A próxima histeria

Qual é a histeria sendo preparada neste momento para o futuro próximo? Para o entreter, para o aterrorizar, para lhe dar uns frissons?

Qual o próximo assunto que não tinha importância nenhuma até pouco tempo atrás e, de repente, é importantíssimo e central em todas as discussões públicas? Mais importante, qual é essa grande causa catastrófica que vai render bandeirinhas para as pessoas sensíveis colarem nos seus nomes na internet?

Não sei, nunca acerto previsão nenhuma. Sou um profeta tímido. Nunca declaro com uma voz tonitruante exatamente o que vai acontecer. Eu chuto possibilidades. Se fosse cartomante, diria sempre algo do tipo “um homem moreno vai aparecer na sua vida; vários, na verdade, né, porque homens morenos aparecem na vida de todo mundo, seria impossível homens morenos não aparecerem na sua vida, então talvez vários homens morenos apareçam na sua vida, se você não morrer antes; mas não sei se esses homens morenos vão ser terrivelmente importantes na sua vida ou se você só vai passar por eles no shopping”. (Nós cartomantes sinceros cobramos muito pouco.)

Mas enfim, vou fazer uma previsão sobre uma coisa aqui, o que não é difícil fazer porque essa coisa já está começando a acontecer, de modo que estou prevendo o presente. Mas, se você ainda não ouviu falar desse presente, talvez ele o afete como sendo o futuro, e eu soe percuciente e nostradâmico.

É isto. Os próximos anos vão ser tomados por um assunto só: a afirmação de que o aquecimento global vai causar fome em toda a faixa do equador e bilhões de pessoas vão morrer, principalmente no hemisfério sul. Por causa dessa crise o hemisfério norte tem que se antecipar a isso por motivos humanitários e ir já recebendo não milhões, que isso não ajuda nada, mas bilhões de imigrantes.

Como disse a jornalista britânica Gaia Vince no seu livro Nomad Century:

“Nos próximos cinquenta anos, temperaturas mais altas combinadas com umidade mais intensa devem tornar grandes áreas do globo letais para 3,5 bilhões de nós. Fugindo dos trópicos, do litoral e das antigas terras aráveis, enormes populações precisarão buscar novos lares; você estará entre eles, ou você os receberá.”

No início deste ano, em Davos, Al Gore previu “um bilhão de refugiados” — ou, no jargão que está se usando agora, climate refugees, “refugiados climáticos”.

Não estou prevendo que isso vai acontecer, pra deixar claro. Eles é que estão. O que estou prevendo é que, acontecendo ou não, isso vai ser usado como argumento para aumentar a escala da imigração do sul para o norte numa escala nunca vista, e que vamos passar anos falando sobre isso, vendo documentários, especiais no Fantástico etc.

Um bilhão? Três vírgula cinco bilhões? É fácil rir disso agora (eu ri), mas quando as notícias começarem a chegar em peso sobre fome em escala gigantesca (notícias verdadeiras ou falsas, ou um tanto exageradas), só os corações mais empedernidos vão se recusar a apoiar essa imigração inédita de bilhões de pessoas para a Europa e para os Estados Unidos. Então vá já começando a empedernir o seu coração, porque nunca é cedo demais pra essas coisas.

Eu talvez apoie também, quando, e se, isso acontecer. Ou quando me disserem que isso está acontecendo e pegar muito mal eu não acreditar. Ou se me mostrarem muitas fotos de gente passando fome e eu tiver preguiça de checar em outras fontes se as fotos são autênticas ou se são de outros momentos das últimas décadas. É mais fácil ceder de vez. É muito exaustivo lutar sempre contra a grande causa do momento.

Bom, talvez possa fazer sentido. Talvez metade da população de Bombaim caiba no apartamento da Taylor Swift em Nova Iorque. Talvez o Paquistão inteiro possa viver em barraquinhas de acampamento dentro do Louvre. Ou talvez Gaia Vince esteja certa, e já possamos começar a construir gigantescas cidades-favela no Canadá e na Rússia. Eu só não sei porque seria mais prático alimentar essa gente toda no hemisfério norte do que nos países de origem, nem de onde vai sair essa comida, nem o que isso vai fazer para o próprio clima; mas  talvez o problema seja meu por não entender logística de alto nível.

Enfim, esse é o argumento que vamos ouvir. E vai ser muito poderoso. Eu e você vamos ceder, porque não queremos perder nossos amigos e nossos empregos. E as únicas pessoas que vão ser contra são malucos caturras, pessoas que usam ternos feios, deputados musculosos sempre entrando e saindo da cadeia, e pessoas ignoráveis desse tipo.

Termino fazendo outra previsão: no momento em que os Estados Unidos estiverem recebendo imigrantes em levas de milhões de cada vez, na hora que você decidir se mudar pra lá com as suas economias, pra montar um negócio lá, uma loja de pão de queijo talvez, aí de repente eles vão ser exigentes.

Bem na sua vez, vai ser complicado entrar. Você não vai ter os papéis certos. Mercúrio estará retrógrado. Saturno (como um vizinho voltando bêbado pra casa no meio da noite) vai entrar na casa errada. A imigração vai ser pra bilhões, mas não pra você ou pra mim.