Daniela KreschPrateleiras armazenam restos de foguetes que caíram em Israel

Os mísseis de Gaza partem de Teerã

Mudanças no Oriente Médio deixaram o regime dos aiatolás em posição perigosa para intensificar ataques a Israel
11.05.23

Na última quarta-feira, 10 de maio, Israel sofreu ataques com mais de 400 foguetes, lançados pelo grupo terrorista Jihad Islâmica, a partir da Faixa de Gaza. A situação deixou israelenses feridos e gerou medo e tensão na população. A cada nova sirene, israelenses corriam para bunkers e quartos fortes para se protegerem.

Isso aconteceu depois de o governo israelense, no dia 9, lançar uma nova operação militar, a “Escudo e Flecha”, contra o grupo terrorista. O objetivo foi o de deter os comandantes seniores da Jihad Islâmica responsáveis pelo lançamento de foguetes contra Israel no último mês e pelo planejamento de outros ataques terroristas contra Israel. Já foram reportadas 22 mortes na Faixa de Gaza – entre terroristas e civis.

O novo confronto teve como gatilho a morte de Khader Adnan, militante da Jihad Islâmica, após 87 dias de uma greve de fome numa prisão israelense. Ele se recusou a receber ajuda médica e morreu na semana passada.

Como reação, o grupo islâmico disparou vários mísseis direcionados a cidades no sul de Israel no mesmo dia de sua morte. Foram mais de 100 disparos, deixando em estado de alerta os civis no sul do país que vivem um cotidiano sob ataques constantes, há mais de 10 anos.

A retaliação do Exército israelense veio, como sempre, quase que automaticamente, visando alvos militares do grupo terrorista. Mas a pressão dos parlamentares da extrema-direita da atual coalizão governamental, para uma reação mais agressiva foi intensa, resultando nos ataques do dia 9.

Com a sociedade civil israelense fraturada pelas discussões sobre a polêmica reforma judicial, um conflito poderia servir aos interesses de Bibi Netanyahu para esvaziar as manifestações em nome da necessidade de uma união nacional para defesa do país.

Entretanto, ainda que essas questões internas alterem a dimensão do conflito, é importante uma perspectiva mais ampla dos últimos acontecimentos geopolíticos da região.

O Irã, com sua maioria xiita, disputa há anos a hegemonia do Oriente Médio com a Arábia Saudita, de origem sunita. São essas as duas maiores correntes islâmicas. Após a ruptura do acordo nuclear por Donald Trump, o Irã havia se tornado um pária das principais economias globais. As manifestações de iranianos no ano passado foram impactantes e contaram com adesão de parcelas da classe média da população local, além de grande participação feminina e estudantil, o que assustou o regime dos aiatolás. Mas a violenta repressão, com centenas de prisões e enforcamentos em praças públicas, acabou com os protestos.

Entretanto, o país expandiu sua presença na região fortalecendo os grupos que atuam por procuração na Síria, no Líbano e no Iêmen. E com o grupo terrorista sunita Hamas, na Faixa de Gaza. O raciocínio presente aqui já foi descrito: usar uma ação externa para reforçar a união nacional e coibir manifestações. Com isso, indiretamente, o Irã hoje possui fronteiras no norte e ao sul de Israel podendo atacá-lo sem colocar suas tropas em ação e sem uma ameaça territorial direta.

Enquanto isso, a Autoridade Palestina, AP, na Cisjordânia, liderada pelo quase nonagenário Mahmoud Abbas, está acuada pela baixa popularidade, ausência de eleições e escândalos de corrupção. A entidade ainda vive uma intensa disputa pela sua sucessão. São vários os grupos de diversas matizes disputando quem será o próximo líder. O Irã, conhecedor dessa situação, tem financiado grupos como Hamas, Jihad Islâmica, Cova do Leões e outros, na tentativa de ocupar a liderança da AP e abrir uma nova fronteira de ataque, desta vez, no centro de Israel.

Para completar o cenário, o Irã tem estreitado sua colaboração com a Rússia,  iniciada na guerra contra o Estado Islâmico na Síria e estreitada com a invasão da Ucrânia. A China também se aproximou e, há poucos meses, conseguiu que a Arábia Saudita restabelecesse relações diplomáticas com seu grande inimigo, a república fundamentalista do Irã. Essas alianças diminuem significativamente o impacto das sanções lideradas pelos EUA e colocam o Irã em perigosíssima posição de conforto para intensificar seus ataques a Israel.

Este entendimento é fundamental para a busca de uma solução.

A teocracia iraniana há décadas oprime sua população, financia grupos terroristas e declaradamente expressa seu propósito de destruir Israel.

É preciso confrontar globalmente a origem desta violência.

 

David Diesendruck é diretor do Instituto Brasil-Israel

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