ReproduçãoMaduro e Lula, em Caracas

A política externa que se aproxima

Com Lula, a boa circulação nos grupos da elite mundial e a narrativa politicamente correta são funcionais à aproximação com as ditaduras
09.12.22

Em política externa, alguns interesses e posições permanecem os mesmos ao longo dos anos, independentemente do partido que está no poder. É o que se chama de “política de Estado”. Mesmo com a posse de Lula, em 1º de janeiro, não dá para imaginar, por exemplo, qualquer mudança na representação dos interesses ligados à estrutura produtiva brasileira e à pauta exportadora. O Brasil continuará produzindo e exportando commodities e as relações econômicas com seus maiores parceiros comerciais continuarão iguais. A posição em relação à invasão da Ucrânia, por exemplo, seguirá a mesma tendência (ou até mais critica contra Kiev), assim como a relação comercial com a China. Além disso, tanto Jair Bolsonaro quanto Lula são nacionalistas. Eles acreditam na narrativa de que o Brasil é uma potência que merece um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Além da “política de Estado”, pode-se falar também da “política de governo”, que muda de acordo com o gosto do presidente e do partido no poder. Essa está mais ligada a interesses, crenças, conexões pessoais e partidárias. Especialmente nos países pobres e de renda média, como o Brasil, é uma área que costuma ter muita oscilação de governo para governo. De modo geral, conservadores, liberais e sociais-democratas tendem a priorizar as relações com o Ocidente, ou seja, com Europa, Estados Unidos e demais democracias liberais. Por outro lado, socialistas e marxistas tendem a priorizar a cooperação “Sul-Sul” e as relações regionais na América Latina.

No caso do PT e de Lula, temos um histórico para observar. Nos seus dois mandatos como presidente e nos de Dilma Rousseff, o governo focou no Mercosul, rejeitou tratados de livre comércio (Aliança do Pacifico) e aproximou-se do Irã de Mahmoud Ahmadinejad, da Cuba dos irmãos Castro (com o porto de Mariel e o programa Mais Médicos), da Venezuela de Hugo Chávez (com o metrô de Caracas) e Nicolás Maduro, da Bolívia de Evo Morales e de Moçambique (aeroporto elefante branco de Nacala). Também manteve relações suspeitas com a ditadura socialista angolana.

Não houve qualquer esboço de reação, aliás, quando o governo boliviano estatizou refinarias da Petrobras. Projetos financiados pelo BNDES em vários “países amigos” (com muitos segredos de Estado) levaram calotes. O governo também cogitou expulsar um jornalista estrangeiro, correspondente do New York Times. Atletas cubanos que tentaram fugir do regime foram deportados e mandados de volta para a ilha-prisão, enquanto terroristas como o italiano Cesare Battisti foram protegidos em território nacional. Só ficou faltando o querido jogo de futebol para selar a paz entre palestinos e israelenses.

Tudo isso vai voltar. A presidente de Honduras, Xiomara Castro, já sinalizou que pretende pedir financiamentos do BNDES. Já se fala de um possível convite a Maduro para a posse presidencial (mas que está esbarrando em uma portaria que proíbe a entrada de altos funcionários do regime venezuelano). Lula já acena a recriar embaixadas, consulados e postos consulares Brasil afora (com alto custo e pouco retorno). Assim como voltarão as tentativas de criar uma moeda única para o Mercosul (também uma pauta do ministro Paulo Guedes) e a narrativa da não subserviência aos Estados Unidos. A permissão para o uso por terceiros da base de lançamento de Alcântara poderá ser revista e é possível que ocorra uma desaceleração do processo de ingresso do Brasil na OCDE e do acordo entre o Mercosul e a União Europeia.

Uma questão da máxima importância será a da Venezuela. Hoje, o Brasil reconhece o governo de Juan Guaidó e dá status de refugiado a quem foge do regime socialista por meio da Operação Acolhida. Mas Lula já falou que considera a Venezuela uma democracia e que Guaidó é um impostor. O petista talvez reconheça o governo de Maduro, o que poderia reduzir o número de venezuelanos assistidos e mudar o status deles, de refugiados para migrantes. A Operação Acolhida também poderá ser revista, para prejuízo de milhares de famílias.

A China, além de ser um importante parceiro econômico, poderá voltar a ser exaltada como um exemplo de modelo político. Não faltam intelectuais, ativistas e influenciadores de esquerda que elogiam publicamente o sistema chinês sem nenhuma vergonha. Vale relembrar as ligações entre o PDT (aliado do PT) e o Partido Comunista Chinês (PCCH), que em 2017 se encontraram no Rio para estabelecer uma parceria. Várias são as notas oficiais do PT saudando e elogiando o PCCH. Desde 2015, os partidos participam conjuntamente de seminários, e Lula já teceu declarações elogiosas à maneira como a China lida com a pandemia do Covid. Em 2020, o PSB fez um seminário com o PCCH exatamente sobre formas de combater a pandemia. No ano seguinte, o Fórum das Centrais Sindicais do Brasil recebeu um financiamento do PCCH. Aquisições de empresas brasileiras por parte de firmas chinesas, viagens pagas ao país oriental e relações comerciais continuaram até no atual governo, mas há uma importante diferença: a esquerda defende o sistema totalitário chinês como modelo a ser seguido.

Teremos mais detalhes quando o próximo ministro de Relações Exteriores for nomeado, mas qualquer que seja o nome, em parte será obscurecido pelo próprio presidente. Lula navega muito bem nos altos círculos da elite política mundial. É um grande articulador e se mostrou hábil nas relações sociais. Ele conseguiu ficar quase amigo de George W. Bush e não será difícil se dar muito bem com o francês Emmanuel Macron. Lula fará muitas viagens internacionais, será capa de revistas estrangeiras e receberá uma cobertura midiática muito mais positiva que a dada a Bolsonaro. A história do “presidente operário”, pobre, quem vem do povo, é muito fascinante, especialmente nos países ricos. Retornará a chamada “diplomacia presidencial”, com o petista talvez almejando de novo o Nobel da paz.

Também teremos uma volta do multilateralismo. Até porque os organismos internacionais hoje estão mais alinhados com a visão de mundo de Lula. Na ONU, haverá um alinhamento com a Agenda 2030-2050, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), com a pauta ESG (meio ambiente, questões sociais e governamentais), com agendas identitárias e a narrativa do ambientalismo radical. Já o discurso da soberania brasileira da Amazônia é transversal ao espectro politico e vai continuar.

Teremos uma maior aproximação com América do Sul (que está em uma fase quase toda de esquerda), África, Brics, Mercosul, Unasul, Foro de São Paulo (a secretaria executiva do Foro, Monica Valente, faz parte da equipe de transição), e da cooperação Sul-Sul. A proximidade com os atuais governo de Chile, Colômbia, Peru e Argentina é conhecida.

Em suma, por um lado, haverá relações com regimes ditatoriais. Por outro, Lula frequentará os altos círculos da elite mundial com uma retórica politicamente correta. E não se trata de uma contradição, uma vez que essa narrativa é funcional às relações com as ditaduras.

 

Adriano Gianturco é coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec-BH

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  1. Os nossos hermanos estão eufóricos pois poderão gritar a pleno pulmões....VOCÊS SERÃO NÓS AMANHÃ. Quero vê o que dirão estes "DEMOCRATAS babacas de boca pra fora", quando o "descondenado" e sua trupe começar a devolver venezuelanos na fronteira a pedido deste "ditadorzinho de m....", Nicolas Maduro. Quanto a esse alinhamento do "politicamente correto europeu" é uma palhaçada pois o que se vê nesse escândalo agora é que apesar da empáfia, tem CORRUPTOS e BANDIDOS iguais a essas bandas de cá.

  2. Boa visão de futuro da política externa do governo Lula. A Frente Ampla para Democracia foi engodo para o PT voltar ao poder. É notório que a ambição dele é socializar o nosso hemisfério. São idéias retrógradas que não prosperaram e que teimam em mantê-las vivas. Lula é um populista e como tal, farsante.O Brasil ficará mais quatro anos andando de lado. A influência do estado na economia é previsível. Inchaço da máquina pública, também, como o patrulhamento nos órgãos do governo. A mesmice.

  3. O Brasil é um anão diplomático. O PT escolhe aliar-se com estrume populista/autoritário por afinidade ideológica em prejuízo dos interesses nacionais. Já Bolsonaro subjugou-se a Trump por uma idolatria estúpida e nada ganhou com isso. Tendo em conta as formas de condução ridícula da política externa desses 2polos é melhor seguir sozinho

  4. A política de governo é a partidária. Corrupção, assassinatos, roubos e dinheiro, muito dinheiro no bolso dos companheiros. Calaram Celso Daniel por isso. Só que agora tudo isso voltará a ser internacionalizado, propina em dólares é melhor que em real. Isso sem contar o apoio do crime organizado (vide apoio do PCC). O brasileiro merece tudo que essa 'gangue democrática' lhes fizer...

    1. A gente só sai do lixo quando os corruptos morrerem. Tem aqueles que estão colocando os filhos, como os barbalho e os calheiros... O bônus com a morte de lula é que ele não tem herdeiro político. O camarada foi tão egoísta que o partido o adora como a um deus e, no dia que morrer, tão cedo aparecerá outra cobra igual. E quando tentou fazer uma sucessão, colocou no seu lugar uma pessoa que não é capaz de ordenar palavras de modo a formar uma frase. O povo brasileiro agradece.

    2. Lulalixo e Bolsolixo..........................só lixo. Nosso pobre Brasil nunca sairá disso................no voto! Necessário pauladas nas cabeças...

  5. Lula é recebido pelo mundo como um animal exótico. Semianalfabeto, de origem humilde, muito rico porque corrupto, ex condenado e ex presidiário. Como se apresenta, é um la drão corrupto, mas refinado.

  6. Não podemos nos esquecer que Lula, quando deixou a Presidência da República, manifestou o desejo de ser Secretário Geral da ONU. Durma-se com um barulho desse.

    1. É inaceitável que o Brasil que possui milhares de pobres e miseráveis financie obras em outros países. Será que o PT não aprende nunca? Será que os esquerdosos acham que aceitaremos quietos que o PT dê dinheiro para dita.duras sanguiná.rias e crimino.sas? Lebrem-se de Dilma, senhores. MS

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