Ignorância natural

Não tem um dia em que eu não leia algo sobre as novas tendências da tecnologia high tech do mundo interneto digital. Primeiro foi o NFT, que eu sempre achei que fosse uma nova liga esportiva americana, como a NBA, Depois vieram as criptomoedas que, assim como o velho dinheiro de papel, eu nunca vi de perto. Deve ser mais uma invenção de Israel pois o “negóycio” se chama Bit Cohen.

Como diria o Primo Rico, a situação está tão periclitante pro meu lado que outro dia mesmo um mendigo que mora aqui na Rua da Amargura, penalizado com o meu miserê, me passou um pix. Com a grana comprei um par de ovos cor de rosa, usado, que tinha feito figuração no filme da Barbie.

E agora vem essa tal de IA, mais uma genial geringonça tecno digital criada para deixar todo mundo desempregado. Assim fica difícil para a nossa categoria de Desempregados Profissionais, em que a concorrência está cada vez mais braba. Outro dia mesmo, lá na assembleia do Sindicato Nacional dos Profissionais do Desemprego (filiado à CUT) cheguei a propor aos companheiros uma greve geral da nossa categoria reivindicando melhores condições de desemprego.

Voltando à vaca fria, graças à Inteligência Artificial, ninguém mais precisa escrever ou pensar porque as máquinas fazem tudo pra você. Agora qualquer um vai poder entrar na Academia Brasileira de Letras mesmo sem ter escrito nenhum livro. Bom, pensando bem, isso já acontecia antes.

Até mesmo a analógica Isaura, a minha patroa, me substituiu por um apetrecho eletrônico, um vibrador made in China, que desempenha as obrigações conjugais do nosso casamento aberto melhor do que eu.

Você não precisa nem estar mais vivo para faturar algum “por fora”, ou mesmo por dentro (dentro de uma Kombi) como prova o anúncio da Volkswagen onde a Elis Regina, ressuscitada qual um Lázaro Ramos, canta uma canção do Belchior que, por sinal, também já passou desta para a melhor.

Essa propaganda está causando furor nas redes antissociais porque a Elis, através da IA, reaparece ao lado de sua filha a Maria Irrita, emparelhadas disputando um “pega”, fato que configura grave infração de trânsito (20 pontos na carteira). Aliás, eu achei essa escolha da cantora pra cantar na Kombi totalmente gordofóbica, como se a grande intérprete só coubesse em veículos avantajados. Queria ver um comercial com a Regina Casé dando carona pra Jojô Todinho num Fiat 500, isso sim seria um anúncio politicamente correto, afirmativo e com “lugar de fala”. Pensando bem, com as duas divas dentro do veículo não iria sobrar lugar nem mesmo para uma fala.

Tem mais uma coisa nesse filme da Volks, a carteira de motorista da Elis deve estar vencida há muito tempo, sem falar de que é completamente fake news e inverossímil que a Kombi anos 60 possa disputar um “pega” com qualquer carro moderno.

É tudo falso e fingido igual a um programa do Luciano Huck, pura enganação e efeitos especiais caríssimos que fazem o público ingênuo e otário acreditar que a Elis Regina está viva, que a Maria Rita está magra e que a Kombi pode ser considerada um automóvel.

E os cachês? Como é que fica? A Elis vai receber no céu? E se receber, como vai poder gastar a bufunfa se no céu não tem shopping? Só tem shopping no inferno, até ateu sabe disso. E o pior é que a Receita Federal vai querer cobrar o imposto da genial intérprete de Águas de Março e ela não tem como pagar o DARF lá do Paraíso. Os fiscais da Receita vão perseguir a Elis por toda a eternidade cobrando multa e juros de mora.

Na verdade, é a inveja que me faz tecer esses ácidos comentários sobre a propaganda da Volkswagen. Eu queria mesmo era que a interagência artificial que bolou o anúncio fizesse um reclame onde eu, Agamenon Mendes Pedreira, dirigia e cantava o Tico Tico no Fubá no meu Dodge Dart 73 enferrujado, e, ao meu lado, eu mesmo surgisse dirigindo um Ford Bigode. Só que mais jovem, com apenas 80 anos de idade.

Agamenon Mendes Pedreira é o Chato GPT