Operação da PF em favela do Rio foi para recuperar celular de ministro da AGU
Uma operação de emergência realizada pela Polícia Federal no último fim de semana em uma favela no Rio de Janeiro repercutiu na imprensa por uma razão quase prosaica: fortemente armados, e com apoio de guarnições da Polícia Militar, os agentes foram a campo para recuperar um aparelho de telefone celular que havia sido esquecido dentro...
Uma operação de emergência realizada pela Polícia Federal no último fim de semana em uma favela no Rio de Janeiro repercutiu na imprensa por uma razão quase prosaica: fortemente armados, e com apoio de guarnições da Polícia Militar, os agentes foram a campo para recuperar um aparelho de telefone celular que havia sido esquecido dentro de um carro do Uber.
O veículo havia sido localizado e estava no interior da comunidade de Três Pontas, no Cosmos, Zona Oeste da cidade. A área é dominada pelo tráfico e por milícias. No boletim de ocorrência em que registraram o auxílio à PF, os PMs informaram que foram acionados pelos policiais federais para recuperar um aparelho que seria de propriedade de um delegado federal de nome Ricardo, de Brasília.
Estava aí a razão inicial do barulho: em um país onde tantos celulares de cidadãos comuns são roubados todos os dias, seria justificável a Polícia Federal mover tanto esforço só para recuperar um aparelho de um delegado?
Crusoé descobriu que a história é outra. A ordem para que a PF entrasse na favela para buscar o celular de fato partiu de Brasília. Mas a Polícia Federal mentiu ao informar que o celular era de um delegado. O aparelho, na verdade, era do ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), André Luiz Mendonça (foto).
O ministro havia perdido o celular na quinta-feira, 8, quando viajou ao Rio para dar aulas em um curso de pós-graduação. Nesta sexta, 16, Crusoé perguntou a ele por que foi preciso deflagrar uma operação policial para resgatar o celular, de quem foi a decisão de esconder a verdade nos registros oficiais sobre a ação e de onde, em Brasília, partiu a ordem para que os policiais entrassem na favela para buscar o aparelho.
André Luiz Mendonça disse se tratar de um aparelho funcional que continha informações de estado e que, por isso, era preciso recuperá-lo. Afirmou ainda que ele próprio fez o pedido para que a PF fosse atrás do aparelho. O pedido, segundo Mendonça, foi feito diretamente ao diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, que teria ordenado a ação.
“Fui orientado a buscar no sistema da Apple a localização. Ele não aparecia. Não sabia onde podia estar também. Até que, na madrugada do sábado, apareceu para mim a localização. Eu estava em Brasília já. Não sabia dizer onde, era um local que eu não saberia dizer onde é no Rio de Janeiro. Pedi para falar com o diretor da Polícia Federal, o (Maurício) Valeixo, explicando que eu estava preocupado com o conteúdo de informações, de arquivos etc. que você tem nesses celulares. Aí ele acionou a Polícia Federal, eu mandei a localização de onde estaria. Eles me retornaram preocupados porque era uma localização dominada pelo tráfico e por milícias, que era uma região, vamos dizer assim, muito perigosa para a Polícia Federal entrar lá sozinha. Então, eles foram até próximo do local. Depois que eu fiquei sabendo disso”, afirmou o ministro a Crusoé.
Indagado sobre a razão de ter sido ocultada a informação sobre o verdadeiro dono do celular, André Luiz Mendonça afirmou:
“Eles (os policiais) me explicaram que falaram isso (que era de um delegado da PF) para não chamar atenção de quem poderia estar com o celular, entendeu? Foi a forma menos chamativa. Porque o valor ali são as informações, né? Informações de estado nas mãos erradas você corre um risco muito grande, ainda mais numa região em que eles me falaram que tinha domínio do tráfico.”
O ministro negou que tenha pedido ajuda ao ministro Sergio Moro ou ao presidente Jair Bolsonaro para que autorizassem a operação.
Ao todo, oito policiais federais e sete policiais militares participaram da ação. O celular foi recuperado.
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Comentários (10)
Edson
2019-08-18 20:59:47No Brasil só o que funciona bem, é o corporativismo! RJ capital mundial da corrupção!
Maria
2019-08-17 14:17:09Como pode!? Um aparelho contendo informações de Estado!!! Até ser recuperado, quem garante a que alguém não teve acesso a essas informações!? É cada absurdo...
Mila
2019-08-17 13:29:20HISTÓRIA MAL CONTADA--DROGA Â VISTA
Míriam
2019-08-17 12:24:55Mas esses celulares funcionais não têm criptografia especial ? Por que o desespero ?
Maria
2019-08-17 10:02:39Esse ministro da AGU é, na melhor das hipóteses, um irresponsável. Como ele pode ter “esquecido” um celular com informações de Estado em um Uber? Isso é uma atitude q se pode esperar de um adolescente. É inadmissível em um ministro da AGU
Francisco
2019-08-17 08:57:25Reportagem com o intuito único e exclusivo de tergiversar da importância do assunto como se a preocupação fosse com o valor do aparelho em si, omitindo a importância do conteúdo que estaria contido no aparelho celular do ministro. Fosse no governo passado, uma ocorrência dessas não gerava nem noticia, quanto mais com esse estardalhaço todo e recheada de insinuações maudosaas.
Barros
2019-08-17 08:10:24A esse tipo de ação, os simples e penalizados pagadores de impostos, inclusive o alto salário do ministro da AGU, não têm acesso mesmo. Isso é só para os deuses da "res publica", que em bom Português se traduz por coisa pública, coisa do povo.
Henrique Simão
2019-08-17 01:47:43Agiram corretamente. Se eles falassem antes que o celular era de um ministro de estado chamaria muita atenção e as pessoas poderiam tentar acessar/vender as informações. Atitude correta de manter segredo.
LILIANE
2019-08-16 22:52:38Não seria este a cria do Toffolli, o afilhado indicado para roubar o lugar do Moro no STF, novo queridinho do presidente terrivelmente traíra, queimador de pontes pelas quais fez sua travessia ??
Rosemay
2019-08-16 21:46:48Sendo um celular tão importante, com tantas infos sensíveis, convenhamos que o ministro foi bem negligente esquecendo-o num Uber. Mas o dinheiro do contribuinte está aí para isso mesmo, certo?