Isac Nóbrega/PRA vida na caserna é muito boa, se faz muita camaradagem, pequenas negociatas e sempre tem o banho coletivo

Unidos e engatados em torno do mesmo ideal

01.09.23

Eu deveria ter seguido os conselhos da minha pobre e santa mãezinha e, em vez de jornalista escroque e mau caráter, ter abraçado a nobre carreira militar de milico das Forças Armadas.

No lugar da faculdade de jornalismo, onde só se aprende comunismo, pederastia e a fumar maconha (não necessariamente nessa ordem) eu deveria ter prestado concurso para a tradicional Academia Militar das Agulhas Negras.

Nessa autêntica academia de civismo, poderia me dedicar ao aprendizado da ciência tático-bélico-militar tais como: a caiação de árvores e meios-fios, a manutenção de campos de futebol, o comércio clandestino de joias e relógios, o combate ao comunismo, à pederastia e a fumar maconha. Rigorosamente nessa ordem, pois nas FFAA a ordem, a disciplina e a hierarquia são fundamentais.

Por exemplo, durante o banho coletivo um capitão deve ensaboar as costas de um major, um coronel tem que passar creme rinse na careca do general e assim sucessivamente segundo a patente militar seja ele da ativa ou da passiva, qualquer atitude contrária implica na quebra da rígida hierarquia milico-castrense. No Exército é assim: ou se é pau mandado ou se é cumandante. Eu prefiro o primeiro.

Não existe nada mais importante na vida castrense do que a hierarquia. O militar é obrigado a obedecer aos seus superiores sem vacilação. Se um capitão mandar um tenente pagar 200 flexões só de sacanagem, o comandado tem que cumprir a ordem sem vacilação, mesmo só sabendo contar até 100. O comprimento do Dever não importa e sim o prazer que ele proporciona!

No caso de o presidente da República, comandante-em-chefe das FFAA, mandar um milico assumir um cargo numa estatal ganhando uma fortuna, o subordinado deve seguir à risca o comando do seu superior, custe o que custar aos cofres públicos. Missão dada é missão cumprida.

Concluída a academia militar, após a tradicional cerimônia da troca-troca dos espadins, já no posto de tenente, pode-se dar início à carreira de reco. Assim como os civis desempregados, os oficiais militares também não precisam trabalhar. Basta mandar um soldado raso aparar a grama do campo de futebol do quartel e caiar as árvores pela metade e o meio-fio por inteiro. O resto do dia é dedicado a manobras tático-militares planejando golpes de Estado fracassados. Os raros momentos de lazer são destinados a prática de atividades sócio-educativas tais como a ginástica calistênica seguida do banho coletivo. Uma parte da tropa, mais apressada, prefere pular a parte da ginástica calistênica.

A vida na caserna é muito boa, se faz muita camaradagem, pequenas negociatas e sempre tem o banho coletivo.

O problema é que o ex-presidente e futuro presidiário nunca foi engolido pelo alto generalato estrelado. Não por ser uma besta quadrada, mas por ser de uma patente inferior, a de capitão. Capitão do mato, do torturo e estupro e do arrebento. O insubordinado Bolsonaro, mesmo sendo o Comandante Supremo, era considerado uma unha encravada na garganta das Forças Armadas. O que a unha do capitão estava fazendo, encravada, na garganta dos generais é coisa deles e nós, os paisanos, não temos nada a ver com isso.

O ano de 2023 começou com uma tentativa de golpe frustrada principalmente porque foi num domingo, um dia que ninguém faz nada, ainda mais em Brasília.

Um bando enfurecido de tiozões bolsonaristas invadiu a Praças dos Três Poderes nas barbas das forças de segurança que, mesmo alertadas, preferiram assistir ao Programa do Silvio Santos, e olha que nem mesmo o Silvio Santos assiste mais ao próprio show. Luisque Inácio Lula da Silva, o Janja, também não estava no Distrito Federal, porque o ex-presidiário e atual presidente, como sempre, não está nem aí. Prefere viajar, de preferência pra fora do país.

Eu, Agamenon Mendes Pedreira, jornalista combativo e compassivo, posso falar de cadeira, cadeira do dragão, pois fui perseguido pela dentadura militar dos generais e tive minhas unhas arrancadas por uma manicure do Exército nos porões do DOI-CODI.

Dividi uma exígua cela de um metro quadrado com o Paulo Francis, Jaguar, Ziraldo, Zuenir Ventura, Calos Heitor Cony, Antonio Callado (que ficava a maior parte do tempo sem falar nada), Gabeira, Henfil, Gugu Liberato, Fausto Silva, Wilson Simonal, Jean Willis, Lady Gaga, os The Fevers, o Chacrinha, Carlos Imperial, os pagodeiros do Exalta Samba, o Alok e a vedete Virginia Lane que disputava com o(a) Pablo(a) Vittar quem seria a “noiva” dos apenados que se comprimiam naquela masmorra infecta, imunda e mal cheirosa. A coisa só aliviava um pouco na hora da tortura porque a gente podia relaxar um pouco no pau de arara do Coronel Ustra, que naquela época já estava meia-bomba. Com trocadilho, se faz o favor.

O medo de sermos assassinados ou trocados pela figurinha repetida do embaixador americano Tony Bennett era constante. Um dia o general José Bonifácio de Oliveira Sobrinho Júnior, o Boninho, ameaçou de mandar todo mundo para o paredão! Felizmente, esses anos de chumbo acabaram. Fui anistiado, voltei para o Brasil e pude exercer o jornalismo na sua plenitude democrática sempre em busca da meia-verdade, do correto uso do hífen e do achaque irrestrito.

 

Agamenon Mendes Pedreira é a mais alta patente do jornalismo brasileiro

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  1. As duas profissões poderiam ser extintas : não produzem nada de concreto , não ajudam no crescimento do PIB, não melhoram a vida das pessoas, se não existissem não fariam diferença, mas atrapalham muito quando resolvem tomar partido de algum lado.

  2. Agamenon, realmente você não deveria ter escolhido a carreira de Jornalista, mas, não ouviu sua mãe, deu nisso! Aposto que você é um pobre coitado (com trocadilho).

  3. É um mistério como Bostanaro conseguiu entrar na Academia Militar de Agulhas Negras. As provas selecionam apenas pessoas com inteligência bem acima da média. O que fez na presidência é obra de imbecil.

  4. E o povo acreditou durante tanto tempo que as FA eram compostas por gente qualificada e que só queriam o melhor para o país. Kkkkkkkkkk na verdade são como qualquer outra casta da nossa elite corporativista pública: um bando de desqualificados lutando para proteger e expandir seus privilégios, sem nunca desperdiçar tirar uma "vantagenzinha" que se propicie

  5. Ironias à parte, cobriu plenamente as atividades das das FFAA, que vão de embora a recuperar o moral da tropa

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