ReproduçãoO ditador com a primeira-dama, em campanha: mesma estratégia de Vladimir Putin

A farsa está montada 

O ditador Nicolás Maduro escolhe os seus candidatos de oposição para a fraude eleitoral de julho
29.03.24

A oposição venezuelana tem tentado de todas as formas participar das eleições de 28 de julho, mas não adianta. Sempre que a coalizão Plataforma Unitária Democrática (PUD) encontra uma maneira de contornar os obstáculos impostos pelo regime, o ditador Nicolás Maduro e seus comparsas inventam uma nova maneira de bloquear o acesso dos seus rivais que pedem pela volta da democracia. Com isso, já se pode prever que o pleito será apenas uma farsa para consagrar um novo mandato para o ditador.

A candidata escolhida pela oposição era María Corina Machado. No ano passado, ela venceu com 90% dos votos as eleições primárias, que ocorreram em vários países. Mais de 2 milhões de eleitores engajados optaram por ela. A votação foi conduzida pela coalizão sozinha sem qualquer verba estatal e sem repercussão na mídia nacional. Em janeiro, O Tribunal Supremo de Justiça, composto por juízes indicados por Maduro, condenou a ex-deputada à inelegibilidade por 15 anos. O processo foi manchado por irregularidades, como a restrição à defesa de acesso aos autos. Mesmo inelegível, María Corina seguiu com sua pré-campanha. Em três meses, sete dirigentes de sua pré-campanha foram presos ou sequestrados.

Sem poder seguir adiante, María Corina, com apoio dos demais partidos de oposição, indicou a professora de filosofia Corina Yoris para assumir o seu lugar. Imediatamente começaram a se multiplicar os ataques a ela, dizendo que ela tinha dupla nacionalidade: venezuelana e uruguaia. O desmentido foi feito pelo deputado uruguaio Pablo Viana, representando o Congresso em Montevidéu.

Quando a ditadura abriu o site para a inscrição de candidatos, nenhum dos partidos habilitados conseguiu inserir o nome de Corina Yoris. O sistema simplesmente impedia que isso acontecesse. O governo e o Conselho Nacional Eleitoral, CNE não deram qualquer explicação. Quem se pronunciou sobre o assunto foi o chavista Diosdado Cabello, braço-direito de Maduro e apresentador do programa de televisão Batendo com o Pau (Con el mazo dando, em espanhol): “Tem gente que não consegue se inscrever porque a máquina diz: ‘não vai’ “.

Ao final da tarde de terça, 26, a coalizão opositora anunciou a candidatura provisória do diplomata Edmundo González Urrutia. Rapidamente, os dissidentes bolaram um plano. A ideia era substituir Urrutia por Corina Yoris até o dia 1º de abril. Mas essa possibilidade também foi negada por Cabello. Segundo ele, só poderá substituir um candidato alguém que tenha tido sua inscrição aceita pelo CNE. Isso inviabiliza o plano de colocar Corina Yoris na cédula de votação. “Quem não se inscreveu não pode substituir um candidato. Para poder ser inscrito, seria preciso que o CNE abrisse outro processo de inscrição. Quem pode competir são aqueles que já estão inscritos. Apoiem Nicolás (Maduro) e vamos acabar com isso. Leiam as leis, esquálidos, perdão, opositores“, afirmou Cabello.

Os chavistas têm tentado convencer os venezuelanos e o resto do mundo a aceitar, como candidato de oposição, o governador do estado de Zulia, Manuel Rosales. Líder do partido Um Novo Tempo, de oposição, ele se inscreveu pouco antes de encerrar o prazo de inscrição, e sem combinar com o resto da oposição. Rosales é o adversário ideal para Maduro por dois motivos. Em primeiro lugar, ele não incomoda o regime. Um dos principais nomes da oposição nos anos 2000, o hoje governador se exilou no Peru por seis anos e foi preso ao retornar à Venezuela, em 2015. Desde que foi solto, em 2017, ele retomou sua carreira política com um um discurso menos crítico. “Rosales é um político hábil. Ele não se alia a Maduro, mas sabe como se comportar nesse ambiente autoritário”, diz o cientista político venezuelano José Vicente Carrasquero.

Em segundo lugar, Rosales já se mostrou eficiente em fragmentar a oposição. Dias após ser solto da prisão, em 2017, ele anunciou uma candidatura relâmpago ao governo de Zulia, que é produtor de petróleo e rota da cocaína colombiana. Sua decisão contrariou um boicote eleitoral da oposição. Rosales perdeu aquela disputa, mas acabou se elegendo em 2021. Mais recentemente, em 2023, ele se opôs à realização das primárias da PUD, vencidas por María Corina. De fato, o governador e a ex-deputada não se entendem, o que dificulta a transferência de votos. Com a confirmação das candidaturas na terça, eles fizeram pronunciamentos em locais separados. Questionada se apoiaria Rosales, María Corina reafirmou seu endosso a Corina Yoris.

Diante de todas essas evidências de que uma fraude está sendo armada, o Brasil de Lula se mostra incapaz de pressionar Maduro, que segue fazendo o que bem entende. Na terça, 26, o Itamaraty divulgou uma nota dizendo que o Brasil estava acompanhando “com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país“.

O texto chancelava os impedimentos colocados no caminho de María Corina, ao dizer que “não pairavam decisões judiciais” sobre a “candidata indicada” (Corina Yoris, no caso). Indiretamente, o governo brasileiro considerou legítimo o acosso judicial à María Corina. O Itamaraty ainda validou os nomes que foram aceitos pela ditadora chavista, ao dizer que “onze candidatos ligados a correntes de oposição lograram o registro” e que “entre eles, inclui-se o atual governador de Zulia, também integrante da Plataforma Unitária“. O governo brasileiro, assim, faz o que pede Maduro ao tentar fazer todos engolirem o nome de Manuel Rosales como o nome da oposição. Para completar o desastre diplomático, a nota do Itamaraty ainda dizia que o que tem contribuído para o sofrimento do povo são as sanções, sem dizer uma palavra sobre a repressão interna.

O único ponto digno da nota brasileira era o trecho que falava do bloqueio à candidatura de Corina Yoris e dizia que isso ia contra o acordo de Barbados. Esse acordo foi assinado com apoio brasileiro no ano passado, e por ele a ditadura se comprometia a permitir candidatos de oposição na eleição. Caracas respondeu a nota brasileira dizendo que era “cinzenta e intervencionista”. Ao mesmo tempo, a ditadura agradeceu Lula pela oposição às sanções americanas.

Na quinta, 28, ao lado do presidente francês Emmanuel Macron, Lula classificou como “grave” o fato de Corina Yoris ter sido impedida de registrar sua candidatura. “Eu fiquei surpreso com a decisão. Primeiro a decisão boa da candidata que foi proibida de ser candidata pela Justiça indicar uma sucessora. Achei um passo importante. Agora, é grave que a candidata não possa ter sido registrada“, disse o presidente. “Ela não foi proibida pela Justiça. Me parece que ela se dirigiu até o lugar e tentou usar o computador, o local e não conseguiu entrar. Então foi uma coisa que causou prejuízo a uma candidata.

Como Maduro teve o apoio de Lula até aqui, há dúvidas se o ditador mudaria o seu comportamento agressivo por causa de uma única declaração sensata do presidente Lula. De qualquer forma, a farsa já está montada.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Então, Lula afirma q na Venezuela tem democracia até demais. Hipócrita mentiroso! Deve sofrer "impeachment" imediatamente. O q falam as mídias sérias, q defendem a nossa Constituição? Lula defende Putin, defende e financia a miséria em Cuba, defende o atraso como o comunismo na Coréia do Norte do ditador Kim Jong-Un e da China de Xi Jinping. Lula é repudiado por todas as nações democráticas do mundo e o povo brasileiro, tardiamente, constata q Lula, de fato, apoia e ama as ditaduras! Fora Lula!

  2. Farsa com o apoio do PT, que se diz democrático. Aqui, arruaça é tentativa de golpe; na Venezuela pre de-se, mata opositores, mas lá é uma democracia. TENHA CARÁTER, PETISTAS.

Mais notícias
Assine agora
TOPO