Corrente católica antimoderna e antiliberal ganha força nos Estados Unidos
De acordo com uma pesquisa do "Catholic Project", 80% dos sacerdotes ordenados desde 2020 se identificam como "conservadores/ortodoxos"

O vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, representa uma faceta proeminente de um catolicismo que se alinha com as políticas do presidente Donald Trump, atraindo um número crescente de seguidores. No entanto, suas visões estão em desacordo com os ensinamentos dos Papas Francisco e Leão XIV.
Recentemente, a visita de J. D. Vance ao Papa Francisco, realizada pouco antes do falecimento do pontífice, trouxe à tona a crescente influência do catolicismo conservador no cenário político americano.
Vance, que se converteu ao catolicismo em 2019, simboliza o crescente interesse dos republicanos próximos a Trump pela fé católica.
O clero católico nos Estados Unidos, uma corrente antimoderna e antiliberal tem ganhado força, buscando estreitar laços com políticas da direita.
Essa tendência, que vem se manifestando silenciosamente nos últimos anos, ganhou destaque quando influenciadores ligados a Trump expressaram indignação com a eleição de Leão XIV como novo papa, rotulando-o de "marxista total" e "globalista".
A relação entre esses grupos é mútua; tanto Francisco quanto Leão XIV têm criticado abertamente Trump e sua administração. As figuras que inspiram os católicos conservadores americanos são mais alinhadas a João Paulo II e seu sucessor Bento XVI.
Os católicos americanos
Atualmente, os católicos representam cerca de 19% da população americana, uma queda em relação aos 24% registrados em 2007.
Assim como outras denominações cristãs, a Igreja Católica enfrenta desafios com a diminuição do número de fiéis e um distanciamento crescente da prática religiosa; enquanto na década de 1970 cerca de metade dos católicos assistia à missa semanalmente, hoje esse número caiu para apenas um quarto.
No entanto, o declínio parece estar sendo contido pela nova atração exercida por correntes mais conservadoras.
Essa mudança também é refletida nas votações; nas eleições de 2024, 56% dos católicos votaram em Trump, enquanto apenas 41% optaram por Kamala Harris.
Retornando às raízes
De maneira geral, as igrejas cristãs — tanto na Europa quanto nos Estados Unidos — tentam mitigar a saída de membros através da modernização.
Elas buscam alinhar-se com temas contemporâneos em seus sermões e adotam críticas sociais progressistas sem grande sucesso no que tange à retenção dos fiéis. A longo prazo, muitos teólogos já aceitam resignadamente a impossibilidade de resistir à secularização crescente.
Os conservadores, por outro lado, trilham um caminho oposto: promovem uma volta purista às origens da fé, como a revitalização da missa em latim.
Católicos como Vance mantêm posições rigorosas contra práticas como aborto, contracepção e união homossexual, além de serem nacionalistas e defenderem políticas imigratórias severas.
Antes de sua eleição como Papa, Robert Prevost já havia expressado críticas às políticas de imigração da administração Trump e às interpretações religiosas de Vance, utilizando suas redes sociais para compartilhar essas opiniões
Novos conservadores
Dentre os sacerdotes americanos atuais, observa-se uma tendência ao conservadorismo crescente entre as novas gerações.
De acordo com uma pesquisa do "Catholic Project", 80% dos sacerdotes ordenados desde 2020 se identificam como "conservadores/ortodoxos"
Um segmento significativo entre os católicos "postliberais", que lamentam a fragmentação social moderna e seus efeitos sobre o indivíduo contemporâneo são os chamados integralistas. Eles defendem a eliminação da separação entre Igreja e Estado e acreditam que o governo deve ser orientado pelos princípios da Igreja Católica.
Embora esses grupos ainda sejam minoritários, possuem influência considerável e estão bem organizados.
Instituições educacionais católicas com viés conservador estão crescendo em popularidade; destacam-se o Augustinus Institute em St. Louis e outras universidades como Franciscan University e Benedictine College. Uma palestra recente gerou polêmica ao incentivar mulheres a abraçarem sua vocação como donas de casa.
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