Rafael Ribeiro/ CBF via FlickrO fato é que há tempos não surgia no futebol brasileiro alguém com tanta capacidade de vencer goleiros

Grandes esperanças

Endrick ascendeu nos dois últimos amistosos da seleção ao posto de grande esperança do Brasil para a próxima Copa do Mundo
29.03.24

Endrick tem 17 anos e dois gols pela seleção brasileira de futebol. Apenas outros três jogadores marcaram com menos idade pelo Brasil, entre eles Pelé e Ronaldo. O atacante já se tornou o principal jogador do Palmeiras e em alguns meses vai tentar a sorte no Real Madrid.

A facilidade para fazer gols já rendeu comparações com Romário. As semelhanças são evidentes e vão muito além do físico — o jovem tem seis centímetros a mais que o senador. Endrick aparece sempre bem posicionado para receber a bola em direção ao gol e tem instinto para finalizar.

Romário espantou a comparação — e não seria Romário se não o fizesse. “Um bom atacante, com certeza a gente pode esperar muito dele no futuro. Está muito cedo para a gente fazer comparações, principalmente com o Romário. Para chegar ao Romário tem que correr atrás para caralho ainda, enfim”, comentou.

Mas o fato é que há tempos não surgia no futebol brasileiro alguém com tanta capacidade de vencer goleiros — a exceção é Pedro, do Flamengo, mas esse não emplacou na seleção. Vinícius Jr. se tornou o principal jogador do Real Madrid, Rodrygo também se destaca no mesmo time, Vitor Roque tateia o futuro no Barcelona, mas nenhum deles abre o horizonte de esperança representado por Endrick.

Tem algo em sua expressão, na confiança, no foco para o gol. Pode ser que não vingue, claro. O futebol, como a vida, tem muito mais histórias de fracasso do que de sucesso. “Futebol não foi apenas o meu sonho, mas o sonho do nosso pai, do nosso avô, o sonho de toda família”, diz Endrick em texto publicado em seu nome no Players Tribune, dirigido ao irmão mais novo.

O jogador conta que, quando jovem, seu pai foi a pé de Brasília a São Paulo para participar de peneiras. Dormiu na rua, não deu sorte nas tentativas e voltou para casa, para viver do dinheiro que ganhava jogando futebol na várzea. Endrick já passou há muito desse ponto. Ele próprio reconhece que o pai sofreu muito mais, apesar de destacar os sacrifícios que sua mãe fez para lhe dar a chance de ter uma carreira.

Agora, as esperanças daquele que surge como o futuro camisa 9 da seleção já subiram para outro patamar, para citar o clássico Bruno Henrique. Endrick se apresenta como o homem capaz de marcar gols decisivos, como foram Romário e Ronaldo nas últimas Copas do Mundo conquistadas pelo Brasil.

Lamenta-se muito, como comentei na coluna passada, o sumiço dos camisas 10. Pois, na seleção brasileira, também estava faltando um 9, que não falta à Inglaterra de Harry Kane, à França de Olivier Giroud ou à Noruega de Erling Haaland. Gabriel Jesus virou alvo de deboche por sair zerado da Copa de 2018, de tanto marcar lateral para Tite, e teve de admitir outro dia que marcar gols não é seu forte.

Vencida a barreira social e econômica, Endrick ascendeu nos dois últimos amistosos da seleção, com seus dois gols contra Inglaterra e Espanha, ao posto de grande esperança do Brasil para a próxima Copa do Mundo.

Pip, o narrador-protagonista trágico de Grandes Esperanças, de Dickens, tem um conselho: “À medida que me acostumei com minhas esperanças, comecei insensivelmente a notar o efeito delas sobre mim e sobre as pessoas ao meu redor. Disfarcei ao máximo para mim a influência delas sobre meu caráter, mas eu sabia muito bem que nem tudo era bom”.

Não é como se Endrick precisasse de mais avisos. No texto que escreveu para o irmão, ele conta o seguinte: “Mamãe sempre diz que um único erro pode fazer com que tudo desmorone, e ela está certa”. 

Se o atacante ouvir a mãe, desta vez o hexa vem.

 

Rodolfo Borges é jornalista 

 

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  1. O melhor do Endrick é quão centrado ele é. Com o talento que tem, no clube onde vai, com a mentalidade certa tem tudo para ser um grande craque. Mas daí a garantir hexa vai um largo passo

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