Prefeitura do RioO carnaval brasileiro tem precisão suíça, depois vem a avacalhação

Nota 10

Vitória da Imperatriz Leopoldinense no Carnaval do Rio de Janeiro mostra o estado da arte de nossa existência nestes tristes trópicos
24.02.23

O espetáculo anual da Sapucaí, vencido este ano pela Imperatriz Leopoldinense, é a expressão máxima da cultura brasileira, mescla de criatividade, empreendedorismo, violência e corrupção. É o estado da arte de nossa existência nestes tristes trópicos.

A escola de Ramos, reconhecida por seu desfile técnico, já nos entregou obras-primas, como o samba “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!”, e os talentos Max Lopes e Preto Joia.

Mas também projetou socialmente o ‘capo’ Luiz Pacheco Drumond, o Luizinho Drummond, que a presidiu por cinco décadas, até sua morte em 2020.

Um dos mais ativos integrantes da cúpula do jogo ilegal do Rio, ao lado de Castor de Andrade, Anísio Abrahão David e Capitão Guimarães, o patrono da Imperatriz também comandou a Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), devassada pela Operação Hurricane, que desbaratou esquema de lavagem e corrupção envolvendo políticos, policiais e integrantes do Judiciário.

Acusado também por homicídio, Luizinho chegou a ser preso por alguns meses, mas seguiu desfilando com sua escola anos a fio, blindado pela fantasia de “cartola do samba”; ou melhor, “patrono“, como pinta a indústria do entretenimento que fatura alto com a “festa da carne” e exerce papel fundamental na normalização de relações tão pouco republicanas.

Jogo de cartas marcadas, teatro do absurdo do qual somos espectadores pagantes. No documentário Lei da Selva — a história do Jogo do Bicho, de Pedro Asbeg, lançado no ano passado, todos os personagens estão expostos, compondo um mosaico de paixões nacionais: samba, futebol, drogas, jogatina, milícias e, claro, política.

Na segunda-feira de Carnaval, em palanque montado às pressas para simular solidariedade às vítimas da tragédia no litoral de São Paulo, Lula também desfilou. Sem sujar a fantasia, o sapato ou a camisa, deixou-se gravar e fotografar, para depois voltar incógnito à Bahia, onde Janja sambava alegremente num camarote vip.

Nota 10 para a primeira-dama (ou seria porta-bandeira?) puxando o bloco “Sem Empatia Quase Amor“, integrado ainda por Gleisi e Lindbergh, Flávio Dino, Tabata e Randolfe Rodrigues. Que se rasguem as fantasias!

Como cantou em 1982 a Império Serrano, escola madrinha da Imperatriz Leopoldinense e vencedora do desfile daquele ano, “bum, bum paticumbum, prugurundum; o nosso samba minha gente é isso aí, é isso aí”.

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  1. Podiam distribuir cópias desse livro Lei da Selva para as escolas públicas. Nossos estudantes precisam conhecer de perto o que se esconde por trás dos grandes desfiles de Carnaval. Mas, como nossos governantes preferem manter o povo ignorante, seria muita pretensão de minha parte que essa proposta fosse considerada.

  2. A escola estava bonita, só o enredo homenageando um criminoso é que era inaceitável. Mas o presidente atual também é inaceitável, então, por que só detonar o carnavalesco e os pobres sambistas? Má vontade com o samba?

  3. Lula cumpriu sua obrigação protocolar e nada mais, o governador que se vire que ele não quer perder a folia e a janja já estava chamando

    1. Pelo jeito ninguém quer mexer nesse vespeiro ou talvez tenham simplesmente perdido o jeito. Abraço

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