Divulgação"O estado do Líbano foi feito refém por uma organização terrorista"

Uma nova ordem no Oriente

Responsável por estreitar os laços entre Brasília e Jerusalém, o embaixador israelense Yossi Shelley aposta alto na relação com Jair Bolsonaro e diz que os palestinos não determinam mais a agenda árabe
25.09.20

Um tanto avesso à tradição das discretas conversas de bastidores, o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, é um dos diplomatas mais ativos hoje em Brasília. O livre-trânsito com o presidente Jair Bolsonaro, ministros, deputados, senadores e governadores já o colocou na ribalta em diversas oportunidades. Shelley é um personagem assíduo nas redes sociais, as quais ele atualiza com frequência. Prestes a completar 63 anos, o diplomata já publicou fotos com Bolsonaro em estádios de futebol, na Marcha para Jesus em São Paulo e, recentemente, nas comemorações do Dia da Independência no Palácio da Alvorada.

A boa relação entre Brasil e Israel, diz ele, já rendeu diversas parcerias. No início do ano passado, o embaixador foi um dos que articularam o envio de uma equipe de socorristas israelenses para ajudar a resgatar vítimas do rompimento de uma barragem em Brumadinho, Minas Gerais. Meses depois, a embaixada de Shelley colaborou com o envio de produtos químicos para conter o fogo na Amazônia.

Nos últimos dias, desde a capital brasileira, o diplomata comemorou o anúncio da assinatura dos Acordos de Abraão, como foi batizado o resultado das negociações de paz entre Israel, Bahrein e os Emirados Árabes, mediadas pelos Estados Unidos. “Estamos presenciando uma mudança de paradigmas, em que os palestinos não controlam mais a agenda bilateral e multilateral dos países árabes em relação a Israel”, diz ele nesta entrevista a Crusoé. Perguntado se a aproximação entre israelenses e árabes poderia retirar obstáculos à transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, Shelley disse que é tudo uma questão de tempo. “Essa decisão já foi anunciada. Agora é uma questão de acertar o cronograma”, afirma o embaixador.

O que os acordos de paz com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, assinados recentemente na Casa Branca, representam para a história de Israel?
Esses dois acordos são um exemplo da nova realidade que está surgindo no Oriente Médio. A linha divisória não passa mais entre Israel e o mundo árabe, mas entre os países moderados, de um lado, e os extremistas liderados pelo Irã e as organizações terroristas, de outro. A conexão que existe entre os países moderados e, especialmente, a conexão entre Israel e esses países fortalece a estabilidade no Oriente Médio e a segurança em toda aquela região. Estamos presenciando uma mudança de paradigmas, em que os palestinos não controlam mais a agenda bilateral e multilateral dos países árabes em relação a Israel. Nesta época de turbulência econômica e de dificuldades, os países árabes podem lucrar com a tecnologia e inovação israelenses. Por isso, eles não desejam mais esperar que os palestinos concordem com os mesmos termos que eles se recusaram a aceitar por mais de três décadas.

Pedro Ladeira/FolhapressPedro Ladeira/Folhapress“O novo acordo poderá encerrar o conflito árabe-israelense”
Na prática, quais serão os efeitos desse acordo para o Oriente Médio?
A aproximação com os países árabes trará não apenas a paz, mas o desenvolvimento de toda a região. Além de abrir embaixadas, os três países estabelecerão laços econômicos, que incluirão os setores de turismo, de tecnologia e de energia. Israel e os Emirados estão iniciando viagens aéreas comerciais pela primeira vez. O Bahrein abriu seu espaço aéreo para esses voos. A tecnologia e a capacidade produtiva israelense foram reconhecidas por esses países, que estão ansiosos por estabelecer parcerias. Com o passar do tempo, outras nações se juntarão a esse acordo em nome de uma época de paz e prosperidade para todos. Em última análise, isso poderá encerrar o conflito árabe-israelense de uma vez por todas. Essa é a nossa esperança.

A mudança da embaixada brasileira para Jerusalém foi adiada por medo de irritar alguns países árabes. Com algumas dessas nações se aproximando de Israel, diminuem os obstáculos para que o Brasil cumpra o prometido?
Não há ligação entre essas duas questões. Um exemplo relevante é a decisão de Kosovo e da Sérvia de abrir embaixadas em Jerusalém. Essas decisões ocorreram sem qualquer relação com os recentes acontecimentos no Oriente Médio. Cabe inteiramente ao governo brasileiro tomar a decisão. Mais especificamente, é importante destacar que essa decisão já foi anunciada. Agora é uma questão de acertar o cronograma.

A relação entre Israel e Brasil ainda pode melhorar?
Desde que o atual governo assumiu, essa relação tem se fortalecido. As parcerias e acordos bilaterais estão se multiplicando em diversos setores, como os de saneamento, tecnologia, segurança pública e agricultura. Tenho viajado por vários estados com o objetivo de ampliar essa cooperação em benefício de ambos os países. O Brasil passou a apoiar Israel em votações na ONU e adotou uma postura equilibrada em relação ao Oriente Médio. O atual governo brasileiro reconhece a verdade histórica e busca ter boas relações com todos os países. O Brasil tem um enorme potencial no seu setor produtivo e agrícola. Com as tecnologias israelenses, poderá ampliar ainda mais a sua produção e garantir uma vida melhor para seus cidadãos.

Nas manifestações a favor do presidente Bolsonaro, é possível ver muitas bandeiras de Israel. O antissemitismo no Brasil também diminuiu?
Muitos brasileiros apoiam Israel. Eles querem que as relações entre os dois países sejam fortalecidas. Acreditamos que o uso de bandeiras israelenses mostra um apoio à política que Bolsonaro está conduzindo para estreitar os laços com Israel. É claro que condenamos qualquer ação antissemita.

DivulgaçãoDivulgação“O Hezbollah tem como alvo cidadãos em todo o mundo”
O que a explosão no porto de Beirute, no início de agosto, revela sobre a atuação do grupo terrorista Hezbollah no Líbano?
É uma tragédia horrível e triste, que mostra o perigo de se armazenar explosivos e munições em áreas próximas à população civil, algo que o Hezbollah faz rotineiramente. O Hezbollah coloca os moradores libaneses em perigo e os usa como escudos humanos.

Libaneses e israelenses são a favor de um acordo entre os dois países?
O estado do Líbano foi feito refém por uma organização terrorista que serve aos interesses de outro estado e prejudica toda a população libanesa diariamente. Apelamos à comunidade internacional para ajudar o Líbano a escapar do Hezbollah e dos enviados do Irã. Somente com essa mudança será possível promover a paz entre Israel e o Líbano.

O Brasil deveria reconhecer o Hezbollah como grupo terrorista?
O Hezbollah é uma organização terrorista que faz uso da violência no Oriente Médio, na Europa e na América Latina, como vimos nos dois atentados terroristas na Argentina (em 1992 e 1994). Não há diferença entre o braço político do Hezbollah e o braço militar do grupo. Ambos servem ao governo terrorista de Teerã. Todos os países líderes tomaram medidas nesse sentido. O Hezbollah é considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, Europa, Austrália, Canadá, Argentina e Paraguai, para citar apenas alguns. Como outras organizações terroristas, o Hezbollah tem como alvo cidadãos e estados em todo o mundo e sustenta sua atividade por meio de atividades criminosas e ilícitas, representando uma ameaça à vida e à ordem pública.

Como tem sido a aproximação de Israel com o governo da Bolívia, atualmente presidido por Jeanine Añez? O fato de as relações terem sido cortadas em 2009, quando o presidente era Evo Morales, prejudicou alguma coisa?
A infeliz decisão do governo boliviano de cortar as relações diplomáticas com Israel em 2009 foi tomada devido à influência do governo iraniano. Ficamos muito felizes em ver que, assim que mudou o governo, os laços diplomáticos entre os países foram renovados. Israel não tem conflitos com a Bolívia e existe uma forte amizade entre o povo israelense e o povo boliviano. Desde a renovação dos laços, temos procurado formas de fortalecer as relações entre os dois países em benefício dos dois povos.

O Mercosul fez um acordo comercial com Israel em 2010. Que impacto esse acordo teve nesses dez anos?
O comércio aumentou consideravelmente, mas não como esperávamos. É fundamental atualizar constantemente as listas de produtos e incluir os avanços tecnológicos que foram introduzidos no mercado.

Há mais negociações comerciais em curso?
Estamos sempre procurando aumentar nosso volume de comércio mútuo.

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  1. É AGORA OU NUNCA! LÍDERES ÁRABES JÁ COMEÇARAM A ABRIR EMBAIXADA/ RELAÇÕES ISRAEL. OU BR FAZ UM MESMO OU PERDE A BOIADA DE BENEZES CO EUA!

  2. O comércio abre portas e estende as mãos!!! Nada mais positivo para a humanidade do que os povos em paz com livre troca de mercadorias e ideias

  3. Como dizia minha mãe quando eu era criança e ia brincar na rua. " meu filho ande com pessoas iguais ou melhores que você e nunca pior" Sábias palavras de uma senhora que trabalhou a vida inteira.

    1. Essa aproximação do povo de Deus com os povos da Terra semeiam Paz e Concórdia !!

    2. ??? Seu comentário não faz sentido algum. Acho que você não entendeu a matéria.

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