Marcelo Camargo/Agência BrasilO futuro diretor de Fiscalização, ao lado de Haddad: ideias heterodoxas

Muito ajuda quem não atrapalha

Como a indicação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, pode mudar a discussão sobre os juros no Brasil
11.05.23

No início desta semana, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, finalmente, recebeu autorização do presidente Lula para indicar os nomes que podem ocupar as diretorias de Fiscalização e de Política Monetária no Banco Central. Os mandatos de Paulo Souza e Bruno Serra encerraram-se no final de março, mas o governo teve dificuldades para definir os nomes dos substitutos, principalmente, para a vaga de Serra.

Para a Diretoria de Fiscalização, Lula vai apresentar ao Senado (responsável por sabatinar os indicados) o nome de Aílton Aquino, funcionário de carreira do BC. A Política Monetária deverá ser ocupada pelo atual secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo.

A indicação do número 2 da Fazenda para uma cadeira na autarquia chama a atenção por dois motivos. O primeiro diz respeito à visível falta de nomes qualificados para o trabalho no âmbito de influência do governo. Sem alternativas, a escolha acabou recaindo sobre Galípolo que, diga-se de passagem, tem currículo e arcabouço (palavra que parece estar cada vez mais na moda) intelectual robustos. É um personagem importante para o governo e, por isso mesmo, chama a atenção a retirada dele da Fazenda cinco meses após o início dos trabalhos.

O segundo ponto importante sobre a indicação é o fato de Galípolo ser uma figura que dedicou os últimos anos a debates econômicos com uma postura, digamos, heterodoxa. Ele não é exatamente um adepto da Teoria Moderna Monetária vista com um certo desdém pelas correntes econômicas majoritárias, mas acompanhou por diversas vezes ideias defendidas por André Lara Resende (um dos pais do Real e do Plano Cruzado). Essa proximidade com ideias pouco convencionais preocupou o mercado financeiro. Mas seria Galípolo capaz de impor uma linha de raciocínio à autoridade monetária que finalmente provocasse a redução dos juros?

Então, vejamos: os dois indicados de Lula são os primeiros, supostamente, alinhados ao governo. Supondo que a condução das discussões internas do Banco Central tenham um caráter político-partidário, como o presidente da República insiste em dizer, seriam dois votos contrários à política monetária hoje adotada pela autarquia. Mas ainda haveria sete votos a favor da manutenção das diretrizes atuais, que tanto incomodam o governo.

Seria Galípolo capaz de “converter” alguns diretores por meio do seu sorriso e carisma, além, é claro, da qualidade da argumentação econômica? Mesmo nesse cenário, seria improvável que ele conseguisse “virar” três votos, para garantir a maioria na decisão sobre os juros nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária).

Restaria, então, a função de ser uma pedra no sapato dos demais diretores. Possibilidade que pode ter sido contemplada pelo atual diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, quando em entrevista recente disse esperar por um debate “profundo e técnico, como (…) atualmente”.

Seja qual for o caminho a ser trilhado por Galípolo no Banco Central, o fato é que não há muito a ser feito no sentido de se alterar, no curto prazo, a linha de pensamento dominante na diretoria da autoridade monetária. E seria uma pena se o secretário-executivo da Fazenda abandonasse a postura de bom moço para tumultuar as discussões sem nenhum efeito prático benéfico para a sociedade brasileira. Vale lembrar que insegurança e falta de clareza deixariam tudo ainda mais difícil para a economia brasileira que, aparentemente, caminha a passos largos para contornar o rebote inflacionário da pandemia.

De qualquer forma, a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal promete uma sabatina com um nível de discussão acima do apresentado na aula do senador Cid Gomes, quando da audiência com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, recentemente. Até lá, podemos torcer para que o ambiente macroeconômico avance para um cenário que dispense criatividade nas tomadas de decisões sobre as políticas econômicas.

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  1. Há uma razoável possibilidade de o Copom iniciar os cortes na Selic em agosto; o mercado comenta. Dessa forma, acho que o lula quer é ficar com os louros desse processo. Honestidade intelectual é isso aí. "Tive que mandá um homi meu..." ;)

  2. O empoeirado Lula é obcecado para politizar tudo. Não leva nada a sério. É incrivelmente irresponsável e incompetente. Um perigo para o Brasil.

  3. O Descondenado et caterva querem aparelhar tudo para sacramentarem a grande caca que pretendem fazer levando o país à bancarrota.

  4. Sem dúvidas é uma indicação com o objetivo claro de aumentar a interferência política no BC, minando as decisões meramente técnicas. Não é o suficiente, mas é um começo, já que o governo sabe não ter força para derrubar a autonomia do BC no congresso

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