ReproduçãoJosé Antonio Kast: seu Partido Republicano comandará a redação de um novo projeto de Constituição

A direita reage na América Latina

Esquerda amarga dura derrota na eleição presidencial do Paraguai e ficará praticamente de fora da redação do novo projeto de Constituição no Chile
11.05.23

A eleição de Lula no ano passado foi considerada como a crista de uma segunda onda vermelha na América Latina, com a vitória de diversos políticos de esquerda: o colombiano Gustavo Petro, o boliviano Luis Arce Catacora, o chileno Gabriel Boric, o peruano Pedro Castillo e a hondurenha Xiomara Castro.

Mas a maré já mudou. Nas últimas duas eleições na região, a direita se saiu muito melhor. No Paraguai, o eleito foi Santiago Peña, do Partido Colorado, tradicional organização de direita. A Frente Guasú, do ex-presidente de esquerda Fernando Lugo, obteve apenas 2% dos votos, o que renderá apenas uma das 45 cadeiras do Senado. Lugo, que foi presidente entre 2008 e 2012, não conseguiu nem se reeleger na Casa.

No Chile, o grande vencedor foi o Partido Republicano, comandado por José Antonio Kast, da direita populista. Os chilenos votaram para formar um conselho constitucional, para escrever uma nova Carta, depois do naufrágio do projeto feito pela esquerda. Das 55 cadeiras do órgão que irá elaborar o novo texto, o Partido Republicano terá 22. Somados aos 11 da coalizão de centro-direita Chile Seguro, a direita terá 33 cadeiras, o que garantirá a maioria para decidir o que entra e o que fica de fora da nova Constituição. Kast ainda aparece à frente nas pesquisas para as próximas eleições presidenciais, com 20% das intenções de voto, seguido pelo nome da centro-direita, Evelyn Matthei, com 13%. Todos os demais candidatos não passam de 4%.

Para entender a mudança de humor dos latino-americanos é preciso, primeiro, entender corretamente o fenômeno da última onda de esquerda. Como apontado por Crusoé, a vitória de vários políticos de esquerda não se deveu a uma adesão a seus princípios ou bandeiras tradicionais, como reforma agrária, universalização dos serviços de saúde ou a criação de um estado plurinacional.

O fenômeno que acontece hoje é menos uma guinada à esquerda do que uma repulsa à situação. Opositores de todos os espectros venceram 16 das últimas 17 eleições presidenciais na região. No Equador e no Uruguai, a oposição vitoriosa era de centro-direita. A única exceção veio com o Paraguai, que elege o mesmo partido quase ininterruptamente há mais de 70 anos.

O principal componente para explicar essas vitórias da oposição foi a fraqueza dos governos que estavam no poder para eleger seus indicados. Com pouco dinheiro no caixa para atender os seus eleitores e com dificuldades para conter a inflação em um cenário de pós-pandemia e invasão da Ucrânia, esses mandatários penaram nas campanhas — e coincidentemente a maior parte deles podia ser enquadrada como sendo de direita: Jair Bolsonaro, Sebastián Piñera, Iván Duque e Jeanine Añez.

A disseminação das redes sociais também gera uma pressão extra aos que estão no poder e dificulta a canalização dos anseios das pessoas em pedidos que possam ser facilmente atendidos. “As demandas das populações estão cada vez mais difusas e há um problema crônico de arrecadação de impostos”, diz Arthur Murta, professor de relações internacionais da PUC-SP.

Ainda este ano, essa onda de direita deve atingir a Argentina, que terá eleições em outubro. O presidente Alberto Fernández tem sido tão rejeitado pela população que até desistiu de buscar uma reeleição. O favorito é o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. Ele é o candidato do ex-presidente Mauricio Macri, derrotado por Fernández em 2019. Em pesquisas de opinião, o peronismo aparece apenas como a terceira maior força política, atrás da coalizão macrista e do libertário Javier Milei.

Mas, novamente, o que estamos testemunhando não é uma adoção em massa de políticas de direita, como a privatização de estatais, a aversão ao aborto ou o fim do Banco Central (proposta de Milei). O que segue acontecendo é a rejeição dos latino-americanos aos que estão no poder. Não importa qual seja a orientação ideológica do novo mandatário, ele enfrentará a mesma dificuldade ao começar a despachar do seu escritório. “A América do Sul oscila, hoje, ao sabor do calendário eleitoral. A onda vermelha recente tem chance de ser substituída por outra azul proximamente, mais pela dinâmica das rejeições, principal fenômeno político atual, do que pela construção de visões e planos nacionais em torno de agendas de desenvolvimento”, escreve Leonardo Barreto em artigo nesta edição da Crusoé.

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  1. Aqui no Brasil a derrota de Bolsonaro deveu-se mais a ele mesmo e suas ações atrapalhadas do que a Lula. Este elegeu-se porque o brasileiro quer sempre decidir no primeiro turno e vota baseado em pesquisa. Num país com eleitorado menos ignorante nem Lula, nem Bolsonaro teriam disputado o segundo turno.

  2. Fácil comparar onde temos melhora qualidade de vida: Uruguai ou Paraguai? Já no Brasil, caminhamos a passos largos...para trás.

  3. Lideranças de direita devem repensar suas ações para quebrar esse círculo vicioso que motiva essa gangorra e afastar o esquerdismo de vez em toda AL.

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