Adriano Machado/Crusoé

A antítese de Queiroga na CPI: os pontos em que Barra Torres divergiu de Bolsonaro

11.05.21 18:01

Não foram poucas as vezes em que Antonio Barra Torres (foto), amigo pessoal de Jair Bolsonaro — ao menos até a sessão da CPI desta terça-feira, 11, — divergiu das notórias posições do presidente da República durante as seis horas de depoimento à comissão de inquérito. Sem titubear, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária defendeu a vacinação em massa e o uso de máscaras de proteção facial, criticou aglomerações, reprovou a cloroquina e condenou a “guerra política” em torno na Coronavac.

Antítese do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, Barra Torres não manifestou preocupação nem com a reação do presidente às suas declarações durante a audiência. Depois de ouvir o senador Jorge Kajuru ler uma matéria de O Antagonista dizendo que Bolsonaro estava “bufando de raiva” com o depoimento, o diretor-presidente da Anvisa afirmou que as respostas dadas à CPI “são rigorosamente verdadeiras”.

Minha reação é continuar vivendo como sempre fiz, senador. Não modifica em absolutamente nada. Acho que as amizades existem para atravessar qualquer tipo de problema, se é que está havendo algum tipo de problema. De minha parte, não há o que ser mudado. Estamos trabalhando em uma linha que me parece adequada e correta e é nela que a gente vai continuar“, afirmou.

Confira os pontos em que Barra Torres divergiu de Jair Bolsonaro na CPI:

Vacinação:

Enquanto Bolsonaro resiste em ser imunizado, o diretor-presidente da Anvisa declarou que a política de vacinação é essencial e ressaltou que, no primeiro momento, mesmo após a inoculação, a população não pode abrir mão do uso de máscara de proteção facial, do distanciamento social e do álcool em gel. Para Barra Torres, discordar da vacina “não guarda uma razoabilidade histórica“. O contra-almirante da Marinha pediu que os cidadãos busquem orientações junto a órgãos da linha de frente do enfrentamento à pandemia.

Cloroquina:

Embora o presidente da República tenha popularizado a cloroquina e ordenado a ampliação da fabricação do medicamento, Barra Torres evocou estudos científicos e observou que as informações demonstram a ineficácia do remédio no tratamento da Covid-19 e também na prevenção da doença. Disse, inclusive, que não tomou a medicação quando foi infectado pelo novo coronavírus.

No lugar da administração da substância, o presidente da Anvisa sugeriu a testagem, o diagnóstico precoce e a observação dos sintomas. O médico ainda revelou detalhes sobre a reunião organizada por Bolsonaro para discutir a mudança na bula da cloroquina. De acordo com Barra Torres, o encontro foi convocado pelo então ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, hoje titular da Defesa, e a proposta partiu da médica Nise Yamaguchi.

Distanciamento social e máscara:

O contra-almirante da Marinha declarou ser contra “qualquer tipo de aglomeração”. Barra Torres assegurou ter conduta diferente da de Bolsonaro neste quesito, com base no que preconiza a ciência. O diretor-presidente da agência admitiu, inclusive, arrependimento por ter participado de uma manifestação ao lado do presidente em 15 de março de 2020, sem usar máscara. Barra Torres, no entanto, fez questão de ressaltar que, à época, não havia obrigatoriedade de uso do aparato no Distrito Federal. “Eu tenho plena ciência que, se tivesse pensado mais cinco minutos, não teria feito“.

Coronavac:

Barra Torres condenou a politização feita tanto por Bolsonaro quanto pelo governador de São Paulo, João Doria, da Coronavac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Para o médico, “a política é muito boa para as áreas políticas, não para as áreas da ciência“.

Postura em relação ao presidente:

O presidente da Anvisa lembrou uma frase utilizada por Eduardo Pazuello para ilustrar sua relação com Bolsonaro. “No meio militar, existe quem dá a ordem e quem cumpre a ordem. Mas, como médico, eu acredito no convencimento”, disse, após ser questionado sobre a vacinação obrigatória.

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  1. Antonio Barra Torres em seu depoimento demonstra verdadeiramente o que ocorreu. Esta oitiva é relevante quanto a postura do Governo em relação a Covid 19.

  2. Ninguém me convence de que Bolsonaro já não tenha tomado a vacina desde que ela começou a ser aplicada no país. Um mentiroso compulsivo como ele, jamais contará a verdade, mesmo que haja provas cabais. Esse cara é simplesmente doente.

  3. Num Brasil tão desmoralizado, desacreditado, fodid*, ver a postura do médico almirante Barra Torres é um alento. Para darmos uma virada na atual situação do país, espero que a partir de hoje, todos os brasileiros adotem o PADRÃO BARRA TORRES, norteado pela verdade, pela moralidade, pelo bom senso, visando o melhor para o nosso Brasil. Meu mais sincero respeito ao presidente da Anvisa.

    1. A qualificada participação do Dr Barra Torres só fez aumentar o respeito pela sua atuação na ANVISA, assim como pela postura honesta e digna que adotou no depoimento. 👍👏👏👏😷

  4. Há pessoas burras, ignorantes e teimosas e há pessoas inteligentes, sensatas e com raciocínio lógico. Os militares não fogem à regra geral. Sorte nossa termos na Presidência da Anvisa um excelente médico militar❣️👏👏👏👏👏

  5. Parabéns Barra Torres, precisamos de homens como o senhor, capazes, corajosos e fieis aos seus princípios, principalmente quanto à saúde e à vida do povo brasileiro.

    1. Parabéns Barra Torres, pelo exemplo de que é ainda possível falar a verdade no Bradil.

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