USPO campo brasileiro: mudança climática vai tornar comuns oscilações do mercado que eram raras

O começo de uma nova era

Tudo indica que os wheather markets, mercados de produtos influenciados pelo clima, estão se tornando uma constante mundo afora e não mais uma exceção
20.07.23

Wheather market − é assim que os traders e analistas americanos classificam determinado mercado, quando os preços dos ativos nele negociados são regidos pelo clima. Estou me referindo a secas e chuvas em excesso, além de variações extremas de temperatura.

Alguns exemplos:

No Meio-Oeste dos Estados Unidos (também conhecido como Cinturão do Milho), um dos grandes celeiros do mundo, se a época de plantio de grãos (principalmente soja, trigo e milho) é afetada por chuvas em excesso, ou quando ocorre uma seca durante o período onde o cultivo deveria estar se desenvolvendo, temos um wheather market.

Nessas ocasiões, os especuladores se limitam a olhar para as previsões do tempo feitas pelo National Weather Service. Um bull market pode reverter de repente quando, numa ocasião em que os agricultores já estavam entrando em desespero, as chuvas chegam e literalmente “salvam a lavoura”.

Uma das principais características dos wheather markets é a volatilidade. Mas se a seca se mantém constante, quebrando a safra, na Chicago Board of Trade (CBoT), os grãos dão limites e mais limites de alta, para a alegria dos touros.

Eu já surfei uma dessas ocasiões, no bull market de soja de 1988, quando ganhei uma fortuna comprado no mercado futuro com vencimento para novembro daquele ano.

Se o inverno, além de ser rigoroso, tem longa duração na Costa Nordeste americana, a maior concentração populacional do país, aumenta consideravelmente o consumo de óleo de aquecimento, produto derivado do petróleo. Isso causa um aperto no abastecimento e propicia uma oportunidade de ouro para os comprados no mercado futuro da New York Mercantile Exchange (Nymex).

Digamos que uma geada inesperada atinge o sul de Minas Gerais durante o inverno brasileiro. Se é moderada, quebra a safra daquele ano. Se é muito forte, queima os cafeeiros e quebra a safra de quatro ou cinco anos à frente.

Tudo isso é considerado wheather market e acontece de quando em vez ao redor do planeta. Os especuladores, que são movidos por pragmatismo atávico, se aproveitam dessas situações para ganhar dinheiro. Desde que estejam na ponta certa do mercado, é óbvio.

Só que agora as coisas aparentemente estão mudando. Tudo indica que se inicia uma nova era, na qual o wheather market está se tornando uma constante mundo afora e não mais uma exceção.

Nesta semana, por exemplo, houve um dia no qual foram registrados 66,6 graus centígrados na cidade iraniana de Ahvaz e, simultaneamente, 32,8 graus negativos em Sarmiento, no sul da Argentina, resultando numa amplitude de quase 100º entre as máximas e as mínimas da temperatura mundial.

De acordo com os registros, desde que foram iniciados, isso jamais tinha acontecido.

Nem todos os países sofrem com essa mudança climática que, tudo indica, veio para ficar, por causa do aquecimento global e da falta de coragem para combatê-lo, o que necessitaria a adoção de medidas drásticas, providências essas que, em vários países, foram minimizadas durante a guerra russo-ucraniana, quando o uso de carvão aumentou na Europa.

Já a própria Ucrânia, não fosse a guerra contra a Rússia, estaria se beneficiando pelo alongamento da estação de cultivo de grãos, já que lá os invernos estão sendo cada vez mais curtos. Vale lembrar que o país é um dos maiores produtores mundiais de trigo, milho e girassol (de cujas sementes se extrai óleo comestível).

Caso esse novo padrão climático permaneça (e nada indica que vá mudar) o Brasil, sim, o Brasil, será um dos grandes beneficiados. Este ano, por exemplo, estamos tendo safra recorde de grãos, que poderia até ser maior, não fosse uma seca no Rio Grande do Sul.

Os verões brasileiros estão sendo normais, assim como os invernos. Isso já dura várias temporadas.

Em termos de temperatura, o planeta está entrando em terreno desconhecido, a tal nova era citada no título desta crônica.

Soja, milho, algodão, tudo isso poderá mudar de preço, com quebras sucessivas de safras nos países que estão sendo atingidos por essas temperaturas enlouquecedoras.

O preço das carnes também poderá se elevar por causa do calor e da estiagem rigorosa.

Não podemos nos esquecer que o gado (tanto aquele mantido confinado como o criado em pastos), os suínos e os frangos são subprodutos da água, água essa que por sua vez se transforma na matéria-prima das rações, como é o caso do farelo de soja e do milho.

Em minha opinião (e não entendo porque isso ainda não aconteceu), a água doce logo se transformará numa commodity (talvez a mais importante delas) negociada em mercados futuros, pois está escasseando em diversos lugares do mundo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a cada ano que passa a falta d’água se torna maior na Califórnia (região de vários cultivos) e no Arizona. O mesmo acontece com o rio Colorado (que abastece a Califórnia de água), cujo volume vem baixando, já tendo diminuído 20%.

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  1. Sem essa de “combater o aquecimento global”, Ivan. Não temos como controlar o clima, a não ser, na melhor das hipóteses, em escala muito pontual, no máximo regional, zonas urbanas, regiões desmatadas. Sabe o que vai acontecer como consequência dessas políticas todas de “controlar as mudanças climáticas”? Nada. Vai continuar a mudar, como sempre fez desde que a Terra existe.

  2. Tudo isso levado em conta confirma que somos administrados por amebas políticas que não conseguem firmar um projeto de país. E o mundo inteiro está de olho nessa weakness.

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