Foto: Tarcísio Gomes de Freitas via TwitterO governador de São Paulo em Davos: interesse de banqueiros e empresários

Sabesp, a joia no cofre de Tarcísio

Privatização da estatal paulista de saneamento básico tem prazos curtos, um mercado aquecido e um governador que quer vender caro
20.01.23

Depois de três dias andando pelos salões do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o governador de São Paulo Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) disse ter “detectado interesse” de banqueiros e empresários do mundo todo nos ativos a serem privatizados pelo recém-empossado governo. Os investimentos, que nas contas do Palácio dos Bandeirantes podem chegar a R$ 70 bilhões, seriam capitaneados pela Sabesp, a principal companhia de águas e saneamento básico do estado.

Não é difícil entender o porquê do otimismo: mesmo atendendo a pouco mais de metade dos municípios do estado, ela é a empresa com a maior base de clientes concentrados em uma única área em todo o mundo; uma companhia com ações negociadas em duas bolsas, que investe sozinha 30% do setor no Brasil, esperando R$ 26,2 bilhões em aportes nos próximos quatro anos. Parafraseando Genival Lacerda, a Sabesp é uma butique no qual todos estão de olho.

Por isso, a gestão Tarcísio quer correr e acelerar sua venda. “Quero chegar no fim do ano que vem com intenção de fazer uma operação de capitalização. Vamos ver se essa intenção vai se confirmar”, disse à TV Globo, ainda na Suíça. Guarde essa data: no ambicioso prazo de 2024 se escondem preocupações políticas, uma intenção de repetir sucessos federais e 370 negociações distintas aos vencedores da concessão.

Tarcísio, que triunfou em outubro passado sobre Fernando Haddad (PT), não é alheio às privatizações: nos seus anos como ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro, ficaram famosas suas exageradas marretadas nos leilões de ativos como a Cedae, rodovias e os primeiros portos. Uma de suas mais fortes cartadas como ministro, a venda do porto de Santos, ainda será discutida durante o governo Lula.

Em seu primeiro mandato como governador, os ativos são outros — e um mercado aquecido como o do saneamento básico, impulsionado por um marco legal aprovado em 2020, pode empurrar o barco da Sabesp e da Emae, outra empresa menor que atua em energia.

Antes do marco legal a privatização até era possível”, afirma Isadora Cohen, da ICO Consultoria, “mas a operação teria um custo de transação muito mais elevado”. Com um arcabouço legal que incentiva a participação da iniciativa privada na universalização dos serviços.

A equipe do governo responsável pela negociação também tem carreiras que devem levar à sua desestatização: o novo presidente da Sabesp, André Salcedo, tem viés pró-mercado e formação sobre parcerias público-privadas; a secretária responsável pela administração da empresa, Natália Resende, ajudou Tarcísio nas privatizações em Brasília; e o governo do estado agora tem, como no governo federal, o Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) para auxiliar na venda de ativos.

No entanto, muita água há de correr nos canos da companhia até sua venda total. A primeira dúvida é sobre como se dará a venda: Tarcísio defendeu, em entrevistas recentes, a diluição de ações como o modelo “aderente e adequado” para a Sabesp. Hoje, o governo é acionista de 50,3% das ações, uma ligeira maioria da empresa.

A proposta foi adotada com sucesso pela Eletrobras, mas ocorreu em um setor já amadurecido: diretores com experiência, reguladores acostumados ao tema e arcabouço consolidado e amadurecido — tudo o que sobra ao setor elétrico ainda é novo para empresas de água e esgoto.

Mas, se bem-sucedida, uma  inédita diluição de capital para a empresa de saneamento pode até mesmo definir o futuro acionista majoritário da empresa: para fontes no mercado ouvidas pela reportagem, uma venda nesse estilo deve atrair atores financeiros, como fundos de investimento, fundos soberanos e bancos (e a agenda de Tarcísio, em Davos, estava coalhada de reuniões com eles).

Foto: Odair Faria/Flickr ciasabespFoto: Odair Faria/Flickr ciasabespSabesp: 370 cidades têm cláusulas contra privatização
Caso a venda da concessão seja dividida em blocos, companhias do próprio setor de saneamento, como a espanhola Acciona e a brasileira Aegea seriam favoritas, enquanto a canadense BRK, que adquiriu a Odebrecht Ambiental, correria por fora.

Outro complicador: o vencedor terá de negociar individualmente com os 370 municípios que são atendidos atualmente pela empresa. Com cláusulas que permitem o rompimento do contrato em caso de privatização, a venda terá de ser acompanhada de uma costura sensível com líderes municipais e deputados estaduais, influentes em seus redutos. A expectativa é que os acionistas majoritários devem reservar um bônus de outorga, próximo a R$ 15 bilhões, para que municípios-chave garantam a continuidade da concessão à sucessora da estatal.

E isso vale para a principal cidade atendida pela Sabesp — São Paulo, com seus quase 12 milhões de habitantes. O cálculo, neste sentido, é político: Tarcísio tem o alinhamento político com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e uma vitória de outro candidato — como Guilherme Boulos, que se projeta como um nome natural de Lula e do PSOL na cidade — poderia colocar o plano todo em risco.

São Paulo tem um contrato que permite o rompimento dos serviços em caso de privatização e possui, de longe, o maior poder de barganha entre todos os 370 municípios atendidos. Sem a capital, 40% do faturamento da Sabesp ficaria capenga, o que inviabilizaria o negócio.

É uma negociação de continuação com os municípios”, explica Isadora Cohen. “A maior parte vem da cidade de São Paulo — mas o desafio será casar (a privatização) com os cronogramas das prefeituras”. Ela lembra que o principal desafio de Tarcísio é “mostrar ao mercado que a privatização será atrativa”.

O governador parece saber disso, e aposta alto: em discursos recentes, ele disse que espera que as ações da companhia — hoje em cerca de R$ 55 — estejam cotadas a R$ 85 no momento da  venda. Isso dependerá, principalmente, de uma habilidade de vender de Tarcísio. “E ele vai vender caro”, projeta um operador do mercado financeiro.

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  1. Tarcísio é um grande governador e administrador. Se Deus quiser será nosso Presidente em 2026!🇧🇷🇧🇷🇧🇷🇧🇷🙏🙏🙏🙏

  2. Uma luz que se acende, ainda bem que nosso governador é iluminado, embora estejamos falando de saneamento e não de energia! Boa sorte Tarcísio! Viva a Lava Jato!

  3. Tarcísio de Freitas é a junção da técnica com a vontade de fazer. Tem bom caráter e expertise.

  4. Os petralhas faráo de tudo para o insucesso do Tarcísio. Dele e de quem quer que se atreva a alçar voos por mérito próprio. Mas Tarcísio, Zema e outros poucos são as nossas chances para 26. A Tarefa, hercúlea, que se nos apresenta é tirar do poder essa organização criminosa que hoje assusta e envergonha a todos.

  5. Até que enfim um assunto de interesse, muito informativo, sem nenhum viés politico, destacando quem merece. Precisamos mais Tarcisios, mas que se prepare, a medida que triunfa e mais se destaca vem muito golpe baixo contra ele dos comunistoides de mentira de sempre . Parabens ao jornalista e que não se deixe levar aí na turma da Crusoé, não vai ser fácil.

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