ReproduçãoMaría Corina Machado: apesar de vencer com folga as primárias, ela não conseguiu se inscrever

Corina, a melhor representação da luta pela liberdade

Como uma mulher liberal passou a liderar a oposição e se tornou símbolo da resistência à ditadura do venezuelano Nicolás Maduro
29.03.24

“Ao invés de ficar chorando, eu indiquei outro candidato”. Esse foi o recado dado por Lula a María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, após ter a sua candidatura à Presidência da República barrada pelo Supremo Tribunal de Justiça do país. O presidente fez um paralelo infeliz, comparando a decisão do Supremo Tribunal venezuelano com a decisão do TSE, em 2018, pela impossibilidade de sua candidatura condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.

María Corina não deixou barato e respondeu Lula à altura: “Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos que votaram por mim nas primárias e os milhões que têm direito de votar em eleições presidenciais livres nas quais derrotarei o Maduro”. É claro que cabe uma reflexão não só sobre o contexto dessa troca de farpas e o histórico da Venezuela, mas também sobre quem é a mulher que, atualmente, se consolida como a mais importante representação da luta pela liberdade na ditadura venezuelana.

Historicamente, países marcados por incontáveis ditaduras e golpes de Estado tendem a ter dificuldades de se libertar de fracassos econômicos e políticos, especialmente quando há poder, populismo e fraudes eleitorais envolvidos. O caso da Venezuela não foge disso. A história do país é marcada por ditaduras e golpes desde o século XIX e ao longo do século XX, no qual surgiu a figura de Hugo Chávez, em uma tentativa fracassada de golpe militar no governo do então presidente Carlos Andrés Perez, em 1992.

Apesar de fracassada, essa tentativa foi a responsável por consolidar Chávez como um líder popular e carismático que prometia combater a corrupção, reduzir a desigualdade social e a pobreza e enfrentar o domínio político das elites tradicionais na Venezuela clássica estratégia retórica que leva à ascensão de um líder popular e sua consequente vitória nas urnas. O contexto era favorável, já que Perez havia sofrido impeachment por corrupção alguns anos antes da primeira vitória eleitoral de Chávez, eleito presidente em 1998.

Hugo Chávez governou a Venezuela de 1999 até a sua morte em 2013 e consolidou-se como uma forte figura política na história do país. Assim, surgiu o chavismo, ideologia marcada pelas características do governo de Chávez. Esse governo foi caracterizado por uma abordagem centralizadora, populista e, principalmente, socialista. Em discurso no Fórum Social Mundial de 2005, Chávez chamou o seu projeto de “Socialismo do Século XXI”, marcado pela nacionalização de setores estratégicos da economia, políticas de reforma agrária, implementação de programas sociais etc. Com a sua morte, Maduro, então vice-presidente, toma a frente da Venezuela, enfrentando uma economia destruída, com escassez de produtos básicos e inflação altíssima que se arrasta até hoje.

María Corina surge em meio à ditadura de Maduro, com denúncias de supressão de liberdades. Opositores políticos ao governo enfrentam perseguição, intimidação e detenção arbitrária. A Organização das Nações Unidas (ONU) reúne relatórios com centenas de casos de tortura e prisões políticas. Em meio a essa conjuntura, María Corina, que foi deputada na Assembleia Nacional da Venezuela entre 2011 e 2014, venceu as primárias da oposição em outubro de 2023 com mais de 90% dos votos.

O destino já traçava o caminho de Corina na defesa do liberalismo, já que, ainda no governo de Chávez, seu pai empresário do setor metalúrgico teve suas empresas expropriadas. Daí surgiu uma mulher defensora de ideias liberais. Como deputada, sua atuação foi marcada por uma postura firme e combativa em defesa da democracia, dos direitos humanos e das liberdades individuais na Venezuela. Corina também defendia políticas econômicas opostas às implementadas por Maduro, como a promoção do livre mercado e do empreendedorismo como caminhos para o desenvolvimento econômico do país.

A recente proibição de ocupar cargos públicos pelo Supremo Tribunal de Justiça do país não foi o primeiro ato de perseguição sofrido por Corina. Sua trajetória como ativista e oposição ao governo de Maduro a colocam como verdadeira ameaça ao chavismo. Em 2014, liderou um movimento de protesto contra Maduro, o que a fez perder a sua cadeira na Assembleia por acusação de conspiração golpista.

A persistência e a resistência de uma mulher lutando pela liberdade em seu país é o que move a esperança dos 90% de votos conquistados por Corina no ano passado. A ascensão de uma mulher liberal como líder da oposição a uma ditadura é a melhor representação da luta pela liberdade individual e econômica na América Latina. E essa luta está longe de acabar.

 

Letícia Barros é advogada, empreendedora e vice-presidente do LOLA Brasil. 

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  1. Ela que deveria ser apoiada por Lulaa e o PSEUDO ministro relações exteriores,e não o dita dor psicopata maduro

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