O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado.Haddad e Lira: equilíbrio frágil - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

As órbitas de Haddad e Lira vão se alinhar?

Mirando o futuro, o ministro e o presidente da Câmara precisam um do outro, mas parecem presos naquilo que os economistas chamam de jogo do prisioneiro
29.09.23

Análise de cenário implica em entender quais são as placas tectônicas da política, como elas se movimentam e como delimitam as escolhas dos atores. Considerando que vivemos em uma democracia eleitoral, a principal força que organiza esse universo é a perspectiva de continuidade ou substituição política representada pelas eleições. Dessa forma, mesmo que 2026 ainda se encontre distante, o pós-Lula já exerce claramente sua influência e coloca em rota de alinhamento as órbitas do presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira e do ministro da Fazenda Fernando Haddad.

De um lado, Haddad precisa criar uma marca própria para impulsionar seu futuro político e compor um arco de alianças que funcione mais ou menos independentemente da influência de Lula. Tudo para depender menos da vontade do chefe e ter alguma capacidade de se impor quando chegar a hora. Quanto mais força reunir, menos chance terá de escutar, pouco antes da campanha, que “agora é Janja”. Lembrando sempre que nos ouvidos de Lula estão sempre circulando palpites de concorrentes diretos, como Rui Costa, Camilo Santana, Gleisi Hoffmann, Wellington Dias e, por que não, da própria primeira-dama.

Vindo na outra direção, Lira precisa garantir que continuará relevante depois de deixar a cadeira da presidência da Câmara em 2025. O alagoano sabe que não conta com as graças de Lula (nos bastidores, corre a versão de que o petista sequer o considera um adversário à sua altura) e tem um inimigo poderosíssimo e com muita influência no seu calcanhar (Renan Calheiros). Por isso, Lira precisa reforçar sua rede para além do presidente e Haddad, pela sua posição e necessidade, é sua melhor opção.

A conjuntura, portanto, sugere que Haddad e Lira precisam um do outro em uma aliança mirando o futuro. Nela, Lira entrega ao petista sua agenda econômica (aumento de impostos + desarticulação de pautas bombas) no curto prazo e recebe ajuda dele para influenciar o governo e consolidar sua hegemonia na Câmara. A boa avaliação que o Congresso faz do ministro é um sinal de que já  entendeu as vantagens da colaboração mútua. Mesmo a ala conservadora de deputados e senadores pode enxergar na ideia de fortalecer Haddad uma forma de garantir Lula fora do Planalto em 2026.

Percebendo, portanto, que há claras vantagens numa colaboração mútua, o que pode impedir uma parceria entre Lira e Haddad? O velho problema da falta de confiança.

Na economia, há um paradoxo chamado dilema da ação coletiva. Ele se pergunta por que atores racionais – que agem orientados por objetivos e que buscam o melhor caminho para alcançá-los – não colaboram mesmo identificando interesses comuns percebendo os ganhos de uma ação conjunta.

A metáfora que ilustra essa situação é o jogo do prisioneiro, no qual dois comparsas estão detidos e são interrogados em salas separadas. Eles sabem que se ninguém confessar, passarão o tempo mínimo na cadeia. Mas, sabendo da falta de confiança entre eles, o investigador faz um jogo, oferecendo individualmente um acordo no qual aquele que confessar e incriminar o colega sairá livre e o outro receberá a pena máxima. Buscando atingir apenas seu fim egoísta, sair livre, eles preferem trabalhar sem cooperação, se denunciam e o resultado é o pior possível, isto é, ambos pegam punições pesadas.

De certa forma, Haddad e Lira são colegas da órbita lulista. Com colaboração, Lira pode facilitar a vida de Haddad, ajudando-o a passar logo pela dura fase de construção das condições de reequilíbrio fiscal, vencer seus adversários internos e dar-lhe tempo para criar uma marca de políticas públicas. Haddad, por sua vez, pode dar a Lira um passe seguro para depois que descer da cadeira de presidente da Câmara e abrir-lhe (ainda mais) as portas do atual governo, que é condição fundamental para que ele mantenha força no Legislativo.

Mas Haddad pode achar que lhe interessa mais um presidente da Câmara fraco, que lhe custe menos recursos de negociação (aliás, preferência que ele já manifestou publicamente). Nesse sentido, no seu radar, Lira sempre tem de  estar na condição de devedor dos seus pares, coisa que o governo consegue fazer prometendo espaços e não entregando.

Lira por sua vez, tem menos incentivos para agir sozinho, mas também pode ser levado a crer que a melhor maneira de ter influência, caso não consiga a parceria do governo, é manter Haddad pressionado, sempre entregando menos em termos de aprovação de projetos do que o ministro pede.

De todo modo, as condições estão postas e os benefícios da colaboração são perceptíveis a todos. Se vai acontecer, depende do fio do bigode e da capacidade de confiança recíproca que os dois conseguirão construir. Conseguirão? Bem, no momento, eles estão sem se falar e líderes do Congresso trabalham para que façam as pazes.

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  1. Os nomes colocados em perspectiva para 2026 são verdadeiras desgraças para o país. Depois do Descondenado o país merece uma era de desenvolvimento e progresso além de recuperação do nível moral e ético.

  2. Haddad é a presença lúcida neste saco de gatos que chamam governo por mesmo sendo beneficiário do projeto comuno-bolivariano em claro curso o peso do seu cargo, hoje o mais importante da república, o fez ver o óbvio e talvez não queira passar à história como destruidor de um país rico e promissor mas que a insanidade de seus idiotizados líderes reféns de ideologias do tempo do Brucutu destroem o país em favor de estrangeiros a quem entregam a riqueza escravizando manés . o pior está por vir ?!?

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