, os seguranças passaram a reprimir os estorvos dos militantes ao trabalho dos jornalistas. A passagem da imprensa pela barreira de segurança também passou a ser apartada do público em geral.
Agora a “gaiola” da portaria do Alvorada funciona como uma sala de espera para os apoiadores que esperam o presidente. Apenas quando Bolsonaro está prestes a passar pelo local é que os visitantes são liberados do confinamento e passam para o lado oposto da via por onde passa o comboio, onde esperam, então, para ter um corpo a corpo com Bolsonaro.
Não raro, Bolsonaro recebe reclamações dos apoiadores. Normalmente, ele os orienta a procurar diretamente os ministérios responsáveis por solucionar os problemas. A depender da queixa, o presidente se irrita. Recentemente, ele chegou a ameaçar por fim ao encontro diário com os apoiadores. No último dia 10, uma integrante do MBL, funcionária do vereador paulistano Fernando Holiday, conseguiu se infiltrar no grupo para cobrar Bolsonaro pelas mortes em razão da Covid-19.
A situação, não prevista pelo Gabinete de Segurança Institucional e pela assessoria presidencial, deixou Bolsonaro ressabiado e ainda mais calado. A postura adotada atualmente é bem diferente daquela em que o presidente marejou os olhos ao ouvir, no cercadinho, uma professora pedir “militares na rua”. Bolsonaro chegou a publicar o registro da cena nas redes sociais.
Com as mudanças, a rotina dos jornalistas que permanecem acompanhando o entra-e-sai do presidente, ficou mais tranquila, sem agressões, mas a cobertura passou a ser mais monótona. Sem as habituais entrevistas de Bolsonaro à porta do palácio, os repórteres agora se limitam a acompanhar, de longe, o beija-mão dos militantes.
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