ReproduçãoLula, Raoni e Macron na Amazônia: não é homenagem aos "originários" - Foto: Reprodução

O Brasil de Lula – da covardia ao colonialismo

Maduro respondeu com grosseria à constatação do desgoverno brasileiro de que disputa eleitoral legítima podia fortalecer democracia inexistente
29.03.24

Consta que a queda permanente da aprovação do meio desgoverno de Lula (considerando-se a outra metade como pertencente ao chefão da Câmara dos Deputados, Arthur Lira) tem sido atribuída por gente de sua confiança no Partido dos Trabalhadores (PT) à relação tíbia com a Venezuela chavista. Isso inspirou uma reação à proibição da candidata da oposição na eleição da improvável sucessão de Nicolás Maduro.

O texto, da lavra do chanceler Mauro Vieira e do manda-chuva das relações exteriores Celso Amorim, sob supervisão do companheiro-em-chefe em pessoa, foi considerado um ponto fora da curva nas costumeiras defesas obtusas da ditadura do vizinho por seu mais confiável credor e amigo.

A declaração, assinada pelo Itamaraty de Rio Branco, foi provocada pelo afastamento sem justificativa nem explicação de Corina Yori, não-candidata única da oposição. E dela consta: “O Brasil está pronto para, em conjunto com outros membros da comunidade internacional, cooperar para que o pleito anunciado para 28 de julho constitua um passo firme para que a vida política se normalize e a democracia se fortaleça na Venezuela, país vizinho e amigo do Brasil”. Até as vírgulas foram poupadas.

Ora, “meus amigos, meus inimigos”, como conclamava o poeta Manuel Bandeira, considerando-se que não há democracia vigente lá desde o golpe do militar Hugo Chávez e também que não se pode considerar algo que inexiste passível de normalização após anos de ditadura explícita, a ausência da curva pode ser considerada, no dito, minimus minimorum milimétrica.

Quem tinha alguma esperança de que o sucessor de Chávez possa vir a ter, diante do quadro internacional, um laivo de preocupação com o desabamento da popularidade do aliado ao lado já pode tirar seu plantel da chuva. Em comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores, escrito em português, o governo venezuelano repudiou o posicionamento do Itamaraty, que descreveu como “cinzento e intervencionista”. E que “parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.

Além de uma estupidez que não corresponde à tibieza da pseudocobrança anterior, a afirmação é obviamente injuriosa. Desde que assumiu a metade da democracia dita do amor (o que não deixa de comportar pequenas ilusões, para não chamar de mentiras), o lulismo apoia Putin, invasor da Ucrânia, defendida pelos EUA, e se opõe à retaliação de Israel ao ataque covarde do Hamas, inimigo figadal da civilização e também da mais poderosa democracia do mundo (agora ameaçada pelo aventureiro fascista Donald Trump).

“Ora, direis, ouvir estrelas”, o poeta Bilac escreveu. Mas basta para demover a posição confortável da esquerda brasileira de que é possível desmontar o chavismo reinante no país de democratas como Rómulo Betancur e Rafael Caldera com ponderações justas e verazes. No agradecimento, devido talvez à tolerância dos companheiros brasileiros com as dívidas bolivarianas, os asseclas de Miraflores registraram um momento de reconhecimento aos serviços prestados pelo compadre e companheiro ao lado agradecendo “as expressões de solidariedade do presidente Lula, que condenam direta e inequivocamente o bloqueio criminoso e as sanções que o governo dos Estados Unidos impôs ilegalmente, com o objetivo de produzir dano ao povo venezuelano”. O que, por sinal, contradiz a ofensa anterior.

É o caso de cantar com Luiz Gonzaga, pernambucano como Lula: “bem feito, quem foi que te mandou enfiar a mão no buraco do tatu”. O petista afinou, mas o chavista engrossou, esclarecendo que nossa diplomacia é dependente ideológica de tiranos ingratos.

E a prévia da semana santa internacionalista de Lulinha bronca e amor também foi encenada na Amazônia. O clima amigável e as imagens descontraídas de Lula com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Belém, terça-feira (26) foram tratadas nos jornais da pátria de Voltaire como manifestações de bromance – contração das palavras romance e brothers (irmãos ou amigos, em inglês), traduzindo a parceria no campo político e, principalmente, ambiental.

Em declaração conjunta após o encontro no Pará, a dupla assinou tratados de 1 bilhão de euros (R$ 5,4 bilhões) na bioeconomia da Amazônia brasileira e da Guiana Francesa, território ultramarino da França na América do Sul, vestígio de tempos coloniais e vizinha da Guiana, ameaçada de invasão pelo tirano ao lado. O espocar dos fogos da festa bilionária esfria um pouco o entusiasmo quando é lembrado que Macron impede o acordo do Mercado Comum Europeu com o Mercosul por causa da competência brasileira na produção agrícola que seus incompetentes e barulhentos eleitores não conseguem emular.

A medalha da Legião de Honra para Raoni tem menos efeito político, econômico e diplomático do que a viagem de brasileiros primitivos a Paris no século 16. Em 1562, alguns tupinambás foram levados para a Europa para serem exibidos como animais de circo ao então rei da França, Carlos IX, e sua corte. Da experiência pelo menos Montaigne perpetrou o ensaio Dos Canibais, que integrou o volume I de sua obra clássica Ensaios. Por mais que nossos identitários celebrem essa aparente homenagem aos povos ditos originários, que não são americanos de origem, como concluem os mais respeitáveis arqueólogos, não passa de subserviência colonial. Mas será que Lula e seus adoradores sabem o que significa colonialismo? Não é o que parece. Mas, enfim, nem sempre o que parece é real, não é mesmo? Melhor esperarmos o próximo capítulo.

 

José Nêumanne Pinto é jornalista, poeta e escritor.

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  1. A condecoração de Raoni, embora diplomáticamente irrelevante, tem uma simbologia política forte. O ato se dá na presença de Lula e Macron ainda candidata o índio ao Premio Nobel da Paz, honraria que Lula se acha eterno merecedor. Doeu mais ainda saber que dois ex-presidentes brasileiros receberam a honraria máxima da França: José Sarney e Fernando Henrique Cardoso

    1. Terá sido em retaliação que Lula chamou o Macron de Sarkosy?

  2. O Brasil é hoje um país onde o ridículo é o norte basta ver a manifestação deprimente onde o tão ridículo Macron é incensando e beijado publicamente pela sra. Esbanja sob adjetivação humilhante, quiçá injusta ao marido senil e claramente insano .. que povo de cabeça criativa ... e protuberante ???

  3. Gostaria de estar lendo esta crítica como um Conto de Ficção., mas é a nossa realidade! E Lulalá, o palhaço útil, achando que é grande coisa.

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