ReproduçãoFoliões: "cada um cuida de si e ninguém é de ninguém"

Carnaval dentro de época

Durante a festa, é como se o Brasil inteiro estivesse dominado pelo PCC, pelo Comando Vermelho, pela milícia e pelo Centrão, tudo ao mesmo tempo, agora. Ué? Mas já não está?
17.02.23

O Carnaval está aí e eu não estou nem aí. Este ano ainda não decidi se vou sair no Cacique Mijamos (que tradicionalmente inunda as ruas de urina) ou no afrodescendente Cordão das Bolas Pretas. Talvez dê um pulo no politicamente correto e resiliente Empatia é Quase Amor. Já a Isaura, minha patroa, vai ser destaque no Se Não Quiser Me Dar, Empresta (mas com os juros do Banco Central). Os foliões bolsonaristas combinaram se concentrar em frente ao quartel general do 8 RecMec e, em seguida, sair atrás do Bloco do Sargento Pimenta. A dispersão vai ser na Praça dos Três Poderes com batalha de cassetete, confete e serpentina. O Carnaval dos “patriotas”, como sempre, acaba no concorrido Baile da Papuda, com direito a uma quentinha (quem for paulista ganha um marmitex) e banho de sol uma vez por dia.

Enfim, tem bloco pra todo tipo de pessoas que, no caso do Carnaval, são de um tipo só: o/a desesperado/a por sexo/a que vai encher o/a cara até cair. Cair pro Segundo Grupo.

Durante o Carnaval, as regras da sociedade careta e conservadora não valem nada e todo mundo pode botar pra fora seus instintos mais baixos e animais, sem medo de ser preso por violento atentado ao pudor. É como se o Brasil inteiro estivesse dominando pelo PCC, pelo Comando Vermelho, pela milicia e pelo Centrão, tudo ao mesmo tempo, agora.

Ué? Mas já não está?

Tem também as fantasias que fazem o folião ficar irreconhecível para todos, ao menos pros amigos e a família que vão ter que levar o infeliz pai de família, travestido de mulher, em coma alcoólico, para o hospital. A fantasia mais vendida esse ano é a da Primeira-Dama, a Manja, quer dizer, a Janja. Ela é boa pra ser usada por quem quer se meter no meio da fotografia dos outros ou até mesmo por quem deseja ser candidata à Presidência na próxima eleição.

E se você prefere ficar em casa, sempre pode acompanhar o Carnaval no Rio, o Carnaval em São Paulo, o Carnaval baiano e o Carnaval pernambucano. Eu prefiro acompanhar o Carnaval de Brasília, onde é Carnaval o ano inteiro. Políticos mascarados se esbaldam nos blocos de dinheiro sujo que são subvencionados pelo BNDES. E tem ainda as famosas piranhas de Brasília, que têm isenção fiscal bancada pelo Ministério da Pesca.

Nos tempos do bolsonarismo, o Carnaval na capital ficou muito prejudicado porque o ex-futuro presidentiário queria que o desfile das escolas de samba fosse no dia 7 de setembro, com o desfile dos carros alegóricos de combate enferrujados do Exército. Outra coisa que atrapalhou a folia no Detrito Federal foi o aumento da criminalidade: tinha muita gente querendo dar golpes a torto e à direita. Principalmente à direita.

Outras coisas que costumam acontecer no Carnaval são as separações de casal. O/A folião/ã, louco/a para cair na/o gandaia/o arruma uma briga com a/o patroa/o e pede o divórcio para se esbaldar sem culpa. Mas só até a Quarta-Feira de Cinzas, quando tudo volta ao normal.

Eu e a Isaura, a minha patroa, que somos um casal moderno e liberal, já resolvemos essas questões pequeno-burguesas há muito tempo. Seguimos a única lei que pegou no Brasil, a Lei de Muricy: cada um cuida de si e ninguém é de ninguém. Não entendo esses caras que levam a esposa para bloco de Carnaval. Não se pode misturar: ou se é casado ou se faz sexo. Não dá pra misturar. Isaura, a minha patroa, e eu, já na sexta-feira saímos cada um para um lado. Só nos reencontramos na Quarta-feira de Cinzas para disputar quem pegou mais DSTs.

 

Agamenon Mendes Pedreira é a favor da comissão de frente de 20%.

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  1. Obrigada Agamenon, me ajudou a definir onde passar meu Carnaval. Brasília está caro para ir, apesar de ser divertido vou deixar para ficar em casa, visitar alguma farmácia ou ir na feira conferir se algum preço baixou.

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