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Cubano faz greve de fome na ONU para denunciar ‘tortura médica’

26.06.20 07:31

O ambientalista e produtor rural cubano Ariel Ruiz Urquiola (foto) iniciou na segunda, 22, uma greve de fome em frente à sede do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça. Em uma carta para a alta comissária para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, Ruiz pede para ser recebido no plenário para dar seu depoimento. Ele diz que, enquanto esteve preso em Cuba, em 2003, foi inoculado com o vírus HIV. Também diz que sua irmã, que teve um câncer na mama, sofreu tortura médica em 2005. Ruiz não tem comido, bebido ou tomado medicamentos desde que iniciou sua greve de fome. Sentado em uma calçada com um cartaz colado na parede, ele tem visto os diplomatas da ONU, incluindo Bachelet, passarem indiferentes por ele. Ruiz respondeu algumas perguntas de Crusoé com mensagens de áudio pelo celular.

O senhor recebeu alguma resposta de Michelle Bachelet desde que mandou sua carta, na segunda-feira?
Nenhuma.

Quais foram os crimes de lesa-humanidade que a ditadura cometeu contra o senhor e sua irmã?
Contra mim, eles cometeram múltiplos crimes. Mas estou me focando na contaminação por via endovenosa com uma cepa mortal e altamente mutante do HIV. Em relação a minha irmã, eles usaram os tratamentos oncológicos como método de tortura para provocar uma reversão dos avanços que ela tinha obtido com a sua doença. Deixaram de ministrar os medicamentos, sem avisar a ela previamente, e até usaram placebo.

A ditadura usou a tortura médica ou a inoculação de vírus em outras pessoas?
Isso é algo que se fala com frequência em Cuba. Recebi várias mensagens das Damas de Blanco (as esposas de 75 presos políticos detidos em 2003) que estão infectadas com HIV. Elas me disseram que foram picadas com seringas quando faziam passeatas em Havana ao redor da igreja de Santa Rita de Cássia. Essas picadas não tiveram uma consequência imediata. Só deixaram uma pequena marca. Mas depois elas descobriram que tinham o vírus. Há um preconceito muito grande em meu país com a Aids. Por isso, os maridos as abandonaram e elas foram acusadas de serem promíscuas. A cubana Laura Pollán, que era a líder das Damas de Blanco morreu de uma hora para outra em um hospital de Havana, em 2011. Depois de sofrer uma dessas picadas, ela começou a ter inflamações pelo corpo todo e morreu em seguida. Seu marido e filha não permitiram que fizessem a autópsia, porque estavam sofrendo uma pressão enorme dos oficiais da segurança de estado.

Por que o senhor acha que a ditadura escolheu esse método contra vocês?
Isso teria de ser perguntado a eles.

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