Secretaria do Meio Ambiente de SergipeImportação de diesel por empresas brasileiras tem permitido aumento nos gastos militares de Moscou

Barris de sangue

Como o Brasil financia a máquina de guerra russa
13.07.23

Enquanto se propõe a mediar a paz entre Rússia e Ucrânia, Lula tem sustentado a ideia de que o Brasil precisa se manter neutro no conflito. Na semana passada, o presidente também deu declarações de que “não quer se meter na questão”, querendo dizer que está mais preocupado com as questões internas, como a pobreza e a fome. Mas não é bem assim. Uma análise de dados comerciais mostra que o Brasil tem feito a diferença nos problemas mundiais, financiando a máquina de guerra russa de uma maneira parecida com o que fazem China e Índia.

Esse financiamento se dá por meio da importação de combustíveis da Rússia. O fluxo está em ascensão desde o final de 2022. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, as importações de derivados de petróleo russo sextuplicaram no primeiro semestre deste ano, comparado ao mesmo período em 2022. Trata-se de um aumento de 1,44 bilhão de dólares nesse comércio, que antes quase inexistia. “O Brasil não tem histórico de importar petróleo da Rússia. Pela proximidade geográfica, os importadores brasileiros sempre tiveram como referência os Estados Unidos”, diz Pedro Rodrigues, diretor-executivo da consultoria de energia CBIE.

O motor dessa nova tendência é o diesel. No primeiro trimestre deste ano, a Rússia respondeu por 13% das importações brasileiras desse derivado. O diesel russo chega ao Brasil a preços baixos, ainda menores que os importados ou produzidos pela Petrobras. A estatal, contudo, não importa da Rússia por medo de sanções americanas. Quem traz o diesel russo são companhias menores, privadas, que se aproveitam das pechinchas globais.

Essas promoções começaram a aparecer após a implementação das sanções americanas, iniciadas um mês após a invasão russa. Principal importador energético dos russos, a União Europeia também restringiu as compras da Rússia ao longo do ano passado. Neste fevereiro, o bloco baniu petróleo e derivados. Para suprir o mercado interno, os europeus foram comprar dos americanos. O resultado foi que o diesel russo, em excesso no mercado, barateou. Na contramão, o produto americano encareceu. As empresas brasileiras então se adaptaram, importando mais da Rússia e menos dos Estados Unidos. Só para se ter uma ideia, enquanto as compras da Rússia foram multiplicadas por seis, a dos americanos caíram para menos da metade — uma queda de 3 bilhões de dólares. Parceiros do Brics, como China e Índia, também aumentaram o consumo de petróleo e derivados da Rússia.

Ao comprar diesel russo, o Brasil, ao lado de chineses e indianos, financia a máquina de guerra de Putin. Após registrar uma queda nas exportações com o início da invasão, em fevereiro do ano passado, o Kremlin foi aos poucos retomando as vendas, com uma mãozinha dos países aliados. Em abril, as exportações de petróleo e derivados russos já tinham voltado aos níveis de antes da guerra, segundo a Agência Internacional de Energia. A recuperação comercial refletiu-se em um aumento dos dispêndios militares. O Kremlin gastou 26 bilhões de dólares em defesa em janeiro e fevereiro de 2023, quase o triplo do mesmo período no ano anterior, na véspera da invasão. “Quem compra petróleo da Rússia possibilita uma guerra ilegal e contribui para o sofrimento dos ucranianos”, afirma David Cortright, da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos.

Lula poderia desencorajar os importadores brasileiros, para evitar que eles financiem o belicismo de Moscou, ou até mesmo aplicar sanções à Rússia. O petista não faz isso por vários motivos. O primeiro é a falta de tradição do Brasil em aplicar sanções. Tanto é assim que essa possibilidade nem passa pela cabeça do presidente, assim como não foi aventada pelo seu antecessor, Jair Bolsonaro. No atual momento, em que o governo faz todo o possível para reduzir o preço nas bombas dos postos, essa chance é ainda menor. “O governo não faz nenhuma censura a quem importa combustível russo. Pelo contrário, comemora a redução de preços nas bombas, provocada por uma importação eticamente reprovável”, diz o pesquisador Leonardo Coutinho, que escreveu um artigo na revista The National Interest, denunciando as compras de diesel russo pelo Brasil.

Também é preciso ter em conta que qualquer ação elevaria o preço dos combustíveis, principalmente para caminhoneiros. Além de um custo político, isso poderia elevar o preço de produtos transportados em estradas. Sendo assim, qualquer interferência teria de ser muito cautelosa. “A importação e venda de diesel é mercado. Às vezes a gente tem uma ideia de que o petróleo é muito estratégico e deve ser controlado e tal, mas, friamente, o mercado de diesel é como, por exemplo, o de cerveja. O governo não deve se meter nisso”, diz Pedro Rodrigues, da CBIE. O PT, assim, prefere deixar rolar. Trata-se de um não assunto. O governo adota um liberalismo seletivo com os importadores de diesel, enquanto faz o possível para interferir nos preços da gasolina da Petrobras, na venda de carros ou até mesmo no comércio de eletrodomésticos. “Quando a geladeira está velha, tem que trocar“, disse Lula nesta semana.

Outro fator que inibe uma ação do governo brasileiro contra a Rússia é o antiamericanismo histórico dos petistas. São eles que estão impedindo a venda de blindados ambulância para a Ucrânia, algo que turbinaria a indústria nacional e não teria impacto no equilíbrio da guerra. A atitude priva o Brasil e empresas nacionais, como a Iveco Defense Vehicles, de obter dividendos e se modernizar. Os petistas, porém, argumentam que as ambulâncias do modelo Guarani poderiam ser reformadas e usadas em ofensivas ucranianas. O paradoxal é que esse temor de apoiar um dos lados do conflito não aparece quando o Brasil financia a Rússia indiretamente, por meio da importação de diesel.

A diplomacia sob governos petistas nunca teve interesse em desagradar Putin. Foi assim também com Dilma Rousseff após a invasão da Crimeia, em 2014”, diz Leonardo Coutinho. “Isso se explica porque Lula se alinhou a Putin para implodir a dominância do dólar nas relações comerciais e para redesenhar a geopolítica com a tal multipolaridade, que tem a Rússia e China como patrocinadoras e interessadas.”

Com o PT no poder, o Brasil seguirá financiando a máquina de guerra de Putin, ainda que Lula e os seus diplomatas digam aos quatro cantos que o país é neutro e que evita se meter no conflito. No final das contas, a suposta neutralidade não passa de uma forma para consentir com a invasão russa, sem desagradar ao Ocidente.

Os comentários não representam a opinião do site. A responsabilidade é do autor da mensagem. Em respeito a todos os leitores, não são publicados comentários que contenham palavras ou conteúdos ofensivos.

500
  1. Informações valiosas pra entendermos o que acontece no Brasil . Fico envergonhada, diante das vidas perdidas, com essa política que mistura oportunismo e ideologia de viés comunista, autoritária. Parabéns, pelo artigo.

  2. O antiamericanismo histórico dos petistas e das esquerdas sul americanas é burro, invejoso e mesquinho e trás muito mais mal ao Brasil do que benefícios. Lula precisa da esquerda pois os países evoluídos do ocidente têm nojo de Lula e o molusco não é bem aceito nas democracias devido à sua personalidade corrupta e tolerante com o mal. Todos sabem que Lula tolera o narcotraficante Maduro e isso é muito mal visto nas democracias evoluídas do 1º mundo. Viva a Lava Jato, fora Lula!

  3. No país do Ferdinando e Imelda Marcos digo do Lula e da Esbanja isto beira ao ridículo esquecendo que o ditador tupi quis interferir no conflito mas foi tão estúpido que instigou a Ucrânia invadida a abrir mais as perninhas ao assassino Putin e pasmem para ganhar o Nobel da Paz enquanto de forma cínica corrompendo o congresso nacional transforma o Brasil num chiqueiro venezuelano algo fatal e mera questão de tempo.

  4. Ótimo artigo. O processo de venezuelização do país por parte do Descondenado e sua corja contempla o alinhamento às ditaduras de esquerda.

  5. Ótima reportagem 👏🏻👏🏻 Bastidores sombrios que precisam vir a tona. E aí perguntamos, e a tal da “democracia” ? Por enquanto só vemos apoio irrestrito às ditaduras…

Mais notícias
Assine agora
TOPO