O jornalista que foi pro espaço

A minha vida dava um filme, aliás, já deu: As Aventuras de Agamenon, o Repórter, campeão de bilheteria que passa na Globo Play, quem não viu sabe o que não perdeu. Muita coisa aconteceu no decorrer da minha longa e grossa existência. Eventos bizarros como um acontecimento de natureza psicometafísico-astronômica que sucedeu ontem mesmo, logo após o Carnaval.

Todos os meus 17 seguidores e meio (não esqueçam do anão, coitado e que não é o Nelson Motta) sabem que moro num Dodge Dart 73, enferrujado, que fica estacionado na Rua da Amargura, sem número, fundos. Pois é, eu estava aqui numa boa, na madrugada, degustando um charuto de maconha que o Nelson Motta me mandou quando ouvi um estranho barulho no lado de fora. Pensei que fosse algum barraco, algo muito comum aqui nesta vizinhança de baixo nível educacional e financeiro. Quem dera!

Apavorado, abri a janela do carro e me deparei com uma cena dantesca de filme do Spielberg, porém com um orçamento bem menor. Um objeto não identificado, cheio de luzes estroboscópicas, parado na frente do meu autoimóvel. A princípio pensei que se tratava de uma alucinação estupefaciente causada pelos eflúvios da marofa, a erva do diabo. Mas eu estava enganado! Luzes multicoloridas piscavam e intensos faróis ofuscavam a minha visão.

Na frente do objeto divisei uma estranha criatura: tinha uma cabeça desproporcional ao corpo que media cerca de meio metro de altura (não, não era Nelson Motta), na altura dos olhos usava algo semelhante a óculos muito escuros, as pernas do alienígena saíam direto do tronco, onde, na altura dos joelhos, se apoiavam dois braços longos e alvacentos. O enigmático indivíduo terminava em dois pés imensos dos quais se viam apenas a ponta das botas.

Repórter investigativo experiente e intimorato, constatei que se tratava de um ET e, na mesma hora, tratei de me comunicar:

– Agamenon Mendes Pedreira, jornalista desempregado d’O Antagonista, fazendo contato!

E a criatura me respondeu:

– Raimundo Nonato, motorista da Cometa fazendo cocô!

Dando continuidade ao contato imediato de primeiro grau incompleto, o alienígena prosseguiu igualzinho nos filmes de Hollywood:

– Leve-me ao seu líder!

Como a Isaura, a minha patroa, que é quem manda aqui em casa, ainda não tinha chegado da folia, respondi com uma pergunta:

– O Arthur Lira, o Rodrigo Pacheco ou a Janja ?

O mal humorado viajante do espaço não entendeu a minha piada e, revoltado, desfechou uma saraivada de raios laser em cima de mim com sua pistola de uso exclusivo das milícias do espaço. Os raios me deixaram paralisado e sem consciência, que é o estado em que vivo atualmente. Em seguida fui abduzido e teletransportado para o interior do óvni, e dali parti para uma viagem que me levaria aos confins do Universo em Desencanto e do Espaço Sideral. Não necessariamente nessa ordem.

Esses ETs que vêm do espaço em excursão da CVC são mesmo uns matusquelas, quando chegam aqui em nosso planeta só se metem em programas de povos originários. Só aparecem em lugares nada a ver como Varginha, Cachoeiro do Itapemirim ou no deserto do Arizona. Nunca vi um alienígena dar as caras nas galerias do Museu Gugenheim, na semana de ofertas dos Supermercados Guanabara nem muito menos na porta da casa do Caetano Velhoso. Isso prova que esses caras vêm de uma civilização muito mais atrasada.

Como todo gringo eles vêm ao Brasil em busca de turismo sexual e verbas públicas. Também não necessariamente nessa ordem. E o que é pior, essas viagens intergalácticas são bancadas pela Lei Rouanet como projetos de intercâmbio cultural.

Uma coisa é certa: aqueles bolsonaristas que faziam sinal de SOS com seus celulares na direção do cosmos sideral tinham razão. Mas os seres do espaço chegaram atrasados, não contavam com os hiperengarrafamentos interestelares por causa dos óvnis voltando dos feriados do Carnaval.

Agamenon Mendes Pedreira é o ET de Vagina