Reprodução/Island RecordsBob Marley (1945-1981) na capa do álbum "Catch a Fire", de 1973; tomara que o Xandão paraguaio não veja isso

Xandão, o desconstruidão

04.08.23

Como se não bastasse o Brasil ser este país onde a coisa julgada pode ser desjulgada e é dificílimo prever o passado, o roteirista do Bananão ainda curte um plot twist. Vocês se lembram daquele ministro da Justiça do governo Michel Temer que, sete anos atrás, falava em “erradicação da maconha” e ia lá para o Paraguai com um facão para cortar a erva venenosa (ê-ê-ê-ê-ê) no pé e erradicar pessoalmente, com as próprias mãos, a maconha da América Latina?

Pois é, trata-se do mesmo indivíduo que na última quarta-feira (2) votou, em julgamento no Supremo, a favor da descriminalização do porte dessa mesma droga: Alexandre de Moraes, o temível Lex Luthor do STF. O antigo Matadô das Maconha, conhecido por argumentar com caixa-alta, negrito e exclamações em suas sentenças, defendeu a necessidade de estabelecer critérios para diferenciar o uso pessoal do tráfico e citou dados segundo os quais “o branco precisa estar com 80% a mais de maconha do que o preto e o pardo para ser considerado traficante”. A falta de cabelos é a mesma, mas as ideias… quanta diferença!

Estará Xandão no caminho da desconstrução? Vai se converter de Lex Luthor em Michel Foucault e parar com esse negócio careta de vigiar e punir? Veremos algum dia o ministro acender uma tora semelhante àquela do Bob Marley na capa do Catch a Fire? Ou trocar a toga do STF por uma daquelas roupas laranja dos hare krishnas? Calma lá: o roteirista do Brasil, por mais THC que consuma, ainda não chegou a esse ponto, e o ministro dificilmente se privará de prazeres como mandados de busca e apreensão, inquérito das fake news, essas coisas.

Minha tese é mais simples: Moraes deve ter pensado algo como “ou eu libero a maconha ou eu libero o Monark. Os dois não dá”. E não teve dúvida: multou em R$ 300 mil o podcaster maconhista, que é em si mesmo uma propaganda contra as drogas muitíssimo mais eficaz que o leão do Proerd. O julgamento do caso no STF foi suspenso com 4 a 0 a favor da descriminalização — ou seja, faltando só dois votos para que se forme maioria. Meu medo é que isso sirva de porta de entrada para outras drogas: depois de legalizarem a ganja, vão querer legalizar a Janja. Nisso sou proibicionista: os leitores viciados em Janja que me desculpem.

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Já que falei no Bob Marley aí em cima: também na última quarta (2), a seleção feminina teve as manhas de ser eliminada pela Jamaica ainda na primeira fase da Copa do Mundo. Não deu nem tempo de fazer como os homens e chegar às quartas de final só para perder do Time Europeu Melhorzinho. Até fiz o possível para desconstruir meu machismo estrutural, rasgar minha carteirinha do clube do patriarcado opressor e (o mais difícil de tudo) acordar cedaço para torcer: mas a bolinha que as brasileiras jogaram não ajudou. Também fica difícil culpar a falta de apoio depois de perder para um time que precisou de vaquinha para custear a ida à Copa. Em breve, o futebol será mais estrangeiro por aqui do que a equipe jamaicana de bobsled em Jamaica Abaixo de Zero: é o Brasil abaixo de zero.

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A GOIABICE DA SEMANA

O troféu da semana seria, fácil, dos gênios que invadiram a Câmara em 8 de janeiro e cadastraram nome e CPF para terem acesso ao wi-fi da Casa enquanto quebravam tudo. Como já se sabia desse espetacular episódio de burrice desde fevereiro, o prêmio fica com a mente brilhante de Carla Zambelli (foto): a deputada jura que contratou o hacker Walter Delgatti — que estava proibido de usar a internet — só para fazer uns servicinhos de TI no seu site, e não para invadir o sistema do CNJ. Puxa vida, o que Zambelli pode fazer se não havia mais ninguém no Brasil para cuidar da, aspas dela, “ligação das redes sociais minhas através do meu site”? O hacker da Vaza Jato era claramente a única pessoa disponível. Ou isso ou o Mundial da Desculpa Esfarrapada já tem uma campeã.

 

Lula Marques/EBC

 

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  1. Poesia DESCONSTRUTIVISTA: Xandão pelo FHC FHC pelo THC Xandão pelo THC Quem pia ? Pia na pia Brasil chorou Pia piou Brsdol miou

  2. Não há mais dúvida o Dr. Alecandre é o nosso Kin il Sun mas tão lombrado quanto? A psicopatia insana é demais parecida mas aqui no país dos idiotas está mais para o Rei do Gado no sentido lato do termo ou vaqueiro do rebanho omisso e submisso.

  3. A Carla deve ter pedido o contato da assessoria técnica para Manu, que utiliza os bons serviços e deve ter indicado para a colega. Lamentável.

  4. Se a tese da liberação do porte de maconha ganhar, logo o congresso terá de liberar a plantação, se não o STF vai liberar. Afinal, se pode haver o porte, quem vai produzir? Poderia ver os efeitos da liberdade de uso em vários lugares pra ver como é o inferno, ou ir até a cracolandia mesmo. Tragédia anunciada

  5. Temos que rir para não chorar: Descondenado, Escalvado, Zambelli, Zanini, Capacheco, Taturana, seleção feminina de futebol... Como a única droga que uso é o álcool, então, só bebendo umas.

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