Adriano Machado/Crusoé

Amazonas pediu apoio ao governo para implantar ‘TrateCov’ durante colapso

12.06.21 12:00

Em meio ao colapso do sistema de saúde pública ocorrido em janeiro em razão da Covid-19, o governo do Amazonas procurou o Ministério da Saúde para colocar em funcionamento o aplicativo “TrateCov”desenvolvido pela pasta com o objetivo de diagnosticar pacientes com a doença e prescrever o chamado “tratamento precoce”.

Em ofício enviado ao secretário de Atenção Especializada em Saúde, Luiz Otávio Franco Duarte, no dia 13 de janeiro, o secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, pediu recursos humanos para dar continuidade ao projeto “TrateCov Brasil”. Cinco dias antes, o governo estadual já havia informado o governo federal sobre a iminente falta de oxigênio no estado. Os documentos foram entregues à CPI da Covid no Senado.

No ofício, Campêlo menciona uma apresentação do aplicativo feita por Vinicius Nunes Azevedo, diretor do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, e solicita a “disponibilização de 16 farmacêuticos” para os serviços de Pronto Atendimento da rede estadual. Azevedo é subordinado à secretária Mayra Pinheiro (foto), a “capitã cloroquina”, apontada pelo ex-ministro Eduardo Pazuello como a responsável pelo desenvolvimento do aplicativo.

O documento encaminhado à CPI é mais um que desmente a versão do general sobre o aplicativo. Em depoimento à comissão de inquérito, Pazuello relatou que “o TrateCov, no final das contas, não foi utilizado, ele nunca foi utilizado por médico algum”. O general chegou a dizer que o aplicativo foi apresentado em Manaus somente como um “protótipo” ainda “em desenvolvimento”. No entanto, uma reportagem da TV Brasil, emissora oficial do governo, já mostrava à época que médicos estavam usando a plataforma.

Pazuello alega que o aplicativo foi “hackeado”. Reportagens feitas com base nos cálculos do TrateCov mostraram que o aplicativo recomendava a prescrição de cloroquina para quaisquer pacientes, incluindo grávidas e bebês. O medicamento, além de ser ineficaz para tratar Covid, pode provocar efeitos adversos nos pacientes.

Em 5 de janeiro, dias antes do colapso no abastecimento de oxigênio em Manaus, Marcellus Campêlo enviou ofício a Pazuello solicitando 60 mil comprimidos mensais de hidroxicloroquina para tratamento de pacientes com Covid-19. No documento, obtido por Crusoé, o secretário pede “urgência” para o fornecimento. Após a solicitação, o ministério entregou 120 mil cápsulas do medicamento ao Amazonas no dia 15 de janeiro.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
Mais notícias
Assine agora
TOPO