Foto: Thais Magalhães/CBFAry Borges, da seleção feminina, se lamenta após o empate com a Jamaica e a eliminação da Copa do Mundo

É preciso saber perder

A arte de perder não é difícil de dominar, ensina Elizabeth Bishop aos palmeirenses e aos iludidos políticos da seleção feminina
04.08.23

Após a eliminação da seleção brasileira da Copa do Mundo feminina de futebol, a treinadora Pia Sundhage disse que não há uma distância muito grande entre o fracasso e o sucesso. É verdade. Perder, aliás, é muito mais fácil e frequente do que ganhar. Mas há formas diferentes de perder. O Brasil saiu da competição precocemente, na primeira fase, após empatar com uma seleção que precisou de uma vaquinha para chegar à Oceania. Não há forma pior de fracasso. Ou melhor, há, sim.

O auxiliar técnico João Martins superou seu superior, o treinador Abel Ferreira, após empate com o Atlético Paranaense na Arena da Baixada pelo Campeonato Brasileiro, há algumas semanas. Após a partida, Martins fez uma denúncia gravíssima: o sistema está contra o Palmeiras. “Nós entendemos que o futebol brasileiro passa uma imagem de que é o mais competitivo do mundo, porque ganham vários. Mas ganham vários porque, muitas vezes, não deixam os melhores ganhar. Foi mais uma vez o que se passou hoje. É ruim para o sistema o Palmeiras ganhar dois anos seguidos”, disparou. O problema é que só os palmeirenses acreditaram.

A Mancha Alvi Verde divulgou uma nota na ocasião para dizer que “a CBF já não faz questão de disfarçar”. “Como se não bastassem os sucessivos ‘erros’ de arbitragem, a entidade que comanda (?) o futebol brasileiro assumiu hoje, com todas as letras, o caráter persecutório contra o Palmeiras e, em especial, contra a sua comissão técnica”, disse a torcida, na nota intitulada “Agora é guerra, CBF!”. A organizada acrescentou um elemento à teoria conspiratória — “a estreita colaboração entre árbitros e operadores do VAR” contra o Palmeiras — e, o principal, declarou-se “totalmente alinhada à comissão técnica e aos jogadores”.

Desde então, os jogadores do Palmeiras não dão entrevistas em campo. Abel só voltou a falar com a imprensa outro dia, após alguns jogos sem se apresentar ao microfone. Parte da estratégia funcionou. Os árbitros parecem estar com mais receio de errar contra o Palmeiras. Isso não foi o bastante, contudo, para evitar a eliminação do alviverde para o São Paulo na Copa do Brasil, sacramentada mesmo com alguns erros de arbitragem contra o tricolor do Morumbi. O que os palmeirenses conseguiram mesmo foi virar motivo de piada — nesses casos, o sistema não perdoa mesmo.

Um trecho em especial do discurso da comissão técnica do Palmeiras merece menção. Martins disse que seu time trabalha mais do que os adversários. Por isso, mereceriam mais as vitórias. Antes de tudo, ele não tem como afirmar isso — quem está medindo o empenho de cada equipe? —, e nem por que dizê-lo. É um desrespeito desnecessário, uma atitude infantil. É preciso saber perder. Para ajudar os palmeirenses e os torcedores brasileiros que se iludiram com a política que se armou na última década em torno da nossa seleção feminina, convoco Elizabeth Bishop e o seu One Art para esses momentos de derrota.

“A arte de perder não é difícil de dominar; tantas coisas parecem cheias da intenção de se perder que sua perda não é um desastre”, diz a poeta, que sugere: “Perca algo todos os dias. Aceite a confusão de chaves de portas perdidas, o tempo mal aproveitado”. “Então pratique perder mais longe, perder mais rápido: lugares, e nomes, e para onde você pretendia viajar. Nada disto trará desastre”, segue Bishop, que também perdeu o relógio da mãe, três casas amadas, alguns reinos, dois rios, um continente, uma voz brincalhona. Perder um jogo ou um campeonato não parece nada perto disso tudo.

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  1. Para quem já acompanhou o futebol português isso não é novidade alguma. Os 3 grandes daqui nunca perdem, são sempre prejudicados pelos juízes, federação, o diabo ou alguma macumba. O Abel apenas levou esse discurso insuportável pro Brasil

  2. Treinassem melhor, jogassem melhor, fossem menos individualistas e mascaradas o resultado seria melhor ( esses males acometem a seleção masculina também ). Talvez esse fracasso impeça a campanha megalomaníaca da ministra do esporte fazer um mundial em nosso país. Os gajos que treinam o Palmeiras se imaginam sumidades.

  3. Os atletas se benefi vc iam d mídia. Aumentam seus cachês e salários, mas isso tu do o termina prejudicando a concentração, creio, favorecendo o fracasso. Também vi muita gente da comissão e do time falando na 1a pessoa. E o time? O resultado é o retorno precoce

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