Cookie Studio/FreePikJovem tapando os olhos: cuidado, está passando um filme adulto

Cinema adulto

Não é o que você está pensando: a pornografia é uma forma de infantilização, esse vício que tomou conta de artes como o cinema e a música
29.09.23

Existe um meme circulando nas redes sociais que mostra uma sala escondida numa videolocadora onde se lê “cinema adulto”. Ao contrário do que se espera, vemos nela filmes de Godard, Pasolini, Antonioni, Tarkóvski. A piada, evidentemente, está na quebra da expectativa. Cinema ou entretenimento adulto virou sinônimo de pornografia. Podemos explorar um outro sentido, o cinema que tem por público-alvo pessoas maduras – um tipo de cinema que não está muito em voga hoje em dia.

A moda é a infantilização, tanto na música quanto no cinema – a febre de filmes de super-herói e as divas pop (que produzem música padronizada) ilustram bem isso. A pornografia, inclusive, é uma forma de infantilização do gosto, baseada em estímulos padronizados e imediatos. O cinema adulto, feito para pessoas maduras, não é necessariamente um cinema intelectual. Nenhuma arte se dirige exclusivamente ao intelecto.

O cineasta soviético Andrei Tarkóvski, por exemplo, instruía os espectadores a não ficarem tentando interpretar seus filmes. O próprio Tarkóvski reclamava de uma inflação emocional ocorrida no século XX que veio com a velocidade da informação. Tarkóvski, que morreu em 1986, não chegou a ver até que ponto esse processo chegaria com a internet, com estímulos constantes, de todo tipo, a todo momento.

A psiquiatra Anna Lembke escreveu no livro Nação Dopamina sobre como as pessoas atualmente estão viciadas em prazer e como isso as tem tornado infelizes. O motivo é: o cérebro tem um sistema de compensação, uma espécie de balança, que reequilibra as emoções quando elas pendem para um lado. O excesso de prazer, então, pode levar à depressão, e o excesso de dor pode levar a um reequilíbrio no sentido da paz ou até mesmo do prazer.

O vício em drogas é o melhor exemplo de quando o sistema é forçado no sentido do prazer e precisa se reequilibrar, produzindo depressão. E pior: quanto maior o vício, menor o prazer a que se chega e maior a quantidade necessária para se estar apenas num estado normal. Processo semelhante acontece com o vício em pornografia. E o resultado disso tudo é uma espécie de infantilização, de redução a uma busca por estímulos pueris e imediatos.

O acesso facilitado pela internet a todo tipo de estímulo tem afetado drasticamente a produção e a recepção de bens culturais. Fica difícil entender o cinema adulto. Digo, o cinema feito para adultos, com um enredo complexo feito por um autor. Já o cinema adulto no outro sentido tem garantido cada vez mais espaço. Até mesmo na música pop, vide os clipes de Anitta. Tenho a impressão de que na cultura pop atual tudo tende de uma forma ou outro para a pornografia. Seja direta ou indiretamente.

O meu enfoque não é moralista: a temática sexual, ou mesmo a imagem da nudez e do sexo, é parte integrante e fundamental de grandes obras de arte. Desde a antiguidade até a literatura contemporânea. Dos autores gregos a Henry Miller. Ou, aqui no Brasil, de Gregório de Matos a Nelson Rodrigues. O problema da pornografia é, primeiro, a imagem direta, sem preparação. Segundo, a imagem é usada como estimulante, como uma droga. Estímulos que precisam ser cada vez maiores, num caminho que vai até a degradação. Nesse sentido, a imagem da morte também pode ser pornográfica (como as imagens de um acidente que vazam na internet), ou pode ser artística (a morte num livro de Tolstói ou num filme de Michael Cimino).

O sexo na arte não é necessariamente menos explícito. Num livro de Henry Miller a sexualidade é tão explícita quanto num livro erótico. A diferença está na qualidade e na natureza da descrição, mais próxima de uma experiência verdadeira.

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  1. Sexo vende. Quanto mais arrojado, mais desperta a curiosidade e mais vende. Como, cingindo-nos apenas ao cinema, já vamos em mais de século da arte, é normal que a exposição sexual tenha de ser cada vez mais explícita ou recorrer a taras e fetiches para conseguir cativar com essa novidade o público e gerar dinheiro.

  2. Esta é uma questão cultural e somos uma nação jovem, miscigenada e isto gera conflitos já que o desnível social que beira a indecência distorce qualquer análise séria sobre o assunto ... mas ver estudantes universitários numa peça de teatro dançando com o dedo atolado no ânus foi algo que certamente nem os homens de Neandertal tolerariam por absoluta degradação humana MAS a isto insanos sabe-se lá sob quais psicopatias querem impor à nação ... só no seu né? no meu não violão !!!

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